Review: Caravellus – Inter Mundos (2022)


O Caravellus quebra um período de silêncio de 12 anos com Inter Mundos, seu terceiro disco, sucessor de Lighthouse and Shed (2007) e Knowledge Machine (2010). Os pernambucanos retornam com mudanças importantes na formação, a mais notável sendo a de Leandro Caçoilo (vocalista do Viper) assumindo o posto de Raphael Dantas.

Liderada pelo guitarrista Glauber Oliveira, autor de todas as músicas (duas delas em parceria com Caçoilo) e também produtor do trabalho, o Caravellus mergulha no universo do escritor Ariano Suassuna e entrega um álbum conceitual. Aliás, a produção gráfica do CD é sensacional, em um digipack que traz um encarte com todas as letras e outro detalhando a história que cada canção aborda, além da bonita capa ilustrada pelo artista Marcus Ravelli. Parabéns para a Metal Relics pelo capricho.

Inter Mundos apresenta treze canções e uma faixa bônus, “Vynno D’Agua”, e traz as participações especiais de Elba Ramalho, Daísa Munhoz (vocalista do SoulSpell, Vandroya e Twilight Aura), Derek Sherinian (tecladista do Sons of Apollo e do Black Country Communion, ex-Dream Theater), John Macaluso (baterista, ARK, Yngwie Malmsteen), Felipe Andreoli (baixista do Angra), Hugo Mariutti (baixista do Shaman) e Daniela Serafim (vocalista do Invisible Control).

Musicalmente, o que temos é um power prog com grande foco na técnica dos músicos , todos excelentes em suas funções. A fusão com a cultura nordestina, enfatizada na inspiração em Suassuna, também é sentida na parte musical com a sempre bem-vinda união do heavy metal aos ritmos brasileiros e na inserção de trechos cantados em português nas letras, todas escritas primordialmente em inglês. Artisticamente, não há muito o que falar a respeito de Inter Mundos a não ser afirmar que trata-se de um trabalho muito acima da média. Entretanto, senti falta de uma ou duas canções um pouco mais acessíveis e descomplicadas, que certamente ajudariam na assimilação do álbum e o tornariam ainda mais sólido. Ainda que faixas como “Panis et Circenses”, “Memento Mori” e “Insurrection” (com teclados que lembram o AOR da década de 1980) cheguem perto de exercer esse papel, a sensação de ouvir um disco inegavelmente técnico mas que carece de uma música mais marcante fica evidente ao final da audição.

Mesmo assim, Inter Mundos merece elogios pela pretensão proposta e alcançada pela banda, que conseguiu trazer para um álbum de heavy metal elementos de sua cultura e que são essenciais para a construção não só de sua personalidade, mas também da própria identidade do metal brasileiro como gênero único, original e apaixonante.


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