Review: Scorpions – Rock Believer (2022)


Uma palavra que define com exatidão o novo álbum do Scorpions é “simpático”. Sim, Rock Believer, décimo nono trabalho da maior lenda do hard rock alemão, é um disco simpático no sentido que atrai o ouvinte de uma forma agradável, com canções que proporcionam um sentimento de prazer a qualquer fã da banda.

Sucessor de Return to Forever (2015), Rock Believer consolida de vez a excelente fase que o quinteto vive desde 2007, ano em que foi lançado Humanity – Hour 1, que foi seguido do inegavelmente consistente Sting of the Tail (2010) e do já citado Return to Forever, com direito a um trabalho um tanto dispensável no meio, o álbum de regravações e covers Comeblack (2011). E tudo com um bônus de respeito: o novo disco é também a estreia de Mikkey Dee em estúdio, baterista que tocou por mais de vinte anos no Motörhead e que desde 2016 está no Scorpions. Quem assistiu um show com Dee sabe o nível incrível energia que ele trouxe para o grupo.

Produzido pela banda ao lado de Hans-Martin Buff (Prince, No Doubt), Rock Believer teve seu processo de composição iniciado em 2019, com as sessões de gravação começando em julho de 2020 no Peppermint Park Studios, em Hanover, e indo até meados de 2021. O resultado é um álbum com onze canções, e que, para alegria dos fãs, foi lançado no Brasil pela Universal Music em uma edição deluxe que traz um segundo CD com mais quatro faixas inéditas e uma versão acústica para a balada “When You Know (Where You Come From)”.

O timbre dos instrumentos merece destaque, notadamente o das guitarras, que soam cheias mas não massivas. Klaus Meine tem uma performance exemplar do alto dos seus 73 anos, e é um dos destaques do álbum. A dupla Rudolf Schenker e Mathias Jabs demonstra na prática os benefícios de uma parceria que já tem quase 45 anos, enquanto Pawel Maciwoda segue um baixista competente e que ganha a companhia da mão pesada de Mikkey Dee na bateria.

“Gas in the Tank” abre o álbum com um título que é uma espécie de afirmação da longevidade da banda, que ainda tem “gasolina no tanque” para seguir por vários anos entregando shows energéticos e canções marcantes. E a própria “Gas in the Tank” tem essa característica, com as linhas vocais de Klaus Meine conduzindo uma canção que agrada de imediato. “Roots in My Boots” olha para o passado e retoma elementos dos anos 1970 em um hard rock direto ao ponto e com refrão chiclete. Já em “Knock ‘Em Dead” a banda revisita a década de 1980 em uma faixa que usa diversas fórmulas do hard daquela década, muitas delas definidas pelo próprio Scorpions em álbuns como Blackout (1982) e Love At First Sting (1984), é bom lembrar.

O álbum entra em um novo território com a música título, um rock pesado e cadenciado onde a letra de Meine é um tratado de fé e paixão pelo rock, mostrando o quanto a banda compartilha dessa paixão pela música e como todos, músicos e fãs, são “fiéis do rock”. Vai ser cantada a plenos pulmões nos shows, anotem!

Na sequência temos uma das melhores canções de Rock Believer, e ela se chama “Shining of Your Soul”. Mais uma vez apostando em um andamento cadenciado, a banda faz uma pequena autorreferência ao resgatar sutilmente as guitarras “reggae” de “Is There Anybody There?”, uma das melhores canções de um de seus melhores discos, o clássico Lovedrive (1978).

“Seventh Sun” mantém o clima lá em cima e vem com muito peso e mais uma vez olha para o passado da banda ao apresentar um clima que leva a uma associação quase que instantânea a “The Zoo”, o hino presente em Animal Magnetism (1980). Refrão grandioso, linhas vocais bem legais, guitarras pesadíssimas e um trecho reservado especialmente para o solo de Mathias Jabs, feito sob medida para o guitarrista voar alto nos shows. Musicão!

“Hot and Cold” é o típico hard pra ouvir na estrada, enquanto “When I Lay My Bones to Rest” é rock and roll puro. Já “Peacemaker”, um dos singles divulgados para o trabalho, é também uma de suas canções de maior destaque. Guitarras afiadas da dupla Rudolf Schenker e Mathias Jabs, com direito a harmonias, peso nas bases e solo incendiário.

O álbum caminha para a sua parte final com “Call of the Wild”, com um clima meio contemplativo porém carregada com a dose certeira de acessibilidade que sempre foi uma das marcas registradas do Scorpions. Mais um dos destaques do álbum, que chega ao seu final com uma balada, outro fator determinante na identidade dos alemães. “When You Know (Where You Come From)” não escorrega em nenhum momento para a pieguice, o que sempre é um acerto, e brinda o ouvinte com melodias repletas de feeling.

Rock Believer tem então o seu falso final interrompido pelo CD bônus, que, como mencionado, traz mais quatro canções inéditas e uma versão acústica para uma das faixas do tracklist, totalizando mais dezenove minutos de música. “Shoot For Your Heart” é uma canção acelerada e cativante, comprovando que a inspiração estava em alta durante o processo de composição. “When Tomorrow Comes” é conduzida pelo baixo de Pawel Maciwoda e funciona bem com um lado B, a mesma sensação transmitida por “Unleash the Beast”. Já “Crossing Borders” deixa esse clima de sobra de estúdio de lado e, ao lado de “Shoot For Your Heart”, poderia estar na lista de canções normais do álbum. O CD bônus fecha com uma bonita versão acústica de “When You Know (Where You Come From)”, feita pra quem aprecia o lado baladeiro da banda.

A edição brasileira, lançada pela Universal Music, teve uma primeira prensagem de apenas 1.000 cópias e vem em um digisleeve de luxo de três faces, com um longo encarte de vinte páginas com todas as letras, inclusive das faixas presentes no CD bônus.

Não sei dizer, mas é provável que eu não me empolgasse tanto com um álbum do Scorpions como me empolguei com Rock Believer desde quando fiz a primeira audição da dobradinha Love At First Sting (1984) e World Wide Live (1985) ou quando descobri os discos clássicos que a banda lançou durante a década de 1970. O quinteto terá problemas para montar o tracklist de seus shows após Rock Believer, porque várias das músicas deste disco pedem para serem tocadas nos shows e certamente serão bem aceitas pelo público.

É muito bom ouvir um álbum tão bom como esse, de uma banda tão importante para milhões de pessoas como é o Scorpions.


Comentários

  1. Adorei o álbum tbm. Belo review. Tem algumas músicas excelentes, outras nem tanto. Mas é consistente e algo digno do Scorpions. Vi algumas pessoas falando mal deste trabalho, ou que esperavam mais. Para mim, está na medida. Abraço Cadão.

    ResponderExcluir
  2. um bom disco, analiso desta forma, mais incensado por alguns que o merecido, muito bem produzido, qualidade sonora de primeira e melhor que os decepcionantes, em minha visão, Return to Forever (2015) e Sting of the Tail (2010) mas do mesmo nível do Humanity – Hour 1, apesar de mais tradicional da sonoridade oitentista da banda, principalmente no período que corresponde entre os grandes discos lovedrive e blackout, vale a pena a aquisição

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Você pode, e deve, manifestar a sua opinião nos comentários. O debate com os leitores, a troca de ideias entre quem escreve e lê, é que torna o nosso trabalho gratificante e recompensador. Porém, assim como respeitamos opiniões diferentes, é vital que você respeite os pensamentos diferentes dos seus.