A Panini concluiu a publicação da fase clássica de Hellblazer no Brasil, com as histórias que transformaram John Constantine em um dos personagens mais amados das HQs. Essa fase é composta de 300 edições, que foram compiladas em 50 encadernados de capa cartão. Além disso, mas três volumes foram lançados e trazem histórias especiais que fazem parte dessa fase.
John Constantine é um mago, ocultista e vigarista que nasceu em Liverpool mas vive a maior parte de suas histórias em Londres. É um personagem conhecido pelo cinismo, sarcasmo e ironia, além de ser astuto e extremamente liso, passando para trás e enganando um sem número de pessoas e inimigos ao longo de sua trajetória. Uma característica marcante de Constantine é o fato de ele ser um fumante inveterado e, como todo inglês, consumir quantidades industrias de álcool. Ele é, em suma, um anti-herói, já que apesar dos métodos discutíveis e das decisões que trazem consequências para todos ao seu redor, seu objetivo geral é sempre dar o seu melhor para fazer o bem, ainda que muitas vezes apenas pelo seu ponto de vista.
A primeira aparição de John Constantine foi na revista do Monstro do Pântano em junho de 1985, como coadjuvante em uma história intitulada American Gothic. O personagem, criado por Alan Moore, teve o seu visual inspirado da cabeça aos pés em Sting, baixista e vocalista do The Police.
Carismático e aceito de forma instantânea pelo público, Constantine ganhou a sua revista própria três anos depois. Chamada Hellblazer, a revista foi publicada ininterruptamente de janeiro de 1988 a fevereiro de 2013, o que transformou Hellblazer na série mais longeva e de maior sucesso da Vertigo, selo voltado para o público adulto criado pela DC Comics em 1993.
O impacto de John Constantine foi além do público das HQs e reverberou também na cultura pop. A Empire o colocou em terceiro lugar na sua lista com os 500 Maiores Personagens de Quadrinhos de Todos os Tempos. Sua história foi levada para o cinema em 2005 no filme Constantine, dirigido por Francis Lawrence (Eu Sou a Lenda, Jogos Vorazes) e com Keanu Reeves no papel principal. Na TV, a série que leva o seu nome teve apenas uma temporada entre 2014 e 2015 pela NBC, com o ator Matt Ryan vivendo o personagem. Apesar do cancelamento, Ryan voltou ao personagem em episódios dos seriados Arqueiro Verde e Legends of Tomorrow, e dublou o mago nas animações produzidas pela DC.
A publicação de Hellblazer no Brasil foi organizada pela Panini em encadernados seriais separados por autores, com todas as histórias criadas por um roteirista fazendo parte de um mesmo subtítulo. Eles foram divididos assim:
John Constantine Hellblazer: Origens – Jamie Delano
Vol. 1: Pecados Originais
Vol. 2: Triângulos Infernais
Vol. 3: Newcastle & A Máquina do Medo Ato I
Vol. 4: A Máquina do Medo Ato II
Vol. 5: Histórias Raras
Vol. 6: O Homem de Família
Vol. 7: O Coração do Menino Morto
Vol. 8: A Horrorista & Sangue Ruim
Aqui está o começo da história de John Constantine. Com o título de John Constantine Hellblazer: Origens, traz todo o período inicial escrito pelo roteirista Jamie Delano. Os quarenta primeiros números da série estão aqui, além de edições especiais em que ele voltou a escrever o personagem.
Jamie Delano foi uma escolha pessoal do próprio Alan Moore para escrever e desenvolver o personagem, e fez isso muito bem, estabelecendo seu universo de maneira própria, imprimindo profundidade a um personagem que não tinha nenhum background quando foi apresentado por Moore. Delano estabeleceu o mago de forma firme em Londres e construiu um John Constantine de carne e osso, que alterna momentos de sanidade com outros em que o peso das decisões do passado o assombram. O taxista Chas, amigo fiel e sidekick de Constantine, é uma criação de Delano e que se transformou em uma das figuras mais emblemáticas da saga de John, estando ao seu lado até o final da série.
Em termos de estilo, dá pra definir a fase Delano com sendo um período onde histórias de ficção científica e horror predominaram, ficando John Constantine com os dois pés em uma espécie de universo de terror com elementos de realismo fantástico.
John Constantine Hellblazer: Infernal – Garth Ennis
Vol. 1: Hábitos Perigosos
Vol. 2: Sangue Real
Vol. 3: Anjos e Demônios
Vol. 4: Medo e Delírio
Vol. 5: Amor Impuro
Vol. 6: Chamas da Perdição
Vol. 7: Um Sacana nos Porões do Inferno
Vol. 8: O Filho do Homem
A fase escrita por Garth Ennis, criador de Preacher e The Boys, é o período mais longo de um autor em Hellblazer e a mais aclamada e cultuada pelos fãs de John Constantine. Ennis já começa com os dois pés na porta com o arco Hábitos Perigosos, um dos mais clássicos da série e que terá inúmeras consequências no futuro. O escritor inglês permaneceu em Hellblazer durante as edições 41 e 83, e fez um breve retorno entre os números 129 e 133.
Hellblazer marcou a estreia de Garth Ennis em uma história de quadrinhos norte-americana. Seu período na revista foi de 1991 a 1994, sempre tendo Steve Dillon como o artista mais frequente. Toda essa fase é marcado pela união do sobrenatural ao cotidiano, inserindo doses de realismo ao clima de horror que marcou o período escrito por Jamie Delano.
John Constantine Hellblazer: Demoníaco – Paul Jenkins
Vol. 1: Terreno Perigoso
Vol. 2: Massa Crítica
Vol. 3: Pecados do Pai
Vol. 4: Na Linha de Fogo
Vol. 5: Até o Último Homem
Vol. 6: Demônios Pessoais
Vol. 7: Como Brincar com Fogo
Demoníaco é uma das fases de John Constantine que mais gosto. Paul Jenkins escreveu Hellblazer entre os números 89 e 128, sempre tendo com braço direito o ilustrador Eddie Campbell. A arte, até então não tão refinada, ganhou um upgrade enorme através do estilo personalíssimo de Campbell, que seria muito mais reconhecido em No Inferno, obra seminal de Alan Moore que conta com suas ilustrações.
Os roteiros ficaram mais ágeis, com um ritmo mais frenético, reflexo da própria evolução da linguagem dos quadrinhos, que aos poucos começou a deixar de lado o excesso de recordatórios e explicações redundantes.
John Constantine Hellblazer: Assombrado – Warren Ellis
Vol. 1: A Mulher Escarlate
Vol. 2: Histórias Malditas
A passagem de Warren Ellis pelo universo de John Constantine foi breve, porém marcante. O plano inicial era que o autor de Authority e Planetary permanecesse na série por um longo período, mas desentendimentos com a DC Comics levaram Ellis a sair por vontade própria.
No fim das contas, ele assinou as edições 134 a 143 de Hellblazer, números suficientes para imprimir seu estilo contagiante e deixar seu nome marcado na mitologia do personagem com Shoot (Atire!, no Brasil), história que a DC decidiu não publicar por coincidir com o massacre de Columbine, um dos mais sangrentos tiroteios em escolas da história dos Estados Unidos. No entanto, tanto o roteiro quanto a arte foram criados antes do ocorrido, o que levou Ellis a abandonar Hellblazer.
Vale mencionar também que é partir daqui que Hellblazer ganha uma de suas características mais marcantes através das capas desenvolvidas por Tim Bradstreet, autor das capas de todo o run desenvolvido por Warren Ellis e também de todas as capas de Hellblazer entre as edições 146 e 215.
John Constantine Hellblazer: Amaldiçoado – Brian Azzarello
Vol. 1: Inferno na Prisão
Vol. 2: Boas Intenções
Vol. 3: Congelado
Vol. 4: Pecados do Passado
Vol. 5: Cinzas e Pó na Cidade dos Anjos
Apesar de não ser muito lembrada por leitores mais das antigas, gosto muito dessa fase de Hellblazer. Aqui, o roteirista Brian Azzarello (100 Balas) tira John Constantine da Inglaterra e o leva até os Estados Unidos, virando a cabeça do personagem de cabeça para baixo e fazendo o mago enfrentar inimigos reais mais assustadores que demônios, como um grupo de supremacistas brancos.
Além dos roteiros muito bem desenvolvidos, a arte do argentino Marcelo Frusin está entre as melhores de toda a série.
Azzarello escreveu as edições 146 a 174 de Hellblazer, e seu período marcou a transição entre o Constantine clássico e a fase mais contemporânea do personagem.
John Constantine Hellblazer: Condenado – Mike Carey
Vol. 1: Sepulcro Vermelho
Vol. 2: O Curinga
Vol. 3: Olhando para a Parede
Vol. 4: Via Crúcis
Vol. 5: Razões para se Alegrar
Vol. 6: O Dom
Vol. 7: O Convite
Natural de Liverpool como o próprio Constantine, Mike Carey escreveu as edições 175 a 215 de Hellblazer, o segundo maior período de um autor na série, atrás apenas de Garth Ennis. Novos personagens são apresentados ao mesmo tempo em que elementos do passado são retomados, como a onipresença sobrenatural.
Muitos dos conceitos propostos por Carey seriam retomados pelos dois últimos roteiristas da fase clássica de Hellblazer, Andy Diggle e Peter Milligan, e inspirariam a conclusão da saga.
John Constantine Hellblazer – Denise Mina
Vol. 1: Empatia é o Inimigo
Vol. 2: A Mácula Vermelha
A fase com a roteirista escocesa Denise Mina é, provavelmente, a pior de todas as três centenas de edições da Hellblazer. Roteiros confusos que vão do nada para lugar nenhum são uma constante entre as edições 216 e 228, assinadas por Mina.
Esses dois encadernados não ganharam um subtítulo, como era comum na publicação brasileira até aqui, e são indicados apenas para leitores completistas e que querem ter tudo do personagem.
John Constantine Hellblazer – Andy Diggle
Vol. 1: O Passeio
Vol. 2: O Mago Que Ri
Vol. 3: Raízes da Coincidência
O londrino Andy Diggle assumiu Hellblazer entre as edições 230 e 249 e modernizou o personagem, preparando o terreno para o que viria a seguir. Além disso, escreveu também o spin-off Lady Constantine, história que foca em uma antepassada de John.
Foi com esses encadernados que comecei a ler Hellblazer e que John Constantine me conquistou. Histórias com arcos praticamente fechados e que me levaram e mergulhar em tudo o que encontrei do mago britânico.
John Constantine Hellblazer – Peter Milligan
Vol. 1: A Peste
Vol. 2: Amarrado
Vol. 3: Índia
Vol. 4: Cravos Sangrentos
Vol. 5: Dores Fantasmas
Vol. 6: O Capote do Diabo
Vol. 7: A Maldição dos Constantine
Vol. 8: Morte e Cigarros
A fase final da série clássica de John Constantine foi toda escrita por Peter Milligan, experiente roteirista que amarra as pontas e conduz a um fechamento excelente, ainda que escorregue em alguns momentos, como no constrangedor arco Amarrado. Constantine ganha aqui um ar muito mais moderno, que é intensificado pelo ótimo trabalho de arte de Leonardo Manco e Stefano Camuncoli.
O encadernado final, Morte e Cigarros, vem repleto de easter eggs e é emocionante para quem acompanhou toda a história de John Constantine.
Além desses cinquenta volumes, a chamada fase clássica de Hellblazer conta com três histórias especiais: Passagens Sombrias, escrita por Ian Rankin; Pandemônio, com roteiro de Jamie Delano e a arte sensacional de Jock; e A Cidade dos Demônios, escrita por Si Spencer com o traço sensacional de Sean Murphy.
Após finalizar a publicação de Hellblazer no Brasil, a Panini anunciou o lançamento das edições de luxo da saga de John Constantine, que reúnem tudo que já foi publicado nas versões em capa cartão em novas edições com formato maior e capa dura. Essa série conta com 26 encadernados, e o primeiro deles, intitulado Pecados Originais, está em pré-venda com data de lançamento programada para o final de outubro.
John Constantine é um dos maiores personagens dos quadrinhos e foi fundamental para a construção da Vertigo. Suas clássicas trezentas primeiras edições são leitura fundamental não só para quem se interessa por HQs e tramas com fundo ocultista, mas principalmente por boas e bem escritas histórias.
Após ler o texto, pela primeira vez na vida, me senti estimulado a ler uma HQ. Quem sabe, se o preço não for muito salgado...
ResponderExcluirSou fãzão do Jemie Delano, acho ele um roteirista sensacional. Mas a fase do Garth Ennis e o Steve Dillon trabalhando juntos é sem comparação. Não li tudo da dupla em Hellblazer, o que me faz lembrar que ainda preciso me aproximar mais de um outro trabalho deles: o Preacher.
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