Que Ronnie James Dio foi um dos grandes vocalistas da história, todo mundo com um par de ouvidos sabe. Mas Ronnie também era um ótimo contador de histórias, e é essa característica que torna sua autobiografia tão incrível.
Publicada no Brasil pela editora Estética Torta em uma edição em capa dura com 324 páginas, acabamento de luxo e pintura trilateral vermelha, a obra é uma verdadeira aula sobre a história de Dio, da música, dos parceiros e da vida de uma das maiores lendas do rock. O cantor começou a escrever o livro na segunda metade da década de 2000, mas a morte em 2010 vítima de câncer deixou a obra inacabada, com Ronnie contando a sua trajetória apenas até meados dos anos 1980, mais especificamente até a turnê do álbum Sacred Heart (1985). Isso, no entanto, não diminui em nada o poder e a magia do relato que chega até os leitores.
Iniciando na infância pobre em uma cidade nos arredores de Nova York, passando pela descoberta do amor pela música de uma maneira totalmente inesperada, a criação das primeiras bandas, as aventuras e travessuras juvenis, as conquistas e as perdas pelo caminho e tudo mais, Dio abre as páginas de sua passagem por esse mundo com uma transparência enorme. O texto é cheio de paixão e de intensidade, como era de se esperar. Há momentos chocantes como a morte do amigo e companheiro de banda Nick Pantas em um acidente de trânsito que custou 53 pontos na cabeça de Dio, mas também histórias que beiram o conto de fadas como a aproximação com o Deep Purple, mais especificamente com Roger Glover e Jon Lord, quando o baixista acabou se tornando o produtor do Elf e deu início à estrada que levaria Ronnie até o Rainbow de Ritchie Blackmore.
A primeira metade do livro é dedicada quase que exclusivamente ao início de carreira, passando por diversas bandas até a afirmação no Elf. São muitas histórias fascinantes e pouco conhecidas aqui no Brasil, onde a literatura sobre o vocalista sempre foi escassa. Já a segunda parte foca no período em que Dio começou a se transformar em uma força da natureza e conquistou o mundo como frontman do Rainbow, do Black Sabbath e de sua própria banda. A relação com Ritchie Blackmore – “um músico genial e um ser humano genioso”, nas palavras do vocalista – é esmiuçada, com direito a visão privilegiada de quem presenciou uma banda ser construída do nada pelo guitarrista do Deep Purple e se transformar em um dos nomes mais influentes do hard e do metal.
O casamento com Wendy, em 1978, também é destaque, com Ronnie ganhando uma companheira de vida e uma empresária feroz, que não ficava devendo nada a então iniciante Sharon Osborne. Essa segunda metade do livro conta com diversos relatos da própria Wendy, escritos em parceira com o jornalista Mick Wall (um dos mais conhecidos biógrafos do rock), que trazem pontos de vista complementares para diversas situações contadas por Dio, artifício que deixa a leitura ainda mais interessante.
O choque com a saída do Rainbow, a necessidade de reconstruir tudo e a incerteza do que o futuro guardava mostram um Dio sem saber muito bem o que fazer, até encontrar Tony Iommi pelo caminho e os dois reerguerem um destroçado Black Sabbath das cinzas após a expulsão de Ozzy e comporem juntos um dos grandes clássicos da história do metal, o fenomenal Heaven and Hell (1980). Ronnie não se furta de reconhecer o quanto a sua parceria com Tony – e mais tarde Geezer Butler – foi importante para a sua vida, mas também não esconde como os problemas que sempre acompanharam o Sabbath, devidamente intensificados pelo vício pesado de Iommi em cocaína na época, acabaram levando a parceria ao fim rapidamente.
Um dos trechos mais legais do livro acontece quanto Dio decide montar a sua própria banda e ser dono do seu destino após as decepções com Ritchie Blackmore e Tony Iommi no Rainbow e no Black Sabbath. A busca pelos músicos, que gerou o clássico line-up que gravou o imortal Holy Diver (1983) ao lado do iniciante Vivian Campbell, do colega dos tempos de Rainbow Jimmy Bain e do amigo e parceiro do Black Sabbath Vinny Appice, é contada em detalhes, bem como o processo de composição e gravação dos três primeiros álbuns do Dio – Holy Diver, The Last in Line (1984) e Sacred Heart (1985).
A história de Ronnie James Dio é uma história de resiliência, determinação, foco e amor profundo pela música. Ronnie chegou onde chegou porque tinha talento, é claro, mas também porque sempre soube onde queria estar e trabalhou de forma dura para conquistar seus objetivos. Sua autobiografia proporciona uma espetacular leitura para os fãs e também um ensinamento importante sobre a vida, com poder para inspirar pessoas nas mais variadas situações.
A edição da Estética Torta é muito bonita e traz o apuro gráfico já tradicional da editora. A capa possui revestimento em prolan fosco, guarda com uma belíssima imagem de Dio e um trabalho editorial primoroso, que conta com tradução de André Capilé, revisão de Jaqueline Kamashiro e diagramação de Leandro Camaratta. Não há crítica alguma à tradução e à revisão, apenas elogios merecidos para um livro excelente e com uma qualidade incrível, que ganha ainda mais pontos por ter sido publicado no Brasil apenas dois meses após o seu lançamento nos Estados Unidos.
Rainbow in the Dark: A Autobiografia de Ronnie James Dio é um livro ótimo que proporciona um excelente ritmo de leitura e cativa da primeira à última página.
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Eu queria comprar esse livro, mais devido as outras prioridades de livros, nao comprei. Espeo um dia acha-lo num bom preco e ou ate mesmo usado, so pra ler.
ResponderExcluiro livro é fraco e pouco franco, encobrindo muitos "podres" da vida e carreira dele como, inclusive, muito se fez com ele em vida pela imprensa, extremamente condescendente, bem como por ele e seu staff, diga-se Wendy.
ResponderExcluircomo a obra cobre o período até 1985, não pode ser contada sua versão da separação entre ele e Wendy logo depois, uma das maiores balelas do rock, sempre propagada pela imprensa e por ela como a "eterna" companheira e amor da vida dele o que, na verdade, se tornou apenas sua empresária a partir da segunda metade dos 80s.
o maior pecado do livro é simplesmente omitir seu primeiro casamento e o filho que ele adotou com a primeira esposa, e que muito pouco ele conviveu e não trouxe para sua vida com o decorrer dos anos, um nítido exemplo de "passada de pano" pra não "sujar" sua bela imagem diante dos fãs e imprensa.
além disso, a todo momento, vemos um enorme esforço para o "endeusamento" do artista e suas práticas, como se fosse um verdadeiro baluarte ou paladino da integridade musical em sua obra, sem nunca ter pensado na questão comercial o que, apenas dando uma rápida audição em suas maiores obras solo, os ótimos "holy diver" e "last in line", vemos que o segundo é uma clara e indefectível tentativa de espelhar o primeiro, até na sequencia e estilo das músicas, pelo primeiro ter sido seu grande sucesso comercial solo, é só ver, stand up.../we rock, rainbow.../mystery, e por aí vai...
resumindo, acho que nossos ídolos, principalmente quando já tem suas carreiras consolidadas, não precisam mais ficar presos às amarras que os controlavam, comercialmente e, principalmente, pessoalmente, no transcorrer de suas carreiras devendo, em minha humilde opinião, revelar ao mundo e deixar como legado, além de suas obras, a história de suas trajetórias de forma sincera e irrestrita. dio sempre foi muito cantado em verso e prosa como o cavalheiro, o educado, o improbo, o integro quando, na verdade, teve muitos percalços e graves falhas como, por exemplo, questões de dinheiro com seus musicos (viram como a partir de um certo momento apenas musicos de segunda categoria topavam tocar com ele, até o fiel escudeiro vinny appice o deserdou por anos), tratamento com as pessoas (inclusive Wendy conta apenas uma dessas histórias no livro de forma bem branda, diga-se) além de muita dificuldade de convivência com opiniões contrárias a sua, comprovada pela forma que deixou alguns de seus projetos o que, de forma alguma, queira dizer que não tinha todos os atributos que lhe foram imputados que, com certeza absoluta tinha, apenas não precisava e continua não precisando, pela magnitude e grandiosidade de sua linda carreira, de tais mentiras ou omissões sendo repetidamente propagadas pelo decorrer dos anos, se tornando "meias verdades".
descanse em paz grande Ronnie, você e seu enorme talento jamais serão esquecidos...
ah, indico a leitura do outro livro sobre sua carreira, anteriormente lançado no Brasil também pela estetica torta, bem mais esclarecedor e revelador, à despeito de muito curto e consequentemente incompleto: "Ronnie James Dio: A História de um Ícone do Heavy Metal" de James Curl.