Os 25 melhores discos de 2022 na opinião da Collectors Room


Em 2022, as comportas foram abertas. Com a retomada pós-pandemia, muitos álbuns que já estavam gravados finalmente ganharam a luz do dia, com as bandas aproveitando o retorno dos shows para finalmente soltarem seus novos discos. Isso fez com que tivéssemos um ano repleto de lançamentos, em uma quantidade ainda maior que a habitual. Afinal, a música não para.

Há muita qualidade nos títulos selecionados abaixo. E não, não há nada "faltando" nas escolhas que eu, Ricardo Seelig, fiz. Se um álbum não está aqui, é porque ele não entrou na minha lista pessoal. Simples.

Como habitual, no final você encontra uma playlist com uma música de cada um dos discos presentes na lista. Assim, você tem uma prévia do que irá encontrar e pode se aprofundar nos álbuns que mais agradam o seu ouvido.

Deixe nos comentários o seu top de 2022, e viva o amor pela música e a paixão pelos discos.


25 Megadeth – The Sick, The Dying ... and The Dead!

O grande mérito do Megadeth é conseguir soar interessante beirando os quarenta anos de carreira, o que não é tarefa das mais fáceis. A própria história da banda demonstra isso através dos inúmeros altos e baixos, alternando fases mais aclamadas com outras praticamente ignoradas pelos fãs. A percepção é que o quarteto atravessa um período de estabilidade, e a já longa permanência de Kiko Loureiro e Dirk Verbeuren mostra isso - apesar dos problemas que levaram à saída de David Ellefson. The Sick, The Dying ... and The Dead cumpre várias funções: mantém o Megadeth ativo, atesta a força da formação atual e deixa claro que a banda ainda soa relevante e necessária através de canções muito fortes e até mesmo surpreendentes como a quebrada música que dá título ao disco, “Night Stalkers”, “Dogs of Chernobyl”, “Soldier On!”, “Célebutante” e o fechamento em grande estilo com “We´ll Be Back”, a melhor do disco.


24 Hällas – Isle of Wisdom

O Hällas já havia conquistado os ouvidos de quem ama doses generosas de melodia com seu disco anterior, Conundrum (2020), lançado por aqui pela Hellion Records. Isle of Wisdom, terceiro álbum da banda sueca, segue o mesmo caminho porém com uma pegada ainda mais progressiva. A galeria de influências é ótima e inclui nomes como Wishbone Ash, Uriah Heep, Camel e outros, todos perceptíveis nas oito canções do disco. “Earl’s Theme” é apenas uma das pérolas que o Hällas entrega em Isle of Wisdom e demonstra as inúmeras qualidades do trabalho. 


23 Blind Guardian – The God Machine

The God Machine funciona como uma espécie de reset. A banda alemã limou diversos aspectos da fórmula seguida a partir de Imaginations From the Other Side (1995) e Nightfall in Middle-Earth (1998), e o resultado é um som mais direto e que remete aos primeiros álbuns. Isso se traduz não apenas em peso e agressividade, mas também em frescor e vitalidade, algo que os álbuns recentes do Blind Guardian não estavam conseguindo entregar. O tracklist é sólido e traz composições ótimas como “Deliver Us From Evil”, “Violent Shadows”, “Life Beyond the Spheres”, “Secrets of the American Gods” e “Blood of the Elves”, todas com as características que tornam o som do Blind Guardian único: peso, agressividade e melodia em doses certeiras, com coros encorpando os refrãos e as interpretações magistrais de Hansi Kürsch.


22 Ibaraki – Rashomon

A música do Ibaraki alterna momentos de peso massacrante com passagens bastante atmosféricas, com Matt Heafy variando entre vocais guturais e limpos. Sonoramente, contrasta bastante com o Trivium atual, que conseguiu unir peso, violência e melodia de forma magistral em seus discos recentes. As canções de Rashomon entregam uma epopeia sônica que se revela, em diversos aspectos, como a obra mais pessoal que Heafy já deu ao mundo. Os fãs do Trivium poderão estranhar o mergulho do vocalista e guitarrista de sua banda favorita no universo do metal extremo, e Rashomon talvez não agrade uma parcela dos admiradores de discos como What the Dead Men Say (2020) e In the Court of the Dragon (2021). Mas o fato é que, explorando mais a fundo um aspecto que sempre esteve presente em sua musicalidade, Heafy demonstra o quão amplo é o seu espectro artístico e deixa abertas muitas possibilidades para os anos que virão.


21 An Abstract Illusion - Woe

Woe, segundo álbum da banda sueca An Abstract Illusion, não entrega um death metal tradicional, mas sim um som que parte do death e o adorna com elementos que vão do prog ao lado mais melódico, além de uma aura atmosférica bastante presente. O resultado é uma música que não perde a agressividade e a violência, enquanto surpreende com escolhas nada óbvias – há um trecho de piano em “Slaves”, por exemplo, que não esconde a inspiração no jazz e até mesmo na música erudita. As sete canções são longas e complexas, mas não exalam uma pretensão gratuita. É gratificante para mim ouvir um disco assim, que une o peso do metal com aspectos de outros gêneros que tanto admiro. Além de “Slaves”, vale conferir canções como “Tear Down This Holy Mountain” e “Prosperity”.


20 Marcus King – Young Blood

Quem curte southern rock sabe já há alguns anos que Marcus King é um artista que é bom ficar de olho. O vocalista e guitarrista, vindo da Carolina do Sul, tem apenas 26 anos mas já chama a atenção desde 2015, quando com apenas 19 colocou Soul Insight, álbum de estreia da Marcus King Band, nas paradas da Billboard. Após três lançamentos com a banda, King iniciou uma carreira solo com o excelente El Dorado (2020) e deu um novo passo com Young Blood. Produzido por Dan Auerbach, vocalista e guitarrista do The Black Keys, o álbum traz um blues rock sanguíneo onde a guitarra cheia de sentimento e a voz vinda da alma de Marcus King conduzem o ouvido por canções que mostram toda a rica tradição da música norte-americana. Esse cara vai ir muito longe, e acompanhar cada um de seus passos tem sido muito gratificante.


19 The Sheepdogs – Outta Sight

O quinteto canadense The Sheepdogs chamou a atenção por ser a primeira banda sem gravadora a estampar a capa da Rolling Stone, lá em 2011. Mais de uma década depois, os caras chegam ao seu sétimo disco com Outta Sight. O álbum proporciona uma viagem ao passado com um rock and roll simples e repleto de influências de blues e country, com riffs sendo cuspidos das guitarras e músicas que cativam na primeira audição. Tem um ditado que diz que menos é mais, e ele se aplica perfeitamente aqui.


18 Jethro Tull – The Zealot Gene

The Zealot Gene traz doze canções em pouco mais de 46 minutos, todas compostas por Ian Anderson, e sua sonoridade é predominantemente acústica, construída a partir do violão e da flauta. Os vocais, com o timbre profundo e grave de Ian, são um destaque à parte. O trabalho de composição é exemplar e entrega algumas das melhores músicas do Jethro Tull em décadas, como “Mrs. Tibbets”, “Mine is the Mountain”, “Shoshana Sleeping”, “Barren Beth, Wild Desert John” e “The Betrayal of Joshua Kynde”, todas adornada pelo clima medieval que só a flauta e as interpretações desse menestrel do prog possuem. The Zealot Gene é mais uma prova da genialidade de Anderson, além de um documento que comprova que músicos veteranos ainda têm muito a acrescentar ao cenário musical. 


17 The Black Keys – Dropout Boogie

Dropout Boogie vem com dez canções inéditas e já abre com uma canção que poderia perfeitamente estar no clássico El Camino (2011), o grudento single “Wild Child”. A habilidade de criar músicas simples e com grooves irresistíveis é reafirmada em “It Ain’t Over”, enquanto “For the Love of Money” não esconde a influência do boogie de John Lee Hooker. O clássico Brothers (2010) tem seu legado revisitado em “Your Team is Looking Good”. Billy Gibbons divide a guitarra com Dan Auerbach na excelente “Good Love”, uma espécie de blues levemente lisérgico e que poderia figurar em qualquer álbum do ZZ Top. Dropout Boogie possui o mesmo nível do também excelente Let’s Rock (2019), álbum de inéditas anterior do duo formado por Auerbach e Patrick Carney, com o adicional de trazer um novo hino para os shows, “Wild Child”, que já entrou na lista das grandes canções da carreira do The Black Keys.


16 Behemoth – Opvs Contra Natvram

O novo álbum do Behemoth leva o som do grupo para um lado ainda mais teatral. Isso funciona e não funciona. “Post-God Nirvana”, por exemplo, abre o disco e é uma espécie de “não música”, no sentido de que só funciona no contexto do álbum e não isoladamente. No outro lado da moeda, a banda acerta a mão em canções como a violentíssima “Malaria Vvlgata”, a grudenta “The Deathless Sun”, a técnica absurda apresentada em “Desinheritance”e principalmente em “Off to War!” e “Once Upon a Pale Horse”, as duas melhores do disco. Opvs Contra Natvram não alcança o nível estratosférico de The Satanist (2014) e I Loved You At Your Darkest (2018), mas segue comprovando através de um trabalho muito bom porque o Behemoth é uma banda pra lá de diferenciada e que faz história no metal extremo a cada novo lançamento.


15 Fantastic Negrito – White Jesus Black Problems

Fantastic Negrito chega ao seu quinto disco fazendo o que faz de melhor: uma união cirúrgica entre os diversos caminhos da música negra norte-americana. Assim, o blues une-se ao rap para soar mais contemporâneo, enquanto o funk ganha o requinte do jazz para ecoar de forma ainda mais surpreendente. Além de tudo, o bluesman canta letras com um fortíssimo apelo social e político, com críticas nadas sutis e extremamente necessárias ao absurdo que é o fato de continuarmos vendo atos de racismo não só nos Estados Unidos, mas em todo o mundo, em pleno 2022. Discão, e que vai muito além da música mais uma vez.


14 The Hellacopters – Eyes of Oblivion

Primeiro disco do The Hellacopters em quatorze anos, Eyes of Oblivion marca o retorno do quinteto sueco, um dos nomes mais legais surgidos no rock durante a década de 1990 e 2000. O que temos são músicas energéticas, cativantes pra caramba e que despejam riffs e melodias sem maiores pudores, tudo devidamente amparado por refrãos redondos, uma performance sanguínea e a acessibilidade característica da banda. Há um evidente sentimento de volta às origens, explicitado em canções fortes como “Reap a Hurricane”, a grudentíssima música que batiza o disco e “Tin Foil Soldier”, essa última com harmonias de guitarra que remontam aos primeiros anos do southern rock. O álbum traz também momentos de respiro no blues malandro de “So Sorry I Could Die” e nas atmosferas mais suaves - pero no mucho - de “A Plow and a Doctor” e “The Pressure’s On”. Facilmente, um dos lançamentos mais legais de 2022.


13 Ozzy Osbourne – Patient Number 9

Um dos atrativos de Patient Number 9 é trazer Ozzy ao lado de alguns dos maiores guitarristas que o rock já ouviu. Participam do álbum Jeff Beck, Mike McCready, Eric Clapton e Josh Homme, além dos parceiros de longa data Zakk Wylde e Tony Iommi. A presença desses convidados coloca o trabalho em um nível superior e parece ter inspirado o vocalista nas composições. Traduzindo: trata-se do melhor álbum de Ozzy Osbourne em anos, e o meu preferido desde Ozzmosis (1995). Patient Number 9 é surpreendente, e um disco que Ozzy estava devendo aos fãs há um certo tempo. Pode ser que seja a sua despedida e, se realmente for o seu último trabalho, fecha de maneira sublime uma das mais inacreditáveis trajetórias que o rock presenciou.


12 Eric Gales – Crown

Na ativa desde o início da década de 1990 e com quase vinte álbuns embaixo do braço, Eric Gales soube evoluir o seu som ao longo dos anos, e o resultado é um blues que não apenas conversa com os assuntos de hoje, mas também soa contemporâneo ao apresentar influências nada ortodoxas. A abertura de Crown, com “Death of Me”, ecoa a sempre presente ascendência de Jimi Hendrix, enquanto a música seguinte, “The Storm”, vai para um delicioso caminho que une rhythm and blues com o jazz. Joe Bonamassa marca presença na paulada “I Want My Crown”, em um duelo faiscante com Gales. E esses são apenas algumas das qualidades de um disco que mostra porque Eric Gales merece a coroa como uma das grandes referências do blues contemporâneo. Ouça já!


11 Scorpions – Rock Believer

Uma palavra que define com exatidão o novo álbum do Scorpions é “simpático”. Sim, Rock Believer, décimo nono trabalho da maior lenda do hard rock alemão, é um disco simpático no sentido que atrai o ouvinte de uma forma agradável, com canções que proporcionam um sentimento de prazer a qualquer fã da banda. Não sei dizer, mas é provável que eu não me empolgasse tanto com um álbum do quinteto desde quando fiz a primeira audição da dobradinha Love At First Sting (1984) e World Wide Live (1985), ou quando descobri os discos clássicos que a banda lançou durante a década de 1970. O Scorpions terá problemas para montar o tracklist de seus shows após Rock Believer, porque várias das músicas deste disco pedem para serem tocadas nos shows e certamente serão bem aceitas pelo público. É muito bom ouvir um álbum tão bom como esse, de uma banda tão importante para milhões de pessoas como é o Scorpions.


10 Whiskey Myers – Tornillo

Quando se fala da cena atual do southern rock, o primeiro nome que vem à mente é o Blackberry Smoke, e com justiça. Mas a tradição do rock sulista não é carregada apenas pela banda natural de Atlanta. Os texanos do Whiskey Myers dividem os holofotes com um som tão cativante quanto. Tornillo, sexto álbum do sexteto, traz doze canções que funcionam como trilha sonora perfeita para uma viagem sem pressa e sem destino. A canção que fecha o disco, a balada “Heart of Stone”, é uma das grandes criações da banda e traz o vocalista Cody Cannon em uma performance arrepiante.


9 Arch Enemy – Deceivers

O Arch Enemy conseguiu se descolar do seu gênero inicial, o death metal melódico, e hoje faz simplesmente um metal agressivo, pesado, técnico e repleto de melodia. Os caras desenvolveram  um estilo próprio, característica que diferencia as grandes bandas. Há uma surpresa inicial em “Handshake With Hell”, com Alissa White-Gluz variando o vocal gutural com sua voz natural, alcançando um resultado ótimo e que aponta para um caminho que o grupo pode seguir nos próximos anos. O trabalho de composição, como sempre, é primoroso, equilibrando violência sonora com acessibilidade, resultando em um som absolutamente contagiante. Alissa merece elogios à parte, pois ela é a cara da banda e o principal ingrediente que renovou o som do Arch Enemy. Deceivers é o documento definitivo da força monolítica do atual Arch Enemy, uma reunião de músicos experientes e talentosos trabalhando juntos para fazer história no heavy metal. 


8 The HU – Rumble of Thunder

O The Hu conquistou o meu coração por entregar uma receita que sempre mexe comigo: peso com elementos étnicos. Rumble of Thunder é apenas o segundo álbum da banda natural da Mongólia, e chega três anos após a estreia The Gereg (2019). Contando com oito músicos, o grupo faz um som absolutamente original, repleto de instrumentos nativos de seu país de origem e com letras que variam entre o mongol e o inglês. A sensação é que estamos ouvindo a trilha sonora para uma batalha épica que está prestes a começar. Um álbum excelente e farto em uma qualidade cada vez mais rara nos dias atuais: a originalidade.


7 Porcupine Tree – Closure / Continuation

Liderado pelo principal nome do progressivo moderno, o vocalista, multi-instrumentista e produtor Steven Wilson, o Porcupine Tree retornou após treze anos sem material inédito, desde The Incident (2009). E a volta aconteceu dentro do que era esperado pelos fãs: em grande estilo. Closure / Continuation não inova radicalmente em nenhum momento – essa abordagem Steven guardou, aparentemente, para seus trabalhos solo – mas demonstra a majestade prog, a criatividade incessante, a emoção sempre latente e a precisão técnica que construíram a carreira da banda britânica. Mais um trabalho excelente para uma discografia espetacular.


6 Clutch – Sunrise on Slaughter Beach

Sempre que ouço um álbum do Clutch me espanto com o quanto esta banda norte-americana é praticamente desconhecida no Brasil. Sunrise on Slaughter Beach possui todos os elementos que constroem um grande disco: canções fortes, hits potenciais, performance impecável. Basta dar um simples play para perceber tudo isso desde a primeira música. O Clutch é rock pesado sem firulas, cru e com a faca sempre nos dentes. Não conhece ainda a banda? Então pare tudo e resolva isso imediatamente!


5 Thunder – Dopamine

Na estrada desde o final dos anos 1980, o Thunder viveu uma década de 2010 repleta de grandes discos e segue com o nível lá em cima. Dopamine é o décimo quarto álbum dos ingleses e reúne algumas das canções mais inspiradas de 2022. É rock na essência da definição do termo, cheio de energia e que pega você pelas mãos sem maiores cerimônias, conduzindo o ouvido por um mundo construído com grandes riffs, melodias fortes e refrãos inesquecíveis. O termo “discaço” é usado a rodo atualmente, e muitas vezes para definir discos não tão bons assim. Não é o caso aqui. Dopamine faz jus ao seu título e libera doses enormes de felicidade, prazer e satisfação a cada nova audição.


4 Kreator – Hate Über Alles

É interessante como o Kreator incorporou elementos de power metal ao seu som, e isso se traduziu em uma presença maior de melodias, climas ainda mais épicos e um incremento de velocidade nas composições. Ao longo dos anos, a banda também trouxe doses cavalares de groove para a sua música, o que imprimiu uma identidade mais contemporânea e moderna a um grupo que surgiu lá atrás, quando o thrash era apenas mato, e foi fundamental para desenvolver um dos gêneros mais populares do metal. Toda essa experiência se mantém intacta nas composições de Hate Über Alles, com o bônus da agressividade sempre presente no som do Kreator permanecendo onipresente. Hate Über Alles prova a longevidade da relevância da banda alemã, que mesmo beirando as quatro décadas de história segue entregando álbuns que se inscrevem facilmente entre seus melhores trabalhos.


3 Tears For Fears – The Tipping Point

Assim como a música, a ourivesaria é uma das artes mais antigas da humanidade. Ela nos acompanha desde que nos entendemos como indivíduos pensantes, com os achados mais antigos apontando para 2.500 a.C. A arte de transformar metais preciosos em joias e ornamentos foi aprimorada ao longo dos séculos, assim como a arte de transformar sentimentos em sons que tocam as nossas mais profundas emoções. E, sobre esse ponto de vista, poucas bandas alcançaram o nível de excelência que o Tears For Fears mostrou em sua carreira e, notadamente, em seu novo disco. The Tipping Point é uma obra-prima da ourivesaria musical. Primeiro álbum do duo inglês em 18 anos, traz Roland Orzabal e Curt Smith trabalhando cada aspecto, cada nota, cada arranjo, à perfeição. Essa já era uma característica da banda em toda a sua discografia, mas aqui ficou ainda mais evidente. Talvez isso tenha a ver com a maturidade, já que tanto Roland quanto Curt estão na casa dos sessenta anos. Ou talvez seja reflexo desse hiato entre The Tipping Point e seu antecessor, Everybody Loves a Happy Ending (2004), cujos dezoito anos de diferença marcam a exata idade em que a sociedade nos considera maduros, adultos e prontos para a vida. Independentemente da razão, é um álbum cuja audição mexe com qualquer pessoa que ama a música acima dos rótulos e limites impostos por estilos.


2 Machine Head – Of Kingdom and Crown

Ainda que o Machine Head se apegue em uma fórmula, ela é extremamente eficaz e foi desenvolvida pela própria banda. E essa característica é comum aos grandes nomes da música, diga-se de passagem: criar uma sonoridade original e conquistar o público através de suas próprias ideias. É o que ouvimos em Of Kingdom and Crown. Os mais de dez minutos de “Slaughter the Martyr”, por exemplo, entregam uma abertura na mesma escola de “Clenching the Fists of Dissent” e “I Am Hell (Sonata in C#)”, primeiras músicas de The Blackening (2007) e Unto the Locust (2011), respectivamente. É o metal climático e extremamente emocional do Machine Head em sua melhor forma, com vocais belíssimos e um arranjo que equilibra peso, melodia e doses enormes de sentimento. Of Kingdom and Crown é excelente e marca uma retomada das grandes e enormes qualidades do Machine Head do século XXI, período em que a banda gravou aqueles que, para muitos, são os seus melhores discos.


1 Ghost – Impera

A evolução do Ghost ainda não atingiu seu ápice. Impera, quinto álbum da banda sueca, prova isso de forma explícita. Há um claro passo a frente em relação aos discos anteriores, com o som soando mais maduro e explorando novos caminhos. Percebem-se influências de hard rock, AOR, pop e o lado mais tradicional do metal. Há elementos que remetem a nomes como Boston, Bon Jovi, Def Leppard e Dio, além da influência sempre presente de Blue Öyster Cult. O trabalho de melodia, pontes e refrãos é exemplar, mostrando o apuro do processo de composição. Está tudo no lugar certo, sensação amplificada pela excelente produção e mixagem. Maior fenômeno da música pesada do século XXI, o Ghost amplia a sua presença e aumenta a sua força com Impera. Já consolidada na cultura pop tanto por sua música quanto pelo aparato visual, a banda sueca caminha a passos largos para se transformar em uma das maiores de sua geração.

Comentários

  1. Dentre os discos citados, só não conheço apenas 3, eles são: The Hu, An Abtract Illusion e Ibaraki. Vou procurá-los depois. Mais uma vez uma bela lista, que tragega entre diferentes gêneros e isso é o que torna a lista da Colectors Room tão atrativa.

    Os meus melhores do ano foram esses:
    📀25ºKrisiun - Mortem Solis

    📀24ºDan Patlansky - Shelter Of Bones

    📀23ºThe Heavy Heavy - Life And Life Only

    📀22ºSammy Hagar And The Circle - Crazy Times

    📀21ºClutch - Sunrise On Slaughter Beach

    📀20⁰Bush - The Art Of Survival

    📀19⁰Tedeschi Trucks Band - I Am The Moon

    📀18⁰Björk - Fossora

    📀17ºRed Hot Chilli Peppers - Unlimited Love

    📀16ºAlter Bridge - Pawns & Kings

    📀15ºZé Ramalho - Ateu Psicodélico

    📀14⁰Stratovarius - Survive

    📀13⁰Ozzy Osbourne - Patient Number 9.

    📀12⁰Elvis Costello & The Imposters - The Boy Named If

    📀11⁰Skid Row - The Gang's All Here

    📀10⁰Tears For Fears - The Tipping Point

    📀9⁰Jethro Tull - The Zealot Gene

    📀8⁰The Dead Daisies - Radiance

    📀7⁰Ratos De Porão - Necropolítica

    📀6⁰Megadeth - The Sick, The Dying...And The Dead

    📀5⁰Gov't Mule - Stoned Side Of The Mule

    📀4⁰A-Ha - True North

    📀3⁰Audrey Horne - Devil's Bell

    📀2⁰Scorpions - Rock Believer

    📀1⁰Ghost - Impera


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  2. Bela lista! Meus prediletos de 2022 são o seguintes:

    Fontaines D.C. – Skinty Fia
    Lasso - Amuo
    Cave In – Heavy Pendulum
    Wet Leg – Wet Leg
    Cate Le Bon – Pompei
    Machine Head – Of Kingdom and Crown
    Kreator – Hate Uber Alles
    Drug Church – Hygiene
    Criolo- Sobre Viver
    Hermanos Gutierrez – El Bueno y El Malo

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  3. Mto legal ver Woe aqui, baita banda com puta álbum msm.

    Meu top seria:

    25. Messa - Close (Doom Metal)
    24. MWWB - The Harvest (Stoner Metal)
    23. Mondo Grosso - BIG WORLD (jpop)
    22. Immolation - Acts of God (death metal)
    21. Apink - HORN (kpop)
    20. Yeule - GLITCH PRINCESS (glitch pop)
    19. Celeste - Assassine(s) (sludge metal/black metal)
    18. Lexie Liu - THE HAPPY STAR (Mandopop)
    17. Asunojokei - Island (Blackgaze)
    16. An Abstract Illusion - Woe
    15. Sigh - SHIKI (avant garde metal)
    14. Petit Brabancon - Fetish (Visual Kei)
    13. Rammstein - Zeit
    12. Ado - 狂言 (jpop) - maior revelação da cena deles nos últimos 3 anos -
    11. Kilo Kish - American Gurl (pop)
    10. Electric Callboy - TEKKNO (Electronicore) - essa banda tem tudo para ser gigante, som extremamente único, vale a pena conferir -
    9. Perfume - PLASMA (electropop/jpop)
    8. Wiegedood - There's Always Blood at the End of the Road (black metal)
    7. Blind Guardian - The God Machine
    6. Unlucky Morpheus - evolution (Metal Sinfônico) - Tem uma violinista nessa banda, é fantástico
    5. White Ward - False Light (black metal/jazz)
    4. Vein.FM - The World is Going to Ruin You (metalcore/alternativo)
    3. Zeal & Ardor - Zeal & Ardor (black metal experimental)
    2. DIR EN GREY - PHALARIS (Prog/metal alternativo)
    1. Hikaru Utada - BADモード (contemporary R&B/Jpop)

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    Respostas
    1. Woe não é o nome da banda, é o nome do álbum. A banda chama An Abstract Illusion.

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    2. Sim tava falando do álbum (tanto que dps coloquei nome certo no meu top). Me expressei errado msm

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