ComicCon Floripa 2022: com grande público, vem grandes responsabilidades


A ótima sensação deixada pelas duas últimas edições da ComicCon Floripa, realizadas em 2018 e 2019, aliada ao retorno dos eventos presenciais e ao desejo e saudade do público por esse tipo de encontro, gerou dois pontos antagônicos na edição 2022 da ComicCon Floripa: um enorme público cheio de expectativa em um evento que ficou abaixo do esperado.

O grande erro da organização foi realizar a CCFloripa no SENAC, um local sem a estrutura para um evento de grande porte e que não chega nem perto do que foi apresentado pela própria CCFloripa em suas edições anteriores, que aconteceram no Centro de Eventos de Florianópolis, amplo e mais do que adequado para iniciativas como essa. É claro que o intervalo causado pela pandemia levou os organizadores a repensar muitas coisas, mas o saldo final é de que a ComicCon Floripa 2022 apresentou um downgrade em relação às duas últimas edições.

Essa sensação de desapontamento passa por diversos pontos: o onipresente sentimento de desconforto e insegurança gerado por corredores apertados e abarrotados de pessoas; a falta de estrutura não só com o público mas também com os artistas, abarrotados em mesas que pouco valorizavam o seu trabalho, o que ficou ainda mais evidente pelo espaço praticamente inexistente de circulação e que tornava praticamente impossível conversar com algum quadrinista sem gerar um “engarrafamento” de pessoas atrás; e a ausência de atrações de peso. E aqui falo de nomes, artistas e editoras de destaque nacional, que foram atraídas e estiveram presentes nas edições anteriores da CCFloripa, mas que nessa não colocaram os pés muito provavelmente por estarmos falando de um dos primeiros eventos pós-pandemia a serem realizados, e onde sabemos que muitos não se sentem confortáveis em estar devido a tudo que ocorreu nos últimos anos. Isso sem falar em um ponto essencial: a enorme presença de público em um local com capacidade aquém da quantidade de pessoas que recebeu, no contexto pós-pandêmico em que vivemos, foi pra carregar níveis de ansiedade assustadores em qualquer um.

O aspecto positivo é o fato de que o público de Florianópolis mostrou mais uma vez o quanto é viável e necessário que um evento como a ComicCon Floripa aconteça na ilha. Existe público para isso, há dados que comprovam esse fato – os números da Amazon mostram que Floripa é um dos principais consumidores de cultura nerd do Brasil – e a paixão das pessoas ao estarem no evento era nítida. Porém, a quebra de expectativa causada pela falta de estrutura do local escolhido para a realização da CCFloripa 2022 foi desconcertante e decepcionante. A organização já percebeu isso, como os comentários nas redes deixam claro, e dá sinais de que fará tudo para resolver essas questões na edição do ano que vem.

Parafraseando o imortal Stan Lee: com grande público, vem grandes responsabilidades. Agora é ter sabedoria para aprender com os erros e voltar a entregar um evento tão legal e bem organizado como as edições de 2018 e 2019 da ComicCon Floripa foram, com um local amplo e confortável para o público e artistas, e com a presença de nomes de peso que estavam colocando Florianópolis no circuito dos grandes eventos de quadrinhos do Brasil.

Às vezes, é necessário dar alguns passos para trás para dar um grande passo à frente. Esse é um desses momentos.


Comentários

  1. Participei do Artist Alley em 2019, e achei as instalações e estrutura muito bons, surpreendente como foi um evento tão bem organizado e planejado. Uma pena que esse ano tenham ocorridos alguns problemas, dentre os quais tenho acompanhado nas redes sociais. É como o texto diz, provavelmente serão aplicadas melhorias nos eventos seguintes.

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  2. Fui em um evento desse aí aqui em S.Paulo e fiquei impressionado com a infantilidade de tudo aquilo! Entendo perfeitamente o deslumbramento do meu filho por uma ComicCon, afinal ele tem apenas 12 anos, mas ver marmanjos agindo como se estivessem no jardim da infância foi demais para mim! A indústria fez um trabalho perfeito em sua infantilização de um público pretensamente adulto, o que devemos analisar é o preço dessa infantilização para a sociedade em que vivemos...E este preço é muito alto!!

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    1. Disse tudo, cara. Hoje temos adolescentes de quarenta anos vagando por aí, vestidos de super heróis.

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    2. Eu adoro quadrinhos, games, livros de fantasia e ficção científica e esta tal "cultura nerd" e já estou nos meus 45 anos. No entanto, concordo 100% que parte do público é de dar vergonha, tamanha a infantilidade...é de espantar mesmo. Não consigo entender a dificuldade em se separar o gosto por algo lúdico e fantasioso que remete a infancia e a juventude de uma atitude mais madura perante a vida e a nossa sociedade. Enfim, prefiro continuar curtindo essas coisas e evito participar destes grande eventos...porque o comportamento do público realmente me incomoda.

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