Review: Kreator – Hate Über Alles (2022)


É interessante como o Kreator incorporou elementos de power metal ao seu som, e isso se traduziu em uma presença maior de melodias, climas ainda mais épicos e um incremento de velocidade nas composições. Não é à toa, por exemplo, que o baixista Frédéric Leclercq, ex-DragonForce, seja o dono do instrumento no quarteto germânico desde 2019.

Divagações à parte, também é inegável que o Kreator atravessou os anos 2010 com uma produção que, ainda que esparsa, foi extremamente impactante. Os dois álbuns lançados pela turma liderada pelo vocalista e guitarrista Mille Petrozza no período, Phantom Antichrist (2012) e Gods of Violence (2017), estão entre os melhores registros do grupo.

Hate Über Alles, décimo-quinto disco do Kreator, mantém o nível lá em cima. Produzido por Arthur Rizk (Power Trip, Cavalera Conspiracy, Soulfly), o novo álbum traz onze canções em uma duração relativamente curta para os tempos atuais – são apenas 46 minutos de música. O trabalho marca a estreia em estúdio de Leclercq, com o line-up sendo completado pelo guitarrista Sami Yli-Sirniö (na banda desde 2001) e pelo baterista Ventor (ao lado de Mille, também remanescente da formação original).

Além dos já citados elementos de power, ao longo dos anos o Kreator também trouxe para o seu som doses cavalares de groove, o que imprimiu uma identidade mais contemporânea e moderna a uma banda que surgiu lá atrás, quando o thrash era apenas mato, e foi fundamental para desenvolver um dos gêneros mais populares do metal com álbuns seminais como Endless Pain (1985), Pleasure to Kill (1986) e Coma of Souls (1990).

Toda essa experiência e majestade se mantém intacta nas composições de Hate Über Alles, com o bônus da agressividade sempre presente no som do Kreator permanecendo onipresente, e de certo modo ainda mais extrema que no passado. A abertura, com a música título, lembra vagamente o riff de “Arise”, do Sepultura, e possui um refrão contagiante. “Strongest of the Strong”, em um exercício de imaginação, pode ser facilmente imaginada com vocais limpos e sendo executada por uma banda de power metal. “Become Immortal” e “Conquer and Destroy” não economizam nas harmonias de guitarra, característica que, amparada pelo peso colossal, é puro deleite. O passado e o presente do Kreator se encontram em canções como “Midnight Sun”, que conta com a inserção dos vocais angelicais de Sofia Portanet. O final do álbum reserva duas de suas melhores composições, “Pride Comes Before the Fall” e “Dying Planet”, ambas com trechos climáticos dando ainda mais riqueza ao thrash do quarteto.

A edição brasileira, via Shinigami Records, traz um encarte de 24 páginas com todas as letras. E sim, a capa merece menção, em mais um trabalho espetacular do artista Eliran Kantor, autor de trabalhos igualmente elogiados para bandas como Helloween, Testament e Soulfly.

Hate Über Alles prova a longevidade da relevância do Kreator, que beirando as quatro décadas de história segue entregando álbuns que se inscrevem facilmente entre seus melhores trabalhos.


Comentários

  1. Meu primeiro vinil foi o Coma of Souls, e o Endless Pain um dos discos que mais ouvi na vida. Além de longeva, essa banda não deixa a peteca cair. Esse novo trabalho está perfeito e não é para menos se considerarmos os envolvidos na produção.

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