Dando os primeiros passos na obra de Mozart, um gênio imortal da música


Mozart é, muito provavelmente, o nome mais conhecido quando falamos de música clássica, ou música erudita, como preferir. Nascido em 27 de janeiro de 1756 em Salzburg, na Áustria, Wolfgang Amadeus Mozart foi o sétimo filho do casal Anna Marie Pertl e Leopold Mozart. Sua vida foi curta, falecendo precocemente aos 35 anos, em Vienna, em 5 de dezembro de 1791. Mas sua obra impactou de maneira definitiva a história da música, com uma longa influência que se estende até hoje.

A oferta de itens relacionados à obra de Mozart é gigantesca – no Discogs estão cadastrados quase 19 mil títulos -, o que pode dificultar um pouco quem quer dar os primeiros passos em seu universo e, por consequência, no mundo da música clássica. Nesse caso, coleções temáticas são alternativas muito interessantes. Mozart foi o foco do primeiro volume da Coleção Folha de Música Clássica, que contou com 36 edições lançadas a partir de setembro de 2005. Cada um desses volumes é dedicado a um grande compositor, e o acabamento gráfico é excelente, em edições digibook com 60 páginas de texto, incluindo biografias e informações sobre as músicas presentes, tudo ilustrado por fotos e imagens que enriquecem ainda mais o material. A edição dedicada à Mozart traz três de suas obras mais conhecidas e aclamadas: As Bodas de Fígaro, a Sinfonia Nº 40 e a Sinfonia Nº 41, todas executadas pela The Royal Philharmonic Orchestra com regência de Jane Glover.

Mozart foi um gênio da música, e a perenidade e qualidade de sua obra são apenas dois dos fatores que exemplificam isso. Extremamente precoce, desde cedo impressionou a todos tanto pela sua técnica apurada ao piano quanto pela capacidade de compor peças musicais complexas mesmo sendo praticamente uma criança.


A linda abertura da ópera As Bodas de Fígaro abre o CD, e é uma das obras mais conhecidas de Mozart, mesmo tendo sido censurada na época por trazer críticas sociais e atacar os direitos intocáveis da aristocracia. Composta entre 1785 e 1786, estreou em 1 de maio de 1786 em Viena. Ricamente melódica, apresenta temas que se desenvolvem de forma grandiosa e, porque não, acessível.

A seguir temos as duas últimas sinfonias compostas por Mozart no período final de sua vida. Na época ele tinha se tornado um músico livre, e aqui vale uma explicação histórica. Os compositores clássicos, naquele período, compunham suas obras sob encomenda, a maioria das vezes atendendo a pedidos da realeza e da igreja. Era o seu trabalho e a forma como eles sobreviviam. Raramente eram compostos materiais sem uma demanda vinda de algum aristocrata. Porém, Mozart havia conseguido se livrar desse mecanismo, ainda que pagando um preço bastante alto, já que vivia praticamente na miséria e essas condições foram determinantes para que perdesse três de seus filhos em um curto espaço de tempo. Até mesmo a sua morte, cercada de lendas, muito provavelmente foi consequência da penúria em que vivia.

Mozart podia compor então o que queria, e seus trabalhos finais, além da qualidade impressionante, chamam a atenção também pela rapidez com que foram desenvolvidos. Uma sinfonia levava em média meses para ser composta, porém as três últimas sinfonias de Mozart – a 39, a 40 e a 41 – foram compostas em um período de apenas um mês e meio. Historiadores e estudiosos de sua obra supõe que elas tenham sido compostas para uma futura turnê pela Inglaterra, tocando em Londres e arredores, algo que estava se tornando cada vez mais comum entre os compositores da época. Além de suas músicas já conhecidas, Mozart surpreenderia o público com novas criações. Porém, a motivação para essas obras jamais foi descoberta com clareza.


Entre as três últimas sinfonias de Mozart, duas estão incluídas nesse primeiro volume da coleção da Folha. A primeira delas é a impressionante Sinfonia Nº 40 em Sol Menor K. 550, composta em 1788 e minha obra preferida do compositor. Suas melodias deslizam umas sobre as outras, alcançando um resultado magnífico. Temos aqui os quatro movimentos da obra, todos intensamente emocionais e, em certos momentos, até mesmo trágicos. O primeiro movimento da Sinfonia Nº 40 é uma da obras mais incríveis de seu catálogo, com uma riqueza melódica e harmônica sem igual. O terceiro, “Menuetto Allegretto”, é épico e trágico, enquanto o encerramento, extremamente dramático, é um dos derradeiros exemplos do domínio total de Mozart sobre as possibilidades de suas partituras e seu virtuosismo singular.

A quadragésima sinfonia de Mozart influenciou enormemente outro dos grandes nomes da música erudita, Beethoven, na prática o único compositor do gênero a possuir uma obra com tanta popularidade e impacto quanto Mozart. Mozart e Beethoven, historicamente, afastaram a música erudita do classicismo vienense e a levaram para novos caminhos, dando origem ao romantismo.

Assombro semelhante é proporcionado pela Sinfonia Nº 41 em Dó Maior K. 551 Júpiter, a última e mais longa de suas sinfonias, composta também por quatro movimentos e que, no total, chega a mais de trinta minutos de duração. Essa obra é considerada uma das maiores sinfonias de todos os tempos, e se tornou um encerramento grandioso para a obra musical de Mozart.

Cercada de história e muitas vezes envolta também por uma barreira que parece intransponível para ouvintes leigos, sensação essa que a arrogância e prepotência de alguns críticos e apreciadores da música clássica faz questão de intensificar, a obra de grandes nomes da música erudita como Mozart possui uma qualidade e impacto que sobreviveram ao teste do tempo. E, mais do que isso, apresentam uma forma de pensar e uma abordagem que contrastam com a música que estamos acostumados a consumir, como o rock e o pop. Conhecer essas grandes obras centenárias e ainda protagonistas de enorme poder sobre o ouvinte é uma experiência gratificante para quem é apaixonado por música.

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