Review: Fughetti Luz – Tempo Feiticeiro (2017)


Como convém a um país de dimensões continentais, o Brasil possui ídolos e lendas locais em cada uma de suas regiões. E na música não é diferente. Fughetti Luz, por exemplo, é uma das maiores lendas do rock gaúcho e praticamente desconhecido no resto do país.

Vocalista e principal compositor de duas das bandas mais icônicas do rock brasileiro setentista, Liverpool e Bixo da Seda, seguiu carreira nas décadas posteriores e fez história também ao lado do Taranatiriça e da Badalieira, duas das formações mais cultuadas vindas do Rio Grande do Sul nos anos 1980 e 1990. Letrista de mão cheia e apaixonado pelo rock and roll, lançou também três álbuns solo.

Fughetti Luz faleceu recentemente, aos 76 anos, no último 14 de abril. Seu legado é imenso para a história do rock gaúcho, com uma influência enorme na cena local. Muito disso é exemplificado através das quinze canções presentes em Tempo Feiticeiro, seu álbum derradeiro, lançado em 2017. Organizado e produzido por Marcelo Truda, guitarrista do Taranatiriça, traz Fughetti revisitando sua história em novas versões de canções de sua carreira solo e também clássicos de todas as suas bandas, além de quatro faixas inéditas, devidamente acompanhado de nomes como Luiz Carlini, Edinho Espíndola, Luciano Leães, Mini Lessa, Marcos Lessa, Egisto Dal Santo, Márcio Petracco, Duda Calvin, Duca Leindecker e outros, além do próprio Truda.

O forte de Fughetti é a união entre letras diretas ao ponto, cantadas com melodias sempre fortes e amparadas por uma usina de puro rock, com riffs sendo cuspidos e grooves que não deixam ninguém parado. Isso já fica claro em “Xeque Mate”, música título do seu segundo álbum solo, que saiu em 2002, e que aqui ganha sua versão definitiva. “Falta Pouco” (com Carlini na guitarra), a inédita “Hendrixmania” (ao lado dos chapas do Bixo da Seda), “Mudou o Vento”, “Linha de Frente” e “Circuito Emocional” são apenas algumas das grandes canções do álbum,

Mas os dois grandes momentos de Tempo Feiticeiro estão nas novas versões de “Nosso Lado Animal” e “Campo Minado”, ambas gravadas originalmente pela Bandalieira. Dois dos maiores hinos do rock gaúcho, ganham aqui versões absolutamente arrepiantes. “Nosso Lado Animal” tem um início climático e então descamba em um rock and roll contagiante, com letra que conversa com todas as idades. “Campo Minado” já vem com uma releitura bastante diferente, com um apelo bem sessentista, conduzido pelo ótimo Marcelo Truda.

Tempo Feiticeiro é um disco excelente e a prova do legado gigantesco de Fughetti Luz. Um álbum que merece chegar a todo mundo que curte rock and roll nesse país enorme e repleto de outras lendas locais como Fughetti, a maioria com alcance infelizmente restrito às suas próprias fronteiras.

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