Review: Angra – Angels Cry 30 Years Special Collector’s Edition (2021)


Angels Cry
é um dos discos mais emblemáticos e importantes do heavy metal brasileiro. E toda essa história está sendo comemorada com uma edição especial de 30 anos – do Angra, não do disco. A banda foi formada em São Paulo em 1991 e lançou sua estreia dois anos depois. Angels Cry chegou às lojas em 3 de novembro de 1993 e mostrou que o quinteto, ao lado do Sepultura, era um representante exemplar de como o metal brasileiro tinha qualidade para conquistar fãs em todo o planeta.

Em termos históricos, o primeiro álbum do Angra é, sem dúvida, o mais importantes e influente disco de power metal lançado no Brasil. Agregando influências nativas da ex-banda do vocalista Andre Matos (o Viper), dos estudos acadêmicos em música erudita e brasileira de Andre e do guitarrista Rafael Bittencourt e elementos que remetiam e bebiam de forma direta na escola do power metal alemão do Helloween, Angels Cry equilibra técnica, virtuosismo, melodia e acessibilidade em uma sonoridade cativante, que permanece forte e vibrante quase três décadas depois.

O disco foi gravado na Alemanha com produção de Charlie Bauerfeind e Sascha Paeth. O processo foi extenuante para todos os músicos, que foram expostos a um método e a uma ética de trabalho bastante diferentes das gravações realizadas no Brasil na época. A principal consequência desse processo, além da qualidade evidente do álbum, foi a troca do baterista Marcos Antunes por exigência dos produtores, que não o consideravam apto para executar as intrincadas linhas de bateria exigidas pelas composições. Alex Holzwarth, que mais tarde faria parte do Rhapsody e do Avantasia, tocou o instrumento no disco, enquanto Ricardo Confessori foi o baterista escolhido pela banda para substituir Antunes. Completam a formação o guitarrista Kiko Loureiro e o baixista Luis Mariutti.

A abertura, com um trecho da “Sinfonia No. 8” de Franz Schubert conhecido como “Unfinished Symphony”, já deixa clara a intenção do quinteto em unir o metal à música erudita. Outros exemplos desse propósito podem ser ouvidos na faixa que batiza o disco, que traz uma citação a “Caprice No. 24” de Niccolò Paganini no solo das guitarras, e em “Evil Warning”, que contém uma breve passagem de “Winter”, do compositor italiano Antonio Lucio Vivaldi. Há ainda uma adaptação de “Variations Sérieuses Op. 54”, do compositor alemão Felix Mendelssohn, na abertura de “Lasting Child”, com Andre sozinho ao piano. Já as influências de música brasileira são sentidas em todo o disco, seja nos arranjos ou em passagens como a abertura de “Never Understand”, em que a banda faz uma releitura de “Asa Branca”, de Luiz Gonzaga.

A clássica “Carry On” vem na sequência e é claramente influenciada pelo Helloween, mais especificamente por “Eagle Fly Free”. Isso fica claro prestando atenção na estrutura da música, que é idêntica à composição dos alemães, inclusive com o trecho central reservado para cada um dos músicos brilhar individualmente. Um dos maiores hinos que o metal brasileiro já produziu, sem dúvida alguma.

O tracklist é repleto de canções que se tornaram clássicas ao longo dos anos como “Time”, a arrepiante balada “Stand Away” e as já citadas “Angels Cry” e “Evil Warning”. Merece menção também a versão para “Wuthering Heights”, de Kate Bush, onde Andre Matos eterniza o seu registro vocal único em uma gravação antológica e que supera a original.

A edição especial em CD que está sendo lançada pelo Angra comemorando os seus trinta anos vem com um novo projeto gráfico que inclui uma embalagem slipcase, um pôster com a capa do disco, obi e um novo encarte bastante diferente do anterior. Além disso, inclui três faixas bônus: “Evil Warning” com vocais ligeiramente diferentes e versões remixadas de “Angels Cry” e “Carry On”, que já haviam saído em edições anteriores do álbum. Essa reedição dá início ao relançamento de toda a discografia do Angra, com todos os álbuns ganhando novas edições nos mesmos moldes. E um fato bastante saudável desse relançamento é que ele dá fim à especulação que envolvia o disco de estreia do grupo, cuja demanda cresceu muito após a morte prematura de Andre Matos e estava sendo anunciado a valores exorbitantes em sites de vendas. Existe também uma nova versão em LP, mas não tive acesso a ela para avaliar com detalhes.

Angels Cry é um clássico incontestável. Um trabalho especial que deu início a uma carreira cheia de ótimos álbuns e que transformou o Angra na grande banda do metal brasileiro (ao lado do Sepultura, é claro), com influência não só sobre a cena local mas também em todo o mundo.

Ter esse disco na coleção é quase um dever cívico e um compromisso histórico para quem é fã de heavy metal.


Comentários

  1. Não supera a original de maneira alguma. Inclusive é o único defeito do disco o cover.

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  2. disco fundamental para o metal nacional e para o power metal melodico internacional, dos melhores do genero com certeza, aqui relançado com ótima remasterização que deu frescor e punch ao som original, excelente trabalho e que venham logo os próximos

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  3. A prensagem do meu apresentou problemas. As duas primeiras faixas apresentam ruídos bastante altos durante toda a execução. As faixas seguintes apresentam ruídos mais discretos, mas perceptíveis. Desconfio que a prensagem não possui a mesma qualidade que o original e lotes inteiros podem estar danificados.

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