No Brasil, Criolo lançou em 2022 o seu quinto álbum, Sobre Viver. Mesma coisa: quem ouviu, adorou. Até mesmo quem não consome habitualmente sons similares à sonoridade do rapper paulistano elogiou o trabalho.
Esses dois itens possuem uma característica em comum: apesar de terem agradado em cheio os fãs e recebido elogios da imprensa especializada, ambos não foram lançados em mídia física. Sim, nada de mídia física. Nadinha. O EP de Sakis ainda conta com uma versão em CD cardboard que veio junto com a edição de março da Metal Hammer grega, sendo essa a única edição física do material. Já o álbum de Criolo só existe no formato digital mesmo.
Vocês podem me julgar, mas eu acho isso muito estranho. Eu sei que o mercado de mídia física é restrito, mas se nem o músico valoriza o formato, porque nós ainda valorizamos? Fiz uma live há alguns anos sobre colecionismo, e durante o papo o amigo Fábio Nobre, do Audiorama, foi muito feliz em definir as coleções que montamos. Nas palavras do Fábio, elas ajudam a preservar a música e a história de cada disco. E é isso mesmo. O material físico é tátil, tem forma, peso e proporções, e isso o torna mais longevo. Ao contrário de um arquivo digital, que por mais legal que seja acaba sendo apenas isso: mais um arquivo digital.
Tenho as minhas manias, admito. Uma delas é só ouvir música em mídia física. No meu caso, em CD, pois a minha coleção é formada exclusivamente por CDs. Passei a agir assim quando migrei totalmente para o home office e, um dia, percebi que estava ouvindo um álbum no Spotify enquanto estava cercado por mais de 2 mil CDs. Agora, esse exato momento, tenho várias pilhas de álbuns que ainda não ouvi ao meu lado, e todos os dias vou colocando esses discos no aparelho de som. Tomei essa decisão porque não quero perder a experiência de ouvir álbuns em CD, e porque compro discos para ouvir, afinal de contas. E se você tem alguma dúvida sobre a minha disciplina, saiba que só fui escutar Senjutsu, último álbum do Iron Maiden, quando o CD chegou aqui, uns três ou quatro dias após ele já estar inteiramente disponível on-line. Parece pouco, mas quem é fã sabe que esperar tudo isso não é fácil.
Então, me pergunto: tenho todos os álbuns que Criolo lançou até agora – Nó na Orelha (2011), Convoque seu Buda (2014), a reedição de Ainda Há Tempo (2016) e Espiral de Ilusão (2017) -, gosto muito da sua música e apoiei a sua obra comprando seus discos, e agora não tenho nem a opção de escolher se quero ou não comprar a edição em CD de seu último disco? Enviei mensagem nas redes sociais da gravadora Oloko Records, que lançou Sobre Viver e os trabalhos anteriores de Criolo, perguntando se haverá uma versão em CD do álbum, mas não obtive resposta.
Como nós, não apenas colecionadores, mas pessoas que ainda preservam o hábito de ouvir música através de CDs e LPs, ficamos no meio disso tudo? Largados às traças? Sem opções? Não merecemos nem um lançamento com tiragem limitada e reduzida?
Se nem o músico dá valor à sua música – e é preciso citar novamente o amigo Fábio para frisar a importância das coleções: elas preservam a obra dos artistas e a história de seus discos -, por que ainda nos damos esse trabalho?
Sakis e Criolo, aguardo respostas.
Não há "debates" ou "democracia" com o avanço tecnológico! Quem não se adapta a ele, que chore suas pitangas na cama que é lugar quente, infelizmente...Nem os novos aparelhos de som vem com tocadores de cd mais e o mercado não está nem aí para os amantes do formato. Músico se importa com a música, o formato em que ele a ofertará ao público lhe é imposto, como sempre foi, pela tecnologia. Sakis e Criolo já lhe responderam, cara, o triste para ti é que essa resposta, tendo em vista a sua paixão, lhe é triste e amarga!
ResponderExcluirCleibson...o que você disse é verdade....mas uma coisa me preocupa. Sem o físico muitas vezes não possuímos o direito de ouvir nossos artistas preferidos quando quisermos (pelo menos legalmente). Perceba que ficamos cada vez mais a mercê do que plataformas nos oferecem. Isso já é algo que vem acontecendo nos filmes, por exemplo.
ExcluirVocê está coberto de razão Fábio, a mídia física é vital seja para a música, o cinema, a literatura, enfim. Ficar a mercê da boa vontade e dos contratos de produtoras e gravadoras é muito perigoso, a Netflix é um exemplo claro disso, vira e mexe divulgam os filmes que vão entrar no catálogo mas escondem aqueles que saem.
ExcluirRespeito todas as opiniões, mas quando leio comentários como o seu, Kaio, assim como os do Seelig e Fábio, vejo que existem pessoas que confundem seus desejos pessoais com a realidade à sua volta...As mídias físicas eram vitais antigamente, em um mercado consumidor que desapareceu com o avanço tecnológico! Para o mundo contemporâneo, quer gostem os fãs dessas mídias ou não, elas não têm a mínima importância. As mídias físicas são fetiches de um público consumidor mais velho e "antiquado" e esse público terá de se acostumar a viver sem elas ou pagar os olhos da cara para continuar a consumi-las, algo que eu acho improvável...O público em geral sempre ficou a mercê de produtoras, gravadoras, editoras, etc, mesmo o público que se acha diferente e com o gosto mais "refinado"! Quem pensa o contrário está se iludindo e sendo, para não usar uma expressão muito dura, ingênuo demais. A verdade inapelável, mesmo eu não gostando nada dela, é que para 99% dos consumidores mídias físicas são algo como, sei lá, as pirâmides do Egito ou o Tiranossauro Rex.
ExcluirConcordo Cleibon com tudo o que você falou...inclusive sobre a ingenuidade. Não é nem uma questão de negar a realidade ou querer que nossos desejos pessoais prevaleçam. Apenas aponto e percebo que esse controle que você citou e que sempre existiu...pode aumentar ainda mais. Sobre o streaming e o digital...pelo menos no meu caso...sou super a favor e uso muito. Mas também curto o físico.
ExcluirEstou refazendo TODA a minha coleção de CD´s com um prazer enorme como nunca tive antes. Parece que voltei a ser garoto.
ExcluirPara quem gosta de música há uma diferença muito grande na qualidade do som. Por exemplo, no Spotify, qualquer track soa bidimensional, com muita limitação na percepção dos instrumentos. O som, no geral, é cansativo. Isso explica porque os jovens não ouvem uma música inteira. Estou na frente das caixas acústica s, ouvindo uma pianistas:Gabriela Montero. E percebo a variação dinâmica das batidas dos dedos nas teclas, a variação temporal, do ritmo, o que, quando se ouve nas mídias digitais, na Internet, se perde completamente. Fazer o que? Prefiro continuar ouvindo em CD a perder meu tempo e ouvir lixo sonoro na Internet. Cada um consome o que quer...
ResponderExcluirLevei algum tempo mas consegui: converti minha coleção de CDs em MP3 de alta qualidade. Está tudo em meu computador e em meu mp3 player. Posso ouvir dos dois modos, sem precisar recorrer ao spotify. Bem, eu tenho uma coleção modesta, o que facilitou o meu lado. Agora posso ir trabalhar ouvindo boa música e com boa qualidade.
ResponderExcluirNão faço ideia do que vai ocorrer com a mídia física. Se acabar, vai ser algo a se lamentar e que eu também sentirei falta.
Espero que o Rotting Christ continue lançando CDs, porque sou um apreciador do trabalho desses caras, tenho quase a discografia completa.
Caraca, esse disco do Sakis Tolis é demais! Dei uma escutada no Itunes, e caraca, me surpreendeu. Trabalho de primeira.
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