Review: Jethro Tull – The Zealot Gene (2022)


Em maio de 2020, Ian Anderson comunicou ao mundo ser portador de uma doença obstrutiva crônica nos pulmões, e que não tem cura. A perplexidade dos fãs foi instantânea, afinal estamos falando de um dos mais incríveis músicos da história do rock.

Em janeiro de 2022, o Jethro Tull deu ao mundo o seu primeiro álbum de canções inéditas em quase duas décadas, The Zealot Gene, sucessor de The Christmas Album, lançado em 2003. Vigésimo-segundo disco da banda que é a manifestação artística de Anderson, o trabalho foi produzido pelo próprio Ian e teve a sua origem no início de 2017, época em que o vocalista e flautista começou a compor novas canções.

Ainda que o título sugira, The Zealot Gene não é um álbum conceitual, apesar de trazer diversas referências bíblicas em suas canções e o próprio processo criativo de cada faixa ter a sua origem a partir de uma passagem da Bíblia. A música de abertura, "Mrs. Tibbets", faz referência à mãe de Paul Tibbets, piloto do bombardeiro Enola Gay, avião que lançou a bomba atômica em Hiroshima em 6 de agosto de 1945. A faixa-título foi inspirada pelo crescimento do populismo de direita "e como as visões extremistas parecem se espalhar mais livremente e tudo fica mais exagerado, às vezes através de notícias e outras por tweets ferozes", conforme declarou o músico em entrevista para o site Louder. Anderson disse que "Mine is the Mountain" fala sobre ver Deus como uma vítima e o "desespero do homem para criar essa figura de liderança em uma forma humana, porque essa é a única maneira de entender seu conceito”.

The Zealot Gene traz doze canções em pouco mais de 46 minutos, todas compostas por Ian Anderson. A atual formação do Jethro Tull conta com Ian nos vocais, flauta e violões, Florian Opahle na guitarra (músico alemão que tocou na banda solo de Anderson entre 2003 e 2019 e que desde 2017 integra o Jethro Tull), John O’Hara no piano e teclado (instrumentista com um background vindo predominantemente da música erudita), David Goodier no baixo (na banda desde 2007) e Scott Hammond na bateria (vindo da banda solo de Anderson e no grupo desde 2017).

A sonoridade é predominantemente acústica, construída a partir do violão e da flauta. Os vocais, com o timbre profundo e grave de Ian, são um destaque à parte. O trabalho de composição é exemplar e entrega algumas das melhores músicas do Jethro Tull em décadas como a já citada “Mrs. Tibbets”, “Mine is the Mountain”, “Shoshana Sleeping”, “Barren Beth, Wild Desert John” e “The Betrayal of Joshua Kynde”, todas adornada pelo clima medieval que só a flauta e as interpretações do menestrel do prog Ian Anderson possuem.

A edição brasileira, lançada pelo Hellion Records, é idêntica à norte-americana e europeia e vem em um digipack de duas faces com encarte de vinte páginas repleto de fotos e com todas as letras.

The Zealot Gene é mais uma prova da genialidade de Ian Anderson, além de um documento que comprova que músicos veteranos ainda tem muito a acrescentar ao cenário musical, mesmo que doenças crônicas atrapalhem suas vidas.

Um dos melhores álbuns da longa trajetória do Jethro Tull!


Comentários

  1. Excelente álbum. ouvindo direto desde as lançamento. Experimentem na estrada .

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  2. Parabéns duplo:
    Ao Anderson, mesmo dispensando o coração da banda, Martin Barre (por motivos para mim desconhecidos) e pela bela resenha.
    Vou já dar um jeito de escutar esse disco.

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  3. Este disco é muito bom e mantém o padrão Jethro Tull de qualidade. A introspecção das músicas e a fragilidade dos vocais de Anderson, certamente consequência de sua doença, deixam The Zealot Gene triste, melancólico e com ar de capítulo final. Me parece que Anderson, o mestre, está se despedindo de todos antes de sua iminente partida...

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