Review: Gojira – Fortitude (2021)


O Gojira chega ao seu sétimo álbum fazendo o que sempre fez: olhando para frente e buscando sempre a evolução. Após cinco longos anos de silêncio, onde a banda francesa passou pelo luto da perda da mãe dos irmãos Duplantier, o quarteto retorna para dar fim ao maior intervalo entre seus discos. 
Produzido pelo próprio Joe Duplantier (vocal e guitarra), que também criou a bela capa, Fortitude foi mixado por Andy Wallace, uma lenda na cena metal e que já assinou trabalhos de nomes como Slayer, Sepultura, Ghost e mais um caminhão de bandas.

Fortitude soa mais enxuto que os trabalhos anteriores, e mostra uma banda que claramente buscou aparar alguns aspectos de sua sonoridade, porém sendo inteligente o suficiente para não abrir mão da eficiência de sua música. Isso fica claro em canções como “Born For One Thing”, “Amazonia” e “Hold On”. Sai o metal com elementos prog, death e post-metal, e em seu lugar emerge um heavy metal contemporâneo que mantém a alta dose de groove, mas com uma abordagem mais imediata. As variações seguem presentes, com alternâncias bem-vindas e bem encaixadas nas faixas que proporcionam mudanças de dinâmica excelentes como a que ouvimos em “Another World”, porém sem as passagens instrumentais mais longas e intrincadas deo passado. A banda também segue variando os vocais, com canções onde o gutural dá as caras e outras em que o timbre limpo de Joe é o destaque.

Percebe-se uma clara influência do metal dos anos 1990, principalmente de nomes como Sepultura, Pantera e Machine Head, em doses variadas durante todo o disco. “Amazonia”, com seu clima e batidas tribais, remete ao trabalho do Sepultura em álbuns como Chaos A.D. (1993) e Roots (1996), enquanto o legado de Dimebag Darrell se junta às guitarras características de Joe Duplantier e Christian Andreu em “New Found”. A banda consegue unir elementos de diferentes épocas da história do metal, e até mesmo de estilos controversos como o nu metal, na construção de uma identidade única e que há anos já ocupa um merecido destaque entre os fãs de música pesada.

Entre as composições, é preciso destacar “Born For One Thing”, “Amazonia”, “Another World”, “Hold On” (que inicia com vocais etéreos muito bonitos) e “New Found”. A instrumental “Fortitude”, que me fez lembrar das canções instrumentais que o Soulfly inclui em seus discos e possuem o mesmo nome da banda, introduz “The Chant”, uma das faixas mais experimentais do álbum e que traz até uma certa influência grunge, onde vocais atmosféricos conduzem o ouvinte por uma canção que funciona como uma espécie de transição entre o início e a parte final do disco.

“Sphinx” inicia o segundo segmento de Fortitude com um dos melhores momentos do álbum e conversa com o passado do grupo. “Into the Storm” derrama baldes de groove e traz influências de djent, além de uma grande performance do baterista Mario Duplantier e do baixista Jean-Michel Labadie. O quarteto caminha novamente pela esfera mais experimental de sua música em “The Trials”, que apresenta um surpreendente clima post-punk que se mescla aos sutis elementos de nu metal presentes no arranjo. O fechamento, com “Grind”, é um arregaço de puro “metal Gojira”, com a marcante abordagem de guitarra que sempre caracterizou o som da banda e um fenomenal trabalho percussivo.

Fortitude é outro grande momento na discografia deste quarteto francês, que entregou mais um álbum excepcional e está pronto para conquistar uma legião ainda maior de fãs.

Como cereja do bolo, é preciso mencionar o surpreendente lançamento nacional pela Roadrunner Records e Warner Music, ainda que em uma tiragem de apenas 500 cópias. Em tempos onde novos discos de diversas bandas grandes não ganharam edições brasileiras, é algo a se comemorar. Corra e compre já o seu!


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