Livro: Deep Purple 1968-1976, de Jerry Bloom (2023, Estética Torta)


O tempo passava mais devagar no passado. Essa percepção é comprovada tanto pela atual urgência onipresente, onde tudo é consumido – e vivido – na velocidade da luz, quanto ao nos darmos conta que os oito anos que transformaram o Deep Purple em uma das maiores bandas da história do rock é o mesmo tempo que o Metallica levou para lançar dois dos seus últimos discos: Death Magnetic saiu em 2008 e Hardwired ... To Self-Destruct em 2016.

Deep Purple 1968-1976 cobre a primeira parte da carreira da banda inglesa e foi escrito por Jerry Bloom, jornalista e fã apaixonado do grupo. O livro tem 304 páginas, é dividido em sete capítulos e traz uma discografia detalhada da banda na parte final. A editora Estética Torta lançou Deep Purple 1968-1976 em duas edições: uma mais luxuosa em capa dura e outra mais simples, com capa brochura. Ambas possuem o mesmo conteúdo.

O Deep Purple foi um fenômeno da natureza comandado por um músico genial, o guitarrista Ritchie Blackmore. Ao seu lado, dois outros instrumentistas sensacionais: o tecladista Jon Jord e o baterista Ian Paice. Bloom faz um ótimo trabalho esclarecendo as origens da banda e as influências iniciais de seus integrantes, com uma abordagem que irá deliciar os fãs. A fase inicial com o vocalista Rod Evans e o baixista Nick Simper ganha bastante foco, lançando luz sobre um período que é negligenciado até hoje por grande parte dos fãs. A chamada MKI foi ofuscada pelas demais formações do quinteto, e mesmo não alcançando a projeção e não gravando álbuns com a qualidade apresentada pelas formações seguintes, foi responsável por apresentar a banda ao mundo.

Mas foi com a chegada de Ian Gillan e Roger Glover que o Deep Purple se transformou em uma das maiores bandas do planeta. E é curioso perceber que isso só foi possível devido ao impacto gigante do Led Zeppelin em Blackmore, com o guitarrista ficando absolutamente fascinado pelo som da banda de Jimmy Page e, mais especificamente, com Robert Plant e sua voz. A chegada de Gillan foi consequência disso.

É muito interessante descobrir como a banda desenvolveu o seu som, deixando de lado a psicodelia dos primeiros anos para mergulhar no peso a partir de In Rock (1970), em uma fase inspiradíssima que deu ao mundo o clássico Machine Head e o sensacional ao vivo Made in Japan, ambos lançados em 1972. O livro mergulha fundo nos bastidores conturbados do Purple, que durante toda a primeira parte da sua carreira sempre foram explosivos. Gillan e Blackmore, principalmente, não se suportavam, e isso levou à saída do vocalista. E Ritchie, convenhamos, apesar de ser um dos guitarrista mais geniais que o rock já ouviu, também é um dos indivíduos mais difíceis de conviver que a música deu ao mundo.

A chegada do talentoso Glenn Hughes e do então desconhecido David Coverdale é contada em detalhes, e reacendeu a chama do Deep Purple. Burn (1974) mostrou que a banda ainda tinha muita lenha pra queimar, mas Stormbringer (também de 1974) já tirou novamente o grupo dos trilhos com uma aproximação com o funk e o soul, o que deixou Blackmore descontente e o fez sair da banda. A fase final, com Tommy Bolin assumindo a guitarra, teve um início animador com o subestimado Come Taste the Band (1975) e um final trágico com a morte de Bolin, e tudo isso é contado nas páginas da obra.

É interessante perceber como, mesmo fora do Purple, os integrantes permaneceram próximos do universo da banda, principalmente por muitos dividirem os mesmos empresários ou por serem contratados da Purple Records, gravadora fundada pelos managers do grupo em 1971. A “família Purple” tinha também agregados como a banda norte-americana Elf, que abriu diversos shows do quinteto e era liderada por Ronnie James Dio, vocalista que mais tarde teria papel fundamental no Rainbow, banda que Blackmore formou após a sua saída do Deep Purple.

O livro foi traduzido por Marcelo Vieira e possui ótimo ritmo, com o texto, que é muito informativo, prendendo o leitor sem maior esforço. No entanto, há uma série de erros de revisão ao longo da leitura, e mesmo que eles não comprometam a experiência, é sempre chato quanto isso acontece.

Deep Purple 1968-1976 corrige uma falha história do mercado editorial brasileiro com uma das maiores bandas de todos os tempos, que até esse livro não tinha a sua história publicada por aqui. A obra é excelente e entrega o que os apaixonados pela banda esperam, e ajuda a entender porque o Deep Purple, mesmo navegando por mares tão instáveis, se transformou na lenda que é.

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