Review: Megadeth – The Sick, The Dying ... And The Dead (2022)


Há uma diferença gritante entre Dystopia (2016) e The Sick, The Dying ... And The Dead (2022). Enquanto o disco de estreia da nova formação da banda de Dave Mustaine, agora com Kiko Loureiro como braço direito, trouxe um resgate do início dos anos 1990 com um foco evidente na união do peso com a melodia, o novo álbum do Megadeth, com o line-up já estabelecido e entrosado por longos anos de estrada, soa mais pesado e agressivo, mas sem abrir mão da abordagem técnica que sempre marcou a sonoridade do quarteto.

Produzido por Mustaine e Chris Rakestraw, a mesma dupla do disco anterior, o novo trabalho saiu no início de setembro e traz quatorze faixas que constroem um tracklist bem consistente. De Dystopia, apenas Dave e Kiko seguem na banda, com a bateria passando para as mãos do ótimo Dirk Verbeuren (ex-Soilwork) e o baixo ficando com Steve Di Giorgio (Testament), que trabalhou como músico de estúdio para banda, enquanto James Lomenzo retornou para o grupo e reassumiu o posto que ocupou entre 2006 e 2010.

O grande mérito do Megadeth é conseguir soar interessante e atraente beirando os quarenta anos de carreira, o que não é tarefa das mais fáceis. A própria história da banda demonstra isso através dos inúmeros altos e baixos, alternando fases mais aclamadas com outras praticamente ignoradas pelos fãs. A percepção é que a banda atravessa um período de estabilidade, e a já longa permanência de Kiko Loureiro e Dirk Verbeuren mostram isso. Mustaine vive um momento de tranquilidade – apesar do furacão que levou à demissão de David Ellefson – e pode focar na música, que é a sua principal qualidade. E, quanto isso ocorre, o Megadeth inevitavelmente alça vôos altíssimos. 

Chama a atenção a afirmação incontestável de Kiko como parceiro criativo de Dave Mustaine tanto na composição quanto nas harmonias, e também na função, obviamente não “oficial”, de fazer o chefão se puxar ainda mais na guitarra, instrumento onde Dave sempre foi celebrado. E aqui vale um elogio gigante a Kiko Loureiro: a reinvenção do brasileiro é evidente, soando não apenas mais maduro e focado no que as canções pedem e sem desbancar para o exagero, mas sobretudo sabendo se adaptar a uma sonoridade bastante diferente da executada pelo Angra, onde era uma das principais mentes criativas. Coisa de quem é um músico gigante, com M maiúsculo em todos os aspectos.

O resultado é um álbum que cumpre várias funções: mantém o Megadeth ativo, atesta a força da formação atual e deixa claro que a banda ainda soa relevante e necessária através de canções muito fortes e até mesmo surpreendentes como a quebrada música que dá título ao disco, “Night Stalkers”, “Dogs of Chernobyl”, “Soldier On!”, “Célebutante” e o fechamento em grande estilo com “We´ll Be Back”, a melhor do disco.


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