Livro: Opeth - Do Death ao Prog, Como as Fases da Lua, de Eugenio Crippa e Filippo Pagani (2021, Estética Torta)


O Opeth é uma banda única, totalmente centrada na figura do vocalista, guitarrista e compositor Mikael Åkerfeldt, responsável pelo desenvolvimento de uma sonoridade singular e em constante evolução, que não encontra paralelos no heavy metal.

Toda essa história é contada com riqueza de detalhes em Opeth: do Death ao Prog, Como as Fases da Lua, livro escrito pelos italianos Eugenio Crippa e Filippo Pagani, publicado na Europa em 2014. A obra ganhou uma edição brasileira em 2021 pela editora Estética Torta, que publicou o livro em nosso país em duas edições: capa dura e brochura. Com mais de 500 páginas, conta com tradução de Natalia Cesana, coordenação editorial de Lívia Martins, revisão de Amanda Pavani e uma linda capa criada pelo artista italiano Marco Castagnetto. Corrigindo a defasagem temporal, a edição brasileira traz uma atualização que conta o que a banda sueca produziu entre 2014 e 2021, além de um apêndice exclusivo escrito por Gustavo Maiato que relata as diversas passagens do grupo pelo Brasil.

Fãs de longa data, Crippa e Pagani reconstroem toda a trajetória do Opeth, indo desde o nascimento do grupo pelas mãos do vocalista David Isberg em 1989, a chegada de Åkerfeldt em 1990 e o encontro gradual dos demais músicos, incluindo o baterista brasileiro Anders Nordin, que gravou os álbuns Orchid (1995) e Morningrise (1996).

O Opeth começou a se destacar pelas ideias únicas de Mikael Åkerfeldt, que encontraram em músicos como o guitarrista Peter Lindgren, o baterista Martin Lopez e o baixista Martin Méndez os parceiros certos para se desenvolverem. Dono de uma mente inquieta, Åkerfeldt sempre levou o death metal ao limite, dando mais importância à criatividade e originalidade de sua música do que às convenções do estilo. Esse processo se desenvolveu através de álbuns como Still Life (1999), o monumental Blackwater Park (2001), a dobradinha feita de luz e sombra Deliverance (2002) e Damnation (2003), e os ótimos Ghost Reveries (2005) e Watershed (2008). Esses discos evoluíram o som do Opeth de maneira definitiva, transformando o death metal original em um metal com pitadas extremas e elementos progressivos cada vez mais presentes, além de fartas passagens acústicas inspiradoras e o evidente amadurecimento vocal de Åkerfeldt, que começou a explorar cada vez mais o timbre limpo de sua voz ao lado do vocal gutural sempre presente.

Um ponto importante da história do Opeth é a aproximação com Steven Wilson, o genial líder do Porcupine Tree, que se transformou em parceiro musical de Åkerfeldt e trabalhou com a banda primeiramente em Blackwater Park e também em Deliverance, Damnation, Heritage (2011) e Pale Communion (2014), além de formar com Mikael o projeto Storm Corrosion, que lançou um único álbum em 2012.

A história do Opeth deu um giro atordoante em 2011 com o lançamento de Heritage, álbum onde a banda abandonou de vez o death metal do passado e mergulhou sem medo no rock progressivo inspirado nos anos 1970. Na época já contando com Fredrik Åkesson no lugar de Lindgren, Martin Axenrot substituindo Martin Lopez (que deixou a banda de forma gradual devido a problemas de saúde mental e mais tarde fundou outro grupo fenomenal, o sensacional Soen) e Per Wiberg no teclado (foi o último álbum com o tecladista, substituído em seguida por Joakim Svalberg), o disco chocou os fãs mais tradicionais e conquistou de imediato novos admiradores, encantados com a maturidade musical e pela qualidade das composições, que caminharam para muito além dos limites do metal.

A nova fase do Opeth, que deu ao mundo o quarteto Heritage (2011), Pale Communion (2014), Sorceress (2016) e In Cauda Venenum (2019), é abordada no livro de forma contrastante devido à data da publicação original europeia. Enquanto o texto traz páginas e páginas sobre Heritage, acaba passando sem tanta profundidade pelos demais trabalhos, e isso se deve ao fato de o texto original ir apenas até o primeiro disco dessa nova sonoridade. Os outros três trabalhos são abordados no apêndice final da obra, com informações interessantes e úteis, mas sem a riqueza de detalhes presente em todo o livro.

Em termos gráficos, há uma quantidade enorme de fotos e imagens em toda a obra, e a edição segue o alto nível característico dos títulos publicados pela Estética Torta, com direito à pintura trilateral na cor amarela e um acabamento gráfico de encher os olhos. Como ponto negativo, percebem-se várias pequenas falhas na revisão ortográfica, que mesmo não comprometendo a experiência acabam chamando a atenção do leitor mais exigente.

Opeth: do Death ao Prog, Como as Fases da Lua é um livro espetacular sobre uma banda espetacular, que mergulha de forma profunda em um dos oceanos musicais mais singulares e criativos que o metal e o rock já ouviram. A história de uma banda que deveria ser aclamada por todo fã de música mas passa longe dos ouvidos da maioria dos "metaleiros" brasileiros. Azar de quem ainda não foi conquistado pela magia da obra de Mikael Åkerfeldt e companhia.




Comentários

  1. A Estética Torta faz um trabalho excelente, com ótimos e luxuosos títulos. Alguns títulos da editora carecem de uma revisão ortográfica mais detalhada, e segundo a crítica este também é o caso do livro do Opeth, mas essa questão pode ser facilmente solucionada. O que está me deixando com a pulga atrás da orelha é que há sinais evidentes de que a Estética Torta passa por grandes dificuldades para se manter no mercado. Seria uma pena ver a editora falir!!

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