Review: Crown Lands – Fearless (2023)


“Me diga com quem andas, que te direi quem és”
: esse é um dos mais conhecidos ditados populares, e também pode ser aplicado à música. O exercício é bem simples: assim como o Greta Van Fleet é associado de forma direta com o Led Zeppelin, o Crown Lands faz o mesmo com o Rush. E ainda por cima são canadenses, olha só ...

Fearless, segundo álbum do Cody Bowles (vocal e bateria) e Kevin Comeau (guitarra, baixo e teclado), bebe de forma direta e sem cerimônia na fase inicial do trio formado por Geddy Lee, Alex Lifeson e Neal Peart, mais especificamente nos álbuns Fly By Night (1975), 2112 (1976), A Farewell to Kings (1977) e Hemispheres (1978). O timbre vocal de Cody é muito semelhante ao de Lee, a guitarra de Kevin segue à risca a escola Lifeson, as viradas de bateria são no estilo Peart e a estrutura das canções não esconde a influência em nenhum momento. A sensação de estar ouvindo um novo álbum do Rush é constante durante a audição de Fearless, acentuando uma característica que era apenas ventilada no autointitulado disco de estreia de 2020 e que aqui fica escancarada. E aí vale a pergunta: por que o Crown Lands pode fazer isso e o Greta Van Fleet não? Por que é permitido imitar o Rush, mas xerocar o Led Zeppelin não? Se um pode, por que o outro não?

A resposta certamente passa pela projeção alcançada, de forma meteórica, pelo Greta Van Fleet, que surgiu do nada e foi alçado à condição de nova salvação do rock da noite para o dia. A abordagem na linha The Voice de Josh Kiszka, mais gritando do que cantando em vários momentos, também não ajuda. Mas é inegável que o quarteto vindo do Michigan está evoluindo álbum a álbum, distanciando-se cada vez mais da sombra de Jimmy Page e sua turma.

A julgar pelo que apresenta em Fearless, falta muito ainda para o Crown Lands fazer isso. A canção de abertura, “Starlifter: Fearless Pt. II”, é a “2112” da banda, inclusive com acordes semelhantes. E isso não apenas fica claro de forma instantânea, como também incomoda. “Dreamer of the Dawn” segue pelo mesmo caminho, assim como “Context: Fearless Pt. I”, onde a bateria imita até mesmo o modo como Neil Pearl trabalhava o uso do chimbal. As variações de dinâmica, com a guitarra dedilhada conduzindo os momentos mais calmos, são outra receita usada com maestria pelo Rush e replicada pelo Crown Lands. A introdução de “Reflections” traz elementos da intro de “Xanadu” e “La Villa Strangiato”, e as semelhanças vão se sucedendo em praticamente todas as nove faixas do álbum.

A música do Crown Lands é legal, mas precisa se distanciar do universo do Rush, sob pena de o duo se transformar em um novo Airbourne, que por mais que tenha bons discos sempre será mais lembrado pela semelhança com o AC/DC do que por méritos próprios.

Precisa ser sempre original? Não. Mas precisa ser tão idêntico? Também não. Faltou esse equilíbrio para o Crown Lands em Fearless, e por mais que o álbum seja legal de ouvir, a sensação de “banda cover” vai além da conta.

Cody Bowles e Kevin Comeau precisam aprender com o Greta Van Fleet e, principalmente, com o Rival Sons, a como encontrar o seu próprio som sem abrir mão de suas influências. Pelo que foi mostrado em Fearless, a jornada será longa até isso acontecer.


Comentários

  1. De fato, a banda é igualzinha ao RUSH. Cabe ao gosto do freguês saber se isso é um problema ou não, e para mim não é. Se a música é boa aos meus ouvidos, que importância há se ela é original ou não? Me parece que só "rockeiro tiozão" que já passou dos 50 anos é que tem essa preocupação e esse, digamos, purismo...Quanto à citação ao GRETA VAN FLEET sobre exemplo de banda que encontrou "personalidade", só posso encarar isso como uma ironia pesada do crítico, pois a banda, mesmo fazendo discos agradáveis de se ouvir, continua sendo uma cópia escarrada do LED ZEPPELIN.

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  2. Pastiche não vale o tempo despendido... se é pra ouvir clones como orchid, greta e afins, fico com os originais!

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