Review: Miley Cyrus – Endless Vacation Summer (2023)


É curioso perceber como Miley Cyrus virou a sua carreira musical de cabeça pra baixo. A antes queridinha da Disney e estrela da série teen Hannah Montana se transformou em uma espécie de Stevie Nicks do século XXI, e com méritos próprios. Essa transição foi feita de forma gradual e com direito a um período de atitudes polêmicas, shows provocativos e clipes com cenas de nudez estrategicamente clicadas. Todo esse processo gerou trabalhos cada vez mais maduros, notadamente os dois últimos discos da cantora, Younger Now (2017) e Plastic Hearts (2020).

Endless Vacation Summer, lançado em 10 de março, é o oitavo álbum da Miley Cyrus e dá sequência a uma carreira em notável ascensão não apenas comercial, mas também artisticamente. Filha de um dos mais conhecidos nomes da country music norte-americana, o astro Billy Ray Cyrus, Miley ergueu seu próprio universo com inegável talento, e isso fica evidente mais uma vez em seu novo trabalho.

Assim como ouvimos em Plastic Hearts, a sonoridade de Endless Vacation Summer é extremamente orgânica, com timbres bem escolhidos, arranjos cirúrgicos porém nada artificiais executados uma senhora banda, com destaque para o baixista Jonny Coffer. O som é um pop adulto e distante da música pop atual, exageradamente influenciada pelo R&B e dominada por timbres artificiais e descartáveis demais, e contrasta com o disco anterior, que apresentou uma pegada mais rock. Miley Cyrus faz canções que duram e não são nada efêmeras, e isso é um dos principais diferenciais do seu trabalho.

O timbre rouco e às vezes áspero de sua voz soa, e aí vai a comparação mais uma vez, como uma versão mais nova de Stevie Nicks. Repleta de sentimento, Cyrus interpreta com total controle suas letras, muitas delas com histórias autobiográficas. Aproxima-se do country, universo do seu pai, em “Thousand Miles”, com participação de Brandi Carlile. Variando entre baladas que nunca caem no excesso de glicose e canções que mostram uma plenitude contagiante, Miley Cyrus abre as portas de todo um novo universo musical do alto dos seus trinta anos, completados em novembro de 2022.

Com doze canções e as participações especiais de Brandi Carlile e Sia, os destaques se sucedem em Endless Summer Vacation. “Flowers”, a música de abertura, já é um hit global e cativa pela serenidade com que os versos são cantados. “Jaded” é uma pérola pop com ar contemplativo, enquanto a balada “You” bebe no universo dos grandes nomes do jazz pop e é pra lá de bonita. Em “River”, os teclados iniciais remetem a algum filme perdido dos anos 1980, e essa sensação permanece por toda a canção. A parceria com Sia em “Muddy Feet” coloca duas das vozes mais importantes da música atual em um dueto certeiro e repleto de energia. Cítaras imprimem um clima místico para “Island”, que conta com uma grande interpretação vocal e transmite a sensação de estarmos ouvindo uma cantora em paz consigo mesma e no auge do seu talento. “Wonder Woman” fecha o álbum apenas com voz e piano, e é um excelente veículo para Miley mostrar o poder de sua voz.

Mais uma vez, Miley Cyrus anda para frente e mostra o porque de ser uma das artistas mais celebradas do pop atual. Endless Summer Vacation é um senhor disco, está repleto de ótimas canções e até mesmo um futuro clássico, a sensacional “Flowers”. Certamente, um dos grandes álbuns de 2023.


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