Review: Depeche Mode – Memento Mori (2023)


Reduzido a um duo após a morte de Andy Fletcher, o Depeche Mode foi resumido à dupla Dave Gahan (vocal) e Martin Gore (teclado e guitarra) em Memento Mori, seu décimo quinto álbum, lançado em 24 de março. Como era de se esperar não só pela perda imensa de Fletcher, fundador e figura central na música do grupo, mas pelo próprio histórico da banda, o que ouvimos é um álbum sombrio e denso.

O apelo gótico melancólico dá o tom, sempre amparado pelos teclados característicos. A voz de Gahan varia entre em operístico e o forte timbre grave, enquanto Gore cria melodias e arranjos que tornam Memento Mori superior ao trabalho anterior, Spirit (2017). Os coros presentes em todo o disco, seja através da voz dobrada de Gahan ou pelas intervenções de Gore, funcionam como um eficaz elemento que imprime muito mais dramaticidade às canções.

“My Cosmos is Mine” abre o álbum com a sobriedade e a densidade esperadas, enquanto “Wagging Tongue” mostra a majestade de uma banda que, desde que surgiu, se tornou referência em seu universo sonoro. “Ghosts Again” é um single fortíssimo, e uma das melhores músicas lançadas pelo Depeche Mode em anos. “Don’t Say You Love Me” conversa com os anos 1980 mas sem soar saudosista, enquanto “My Favourite Stranger” é outro dos destaques imediatos do trabalho.

“Soul With Me” contrasta com o restante do tracklist por apresentar influências de soft pop, e acaba soando um tanto etérea. “Caroline’s Monkey” corrige o rumo com uma grande interpretação de Dave Gahan e entrega uma magnificência que só uma lenda como o Depeche Mode é capaz. “People Are Good” conversa com a clássica “People Are People” e mostra claramente em sua letra a desilusão com a humanidade. “Never Let Me Go” apresenta alguns elementos de industrial e timbres mais ásperos, e o álbum fecha explorando a densidade e a dramaticidade que são suas marcas principais com “Speak to Me”.

Ainda que tenha momentos um tanto fracos – notadamente “Soul With Me” e “Always You” -, eles não comprometem o resultado final de Memento Mori. O disco é muito bom e mostra que mesmo após todos esses anos e enfrentando a perda de Andy Fletcher, o Depeche Mode ainda soa relevante e criativo.


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