Produzir conteúdo sobre heavy metal no Brasil não é das tarefas mais fáceis. Acima de tudo, é preciso paixão. É isso que moverá seus dias. Dinheiro? Pouco, e de forma esporádica. E a razão para isso passa por vários fatores.
Primeiro, e obviamente, o público de metal em nosso país, apesar de grande, não sustenta uma mídia especializada e autossustentável. Você pode tirar essa dúvida tanto com jornalistas de mídia impressa quanto online, com donos de selos e gravadoras, com produtores de conteúdo, com promotores de shows, managers de bandas e os próprios músicos. A paixão é imensa, mas a receita que ela gera é limitada.
Outro ponto está no próprio perfil do público. Há uma divisão em nosso país, e ela não está apenas no espectro político. O perfil do público brasileiro consumidor de metal é extremamente conservador, no sentido de se apegar de forma demasiada às bandas do passado (e, principalmente, aos discos do passado, ignorando a produção atual de gigantes do gênero) e ignorar os novos nomes – que de "novos" não tem nada, pois algumas bandas enquadradas nesse rótulo por esse público já superaram as duas décadas de estrada, como é o caso do Slipknot. Outra questão é a aversão total e irrestrita a todo e qualquer sinal de inovação, como se caminhar para frente e evoluir fosse algo ruim. Convenhamos que, apesar de ótima, a NWOBHM aconteceu há mais de quarenta anos e muitos movimentos tão interessantes quanto surgiram nas décadas seguintes.
A divisão do público tem outro lado, que é justamente o oposto desse hedbanger velho, gordo, careca e que não abre mão por nada de seu colete jeans cheio de patches. A nova geração de ouvintes do gênero, ainda que reconheça a importância de nomes históricos, cresce cada vez mais e é capaz de sustentar um parcela do mercado sozinha, como ficou claro durante as duas edições do finado Maximus Festival, por exemplo, que trouxe um cast formado por nomes atuais como Black Stone Cherry, Bullet For My Valentine, Halestorm, Disturbed e outros e atraiu um enorme público. Ainda que consuma música de forma predominantemente distinta do metalhead ortodoxo, abrindo mão da mídia física e tendo outros canais como fonte primária, é um público com um inegável e pouco explorado potencial, tanto por parte dos selos quanto da própria mídia focado no metal.
Há outro ponto crucial nessa história que é a disputa (às vezes, mas nem sempre) velada e sem sentido entre diferentes meios de comunicação da chamada "mídia metal". Já fiz inúmeras críticas à única revista brasileira focada em metal, por exemplo, e ainda que não a leia há vários anos, reconheço a sua importância para o cenário e desejo que ela siga sendo publicada. No entanto, a queimação de filme entre veículos “concorrentes” segue, com jornalistas falando mal de sites que não são os seus em troca de, sei lá, credenciais para shows e uns promos a mais por parte das gravadoras – que quase não enviam mais promos, só pra deixar bem claro, afinal há anos é possível ouvir tudo online.
Vejo uma mudança nessa atitude principalmente no YouTube, onde a comunidade de canais sobre metal é mais unida que o restante da cena. Mesmo com críticos musicais jurássicos agregando seguidores com suas polêmicas vazias - e vocês sabem de qual adolescente cinquentenário estou falando -, o companheirismo entre produtores de conteúdo em vídeo é bem mais presente do que nas mídias online e, notadamente, na mídia impressa. E aqui entra outro ponto: na prática, pelo menos para a Collectors Room, é do YouTube que vem a receita que sustenta o site. Por mais que o site da Collectors esteja no ar desde 2008, o canal da CR arrecadou mais do que a receita acumulada todos esses anos pelo site em um período curtíssimo, entre três e quatro meses. E estamos falando de um site que possui uma média de 3 mil acessos diários, o que, para o nicho de metal no Brasil, é um número ótimo – acreditem.
É claro que eu amo escrever sobre música e jamais irei parar de fazer isso. Faz parte da forma como me relaciono com a música colocar essas emoções em palavras. Porém, sendo bem sincero, o foco está muito mais em produzir material em vídeo porque é ele que me entrega um retorno financeiro – e, ainda que esse valor não seja suficiente para viver apenas dele, ajuda muito a pagar as contas no fim do mês, principalmente com a crise que vivemos e que parece não ter fim.
Tudo isso pra dizer que produzir material sobre metal no Brasil é ótimo, mas o principal combustível para isso é a paixão. Quem espera um retorno diferente terá apenas decepção. Já estou nessa cena há quase vinte anos e conheço seus benefícios e malefícios, e, para mim, o saldo positivo segue sendo muito maior do que as frustrações que volta e meia encontro pelo caminho.
Obrigado por ler, assistir, seguir e acompanhar a Collectors Room. Em todas as suas formas, ela só deixará de existir quando eu não estiver mais por aqui. E isso ainda está longe de acontecer, afinal serei um senhor de 70 anos ainda escrevendo e falando com grande paixão do meu amor pela música e da minha paixão pelos discos.
Obrigado pela dedicação, Ricardo. Feliz Páscoa!
ResponderExcluirParabéns pela perseverança Ricardo. Te acompanho faz mais de 10 anos e contínuo curtindo, e tendo como referência, seus textos e, agora também, seus vídeos. Muito obrigado por toda sua dedicação e por nos brindar com excelentes materiais. Gratidão por isso.
ResponderExcluirParabéns pela dedicação Ricardo,obrigado por me apresentado a várias bandas novas nesses ,acho que uns 15 anos que acesso a Collectors
ResponderExcluirAnálise perfeita. Na pinta.
ResponderExcluirNão tenho a menor paciência para esse saudosismo "doentio" que muitos possuem na música, cinema, Hqs, esporte etc. Tem coisa boa sendo produzida em todas as décadas.
ResponderExcluirTomara que continue produzindo conteúdo escrito. Gosto dos dois formatos, mas entendo que é importante gerar receita.
Abraços e força.
Quem acompanha o mundo musical com amor, nunca deixará de seguir as novidades e produzir matérias com frequência.
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