Review: Adele – 30 (2021)


Adele é única. Com apenas três discos na carreira, colocou dois deles como os álbuns mais vendidos do século XXI: 21 (2011) com 31 milhões de cópias e 25 (2015) com 22 milhões. Ao todo, a inglesa já superou a marca de 120 milhões de álbuns vendidos, e com um detalhe: seu primeiro disco foi lançado apenas em 2008. Por todo esse contexto, a expectativa em torno de 30, primeiro trabalho de Adele em seis anos, foi altíssima. E não só entre os fãs, mas também na indústria, que direcionou uma enorme quantidade de esforços para a produção de cópias em vinil do novo álbum, em um momento em que a matéria prima necessária para isso passa por um momento crítico. Traduzindo: o novo álbum de Adele atrasará novas edições em LP de milhares de títulos. Deu pra entender o tamanho da cantora na indústria?

30 foi lançado em 19/11 e teve a sua produção assinada pelo sexteto Shawn Everett, Ludwig Göransson, Inflo, Greg Kustin, Max Martin e Shellback. No total são doze músicas inéditas, mais três faixas bônus exclusivas para o mercado japonês. Musicalmente, Adele soa menos densa que em 25, que foi um álbum que priorizou canções com uma carga emocional bastante forte. É claro que essa característica permanece no novo disco, afinal faz parte da persona artística da inglesa, porém no novo trabalho tudo soa mais leve, ainda que reflita em diversas letras o fim do casamento de mais de dez anos com Simon Konecki.

Há uma beleza estonteante nas canções de 30. Elementos de jazz permeiam todo o trabalho, que prioriza instrumentações mais minimalistas e apenas em poucos momentos arranha a grandiosidade dos arranjos de composições passadas. A voz de Adele é o fio condutor, o centro e a alma de tudo, e ela soa incrível. Cantando de forma divina, a inglesa entrega aquele que está sendo saudado por uma parcela considerável da crítica como o seu melhor trabalho até agora – algo que estou tentado a concordar.

Os destaques são muitos. A abertura, com a linda e meiga “Strangers by Nature”, é arrepiante. “Easy On Me”, primeiro single, vem na tradição das grandes baladas arrasa-quarteirão da cantora. “My Little Love” fala da relação com o filho e traz trechos de diálogos caseiros entre Adele e seu herdeiro. O pop toma conta de “Cry Your Heart Out” e “Oh My God”, retomando o frescor dos tempos de 21. A predominantemente acústica “Can I Get It” tem cara de hit global. E a dobradinha “To Be Loved” e “Love is a Game” encerra o disco com um gostinho de quero mais.

Adele é única, e 30 mostra isso mais uma vez. De uma beleza estonteante, é um álbum excelente de uma artista que se colocou muito acima de seus pares. Talento puro, emoção em doses certeiras: essa é a receita de um dos grandes discos de 2021.


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