Livro: Surrender – 40 Músicas, Uma História, de Bono (2022, Intrínseca)


A autobiografia de Bono é um livro sobre a fé. A fé em grandes nomes da história da música como David Bowie, Paul McCartney, Quincy Jones, Brian Eno, Luciano Pavarotti, Prince e muitos outros. A fé em personagens marcantes como Mikhail Gorbatchov, João Paulo II, Nelson Mandela, Steve Jobs, Bill Gates, Barack Obama e dezenas de outros. A fé religiosa que sempre guiou a vida de Bono e a carreira do U2. A fé nas pessoas, no mundo e na força da transformação.

Publicada no final de 2022 de maneira simultânea em todo o mundo, Surrender: 40 Músicas, Uma História traz o vocalista do U2 contando a sua vida em 616 páginas, além de uma galeria de fotos. O livro é estruturado em quarenta capítulos, cada um deles batizado com o título de uma canção do U2. Como bem diz Bono em certo momento do livro, são as músicas conduzindo a sua história. Outra citação diz muito sobre o autor: “Tenho uma memória muito boa, exceto pelas coisas que esqueci”. A julgar pela quantidade de histórias contadas na obra, Bono esqueceu pouquíssimas coisas de sua trajetória.

Surrender fala muito sobre o U2, mas não só isso. Alguns dos melhores momentos estão nas histórias de bastidores envolvendo canções, álbuns e shows da banda, mas também em encontros com pessoas que não tem nada a ver com o universo musical. Bono sempre foi um ativista, tanto político como social, e essa postura está em sua origem. O U2 e seus integrantes nasceram em uma Irlanda dividida por questões religiosas, onde até mesmo o casamento entre católicos e protestantes não era bem visto. A religião sempre teve um papel central na vida dos músicos – com exceção de Adam Clayton, o mais cético dos quatro. E isso permeia todo o livro e a própria trajetória de Bono e do U2.

O texto é muito bem escrito, com Bono revelando ser um excelente contador de histórias, algo já esperado de um letrista com um talento singular como o que sempre demonstrou. A leitura revela momentos marcantes como a revelação que “One”, de Achtung Baby (1991), salvou a banda do fim. Ou a confissão de que “Vertigo”, de How to Dismantle an Atomic Bomb (2004), é a gravação favorita do vocalista.

À medida que as páginas avançam, o livro se revela algo muito maior do que a autobiografia do frontman de uma das maiores bandas da história do rock. O ativismo de Bono o levou a estar frente a frente com alguns dos personagens mais importantes e impactantes das últimas décadas, e esses encontros não apenas proporcionaram momentos de transformação na sua vida e no próprio mundo, como são responsáveis por alguns dos melhores trechos de Surrender. A conversa franca com Gorbatchov, conhecer o então candidato Bill Clinton no auge de uma festa, confrontar e ser confrontado por Steve Jobs, beber com Obama e se retirar para curar a ressaca.

A edição da Intrínseca é muito bonita, com guardas na cor amarela que mostram o U2 capturado no início da carreira e uma foto belíssima de Ali, esposa de Bono e personagem central da obra. No entanto, há um número considerável de pequenos erros de revisão e algumas frases parecem não ter sido muito bem traduzidas, com erros de concordância e gramaticais. Isso não chega a comprometer a leitura, mas é algo que precisa ser corrigido nas edições futuras.

Ao final da leitura, fica claro que Surrender é muito mais que o relato da vida de Bono. Trata-se de um livro emocionante, que faz pensar e tem um imenso potencial para transformar a vida de quem o lê de uma forma positiva e permanente. E isso acontece porque a narrativa aproxima o leitor e os personagens, como se estivéssemos nós mesmos vivendo tudo que o vocalista do U2 viveu.

A autobiografia é de Bono, mas as histórias são nossas.

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