Livro: Caubói do Inferno: Vida e Morte de Dimebag Darrell, de Zac Crain (2020, Estética Torta)

Dimebag Darrell foi um dos mais inovadores, criativos e influentes guitarristas da história, e conseguiu com sua técnica e inventividade romper os limites do metal. Sua morte trágica, assassinado por um fã em pleno palco em 8 de dezembro de 2004, elevou ainda mais o status de mito do músico texano. E é justamente toda essa trajetória que o livro Caubói do Inferno: Vida e Morte de Dimebag Darrell conta.

Publicado no Brasil em uma bela edição em capa dura pela editora Estética Torta (328 páginas, com galeria de fotos na parte central), a obra foi escrita pelo jornalista Zac Crain e cobre a história de Darrell Lance Abbott, desde o nascimento em agosto de 1966 até o trágico fim. Crain se dedica muito a detalhar diversos aspectos da vida do guitarrista, principalmente sua vida pessoal, algo que não é muito comentado pela imprensa de modo geral. A relação com os pais e com o irmão, além dos colegas de banda e fãs, traz alguns dos melhores momentos da obra. O texto é bastante dinâmico e possui ótimo ritmo, o que torna a leitura bastante ágil.

Tendo como principais influências Kiss, Van Halen e ZZ Top, Dimebag criou um estilo único de tocar guitarra, e que não surgiu da noite para o dia. A própria existência dos quatro álbuns iniciais do Pantera, renegados até hoje pela banda, é uma uma das provas mais contundentes disso, com o grupo vagando por anos em uma indefinição sonora que só foi efetivamente superada a partir da chegada do vocalista Phil Anselmo. O fato é que o Pantera, cujo som sempre teve como elemento principal os riffs de Dimebag e o groove onipresente da cozinha formada por Rex Brown e Vinnie Paul, moldou o metal a partir dos anos 1990. A trilogia Cowboys From Hell (1990), Vulgar Display of Power (1992) e Far Beyond Driven (1994) mostrou uma nova maneira de fazer metal e virou de cabeça para baixo a cena na época, em um período em que o Metallica suavizava a sua música e conquistava o mundo com o multiplatinado Black Album (1991) e o eixo do metal mudava de curso e percebia bandas de fora dos principais centros, como o Sepultura. O Pantera e Dimebag, que sempre se orgulharam de ser uma banda de heavy metal e nunca renegaram o gênero, foram o ponto central do estilo nos anos 1990.

Há aspectos como as inúmeras festas e a energia infinita de Dimebag, sempre pronto para virar shots e shots com fãs, amigos, músicos, jornalistas e quem mais estivesse por perto. Crain não se furta também de comentar os problemas com álcool de Dime, bastante conhecidos nos bastidores e que acabaram alterando o visual do guitarrista, cujo corpo absorveu os excessos ao longo dos anos.

Não há um detalhamento maior sobre os motivos que levaram ao fim do Pantera, e eu entendo isso pelo fato de o livro focar na vida de Dimebag, ainda que a trajetória do guitarrista seja a própria trajetória de sua banda. Porém, no outro lado da moeda, há um enorme espaço dedicado ao fatídico dia 8 de dezembro de 2004, quanto Dimebag foi assassinado por Nathan Gale com três tiros em pleno palco do Alrosa Villa, casa de shows localizada em Columbus, Ohio. Crain reconstrói passo a passo o que Gale fez naquela noite, e fica claro que, caso não fosse morto pelo policial que o abateu, a tragédia teria sido ainda maior do que as três mortes que causou. É um trecho bastante pesado, mas que detalha muito bem o que ocorreu em Ohio.

A edição da Estética Torta é muito bonita, com um belo acabamento gráfico e editorial, e, apesar de trazer alguns pequenos erros de revisão, eles não comprometem a leitura.

Caubói do Inferno é um excelente livro e um grande tributo a um dos maiores e mais influentes guitarristas da história do metal. Dimebag Darrell e o Pantera seguem fazendo falta (apesar da postura e declarações totalmente equivocadas de Phil Anselmo nos últimos anos), e a leitura deste livro só mostra o quanto a sua ausência ainda é sentida.

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