Review: Noturnall – Cosmic Redemption (2023)


Em muitos aspectos, o Noturnall é uma espécie de continuação do Adrenaline Mob, supergrupo formado em 2011 por Russell Allen (vocalista do Symphony X), Mike Orlando (guitarrista pra lá de técnico e referência no instrumento) e Mike Portnoy (no seu primeiro projeto após a saída do Dream Theater). Também passaram pelo quarteto nomes como John Moyer (baixista do Disturbed), A.J. Pero (baterista do Twisted Sister) e David Z. (baixista que acabou falecendo no acidente sofrido pela banda em 2017 e que levou ao fim do grupo). 
Orlando então juntou forças com a banda brasileira Noturnall participando da faixa “Wake Up!”, presente no terceiro disco dos caras – 9 (2017) – e entrou definitivamente em 2018. 

O Noturnall, que surgiu do fim da segunda encarnação do Shaman, sempre primou por um som super técnico e que conversava com influências mais contemporâneas, e essa característica se intensificou ainda mais com a chegada de Mike Orlando, como mostrou o ao vivo Made in Russia (2020) e fica comprovado de vez no novo trabalho, Cosmic Redemption. E aqui vai uma informação importante: Mike Orlando gravou o disco ao lado de Thiago Bianchi (vocal), Saulo Xakol (baixo) e Henrique Pucci (bateria), mas deixou o quarteto no final de 2022. A solução foi caseira: Leo Mancini, guitarrista original, retornou ao posto.

Cosmic Redemption traz dez canções e foi produzido por Bianchi e Orlando. O disco conta com as participações especiais de Mike Portnoy (em “Scream! For!! Me!!!”), David Ellefson (em “Take Control”) e Ney Matogrosso (em uma versão para “O Tempo Não Para”, de Cazuza), além de Michael Romeo (guitarrista do Symphony X), responsável pela condução das partes orquestradas e dos coros de “Shadows (Walking Through”). O álbum foi lançado apenas em CD em um ato de valorização da mídia física, e até o momento da publicação deste review ainda não está disponível nos streamings de música.

Impressiona a musicalidade apresentada pelo Noturnall em Cosmic Redemption. O trabalho é super pesado, unindo a abordagem mais groove de Orlando com o background power e prog metal de Bianchi, Xakol e Pucci, e o resultado é o melhor disco da banda brasileira até o momento. Épico sem soar exagerado e intrincado sem parecer intransponível, o álbum retrata a maturidade de um grupo de músicos que sempre primou pelo absoluto domínio de seus instrumentos, e que aqui conseguiu soar, além de impressionante, também bastante cativante.

O tracklist é forte e traz vários destaques. “Try Harder”, a música de abertura, é um ótimo cartão de visitas do que virá a seguir. “Reset the Game” traz Mike Orlando com o modo shred ativado e levando toda a banda junto na mesma pegada. O groove dá o tom em “Lie to You”, que tem tudo pra funcionar muito bem ao vivo, enquanto “Shallow Grave” é uma das melhores do álbum e traz o baterista Henrique Pucci mostrando porque é um dos melhores nomes brasileiros do instrumento. O clima dá uma acalmada com a bonita “Shadows (Walking Through)”, onde os belos arranjos orquestrais fazem toda a diferença. Baldes de melodia carregam a música que batiza o disco, a que mais se aproxima do power metal. Já “Scream! For!! Me!!!” é um exercício extremo em todos os sentidos, dos vocais de Bianchi à bateria de Portnoy. A pesada e necessária versão para “O Tempo Não Para” soa super atual, com um interessante contraste entre os timbres de Thiago e Ney Matogrosso. O disco retoma o peso com “Take Control” – que traz Dave Ellefson no baixo – e fecha com “The Great Filter”, essa última soando um pouco abaixo do restante das faixas.

Individualmente o destaque vai para Thiago Bianchi, que além de ter se tornado um produtor de mão cheia também evoluiu muito como vocalista, e hoje soa muito mais maduro na função. A bateria de Henrique Pucci também é um dos pontos altos do disco, principalmente para quem é fã do instrumento, como é o meu caso.

Cosmic Redemption é um senhor álbum, com uma sonoridade que vai muito além do que estamos acostumados encontrar em um trabalho de uma banda brasileira. O disco soa moderno e contemporâneo, e, acima de tudo, entrega grandes canções para quem curte um som pesado e que tem como principais características a técnica e o virtuosismo.


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