Jonas Åkerlund: de baterista do Bathory a colaborador de Madonna


O que o black metal e a música pop têm em comum? Um dos principais pontos de conexão entre esses mundos tão opostos é o diretor sueco Jonas Åkerlund. 

Nascido em 10 de novembro de 1965, Hans Uno Jonas Åkerlund tinha duas grandes paixões na adolescência: a música e o cinema. A carreira musical de Jonas foi curta, porém marcante: ele foi o primeiro baterista do Bathory, banda sueca que é um dos nomes mais importantes do metal extremo, tendo influenciado profundamente a chamada primeira geração do black metal. A passagem pela banda do lendário Quorton foi curta e durou apenas um ano, entre 1983 e 1984. Na época o futuro diretor usava, como era padrão nas bandas de metal extremo, um pseudônimo: Vans McBurger. Além de Jonas e Quorton, a formação original do Bathory também contava com o primo de Åkerlund no baixo, Fredrick “Freddan” Hanoi. Além de alguns poucos shows realizados em Estocolmo, a formação original registrou apenas duas músicas em estúdio. Essas canções – “Sacrifice” e “The Return of the Darkness and Evil” -, foram lançados na compilação Scandinavian Metal Attack (1984), que contou também com a participação das bandas Oz, Trash, Spitfire e Zero Nine, todas suecas e todas com um som mais acessível e melódico do que o executado pelo Bathory.


Pouco tempo depois do disco chegar às lojas, Jonas e Fredrick se mudaram para Londres, onde Åkerlund deu os primeiros passos em sua carreira cinematográfica dirigindo clipes, comerciais de TV e filmes. Um dos seus primeiros trabalhos foi o vídeo de “Bewitched”, do Candlemass, que teve a participação de Per Ohlin no papel de um zumbi – alguns anos mais tarde, Ohlin assumiria o pseudônimo de Dead e se tornaria vocalista do Mayhem. Apesar de sair do Bathory, Jonas manteve contato com Quorton e se tornou um admirador do trabalho da banda, como declarou inúmeras entrevistas ao longo dos anos.

A ascensão de Jonas Åkerlund no universo dos videoclipes se deu, primeiramente, através da relação do diretor com o Roxette. A associação com a banda teve início com a vocalista Marie Fredriksson, com o clipe de “Så länge det lyser mittemot”, lançado em 1992, e logo evoluiu para o Roxette. Sua assinatura está nos clipes de “Fingertips ‘93”, “Run to You”, “Vulnerable”, “June Afternoon” e “She Doesn’t Live Here Anymore”. A ótima aceitação e o sucesso desses vídeos levou Jonas ao ponto de virada de sua carreira em 1997, com o vídeo de uma das músicas mais impactantes da década de 1990, o hit “Smack My Bitch Up”, do The Prodigy. O roteiro utiliza uma câmera em primeira pessoa que funciona como os olhos do personagem principal em uma jornada que conta com uso de drogas, cenas de nudez e violência. O vídeo foi banido da MTV e não está disponível no YouTube, mas chamou a atenção para o trabalho audiovisual de Jonas.

O nível só subiu nos anos seguintes. Em 1998, Åkerlund iniciou a sua relação profissional com Madonna assinando o clipe de “Ray of Light”, que foi premiado com um Grammy. No mesmo ano ele trabalhou com o The Cardigans em “My Favourite Game” e com o Metallica em “Turn the Page”. Para o quarteto de San Francisco, Jonas assinou também o vídeo “Whiskey in the Jar” e “ManUNkind”, que traz cenas do filme Lords of Chaos (2018), cuja direção também é sua.


Ainda que tenha trabalhado com inúmeros artistas de rock e metal como Iggy Pop, Smashing Pumpkins, U2, Ozzy Osbourne, Paul McCartney, Lenny Kravitz, Blondie, Rolling Stones, Rammstein, The Struts, Queens of the Stone Age e outros, o destaque do portfólio de Jonas Åkerlund está na parceria artística com grandes cantoras pop, tendo Madonna à frente.
Além de “Ray of Light”, ele dirigiu os vídeos de “Music”, “American Life”, “Jump”, “Celebration”, “Ghosttown”, “Bitch I’m Madonna” e “God Control” para a Rainha do Pop, além do documentário I’m Going to Tell You a Secret (2005) e do DVD/Blu-ray The Confessions Tour (2007) – este último também vencedor de um Grammy. Outras vozes marcantes do pop também tiveram clipes dirigidos por Jonas, sendo as principais Christina Aguilera (“Beautiful”), Pink (“Sober”), Lady Gaga (“Paparazzi” e “John Wayne”), Britney Spears (“Hold It Against Me”), Beyoncé (“Haunted” e “Hold Up”) e Taylor Swift (“New Romantics”). Além disso, Åkerlund é o responsável pela direção de “Telephone”, clipe lançado em 2010 e que uniu Lady Gaga e Beyoncé.

Seu trabalho em videoclipes é caracterizado por imagens ousadas e provocativas, e um estilo visual distinto. Åkerlund frequentemente incorpora edição em ritmo acelerado, cinematografia arrojada e elementos surrealistas em seus vídeos, ultrapassando os limites da narrativa convencional. Seu estilo é único e marcado pela capacidade de criar trabalhos visualmente impressionantes e instigantes.

Além dos vídeos musicais, Jonas Åkerlund possui também uma carreira cinematográfica, que até o momento conta com cinco títulos. O mais famoso deles é a adaptação do livro Lords of Chaos, obra que conta a conturbada história da influente e marcante cena black metal norueguesa do final dos anos 1980 e primeira década de 1990, que impactou profundamente o metal extremo e deu ao mundo bandas como Mayhem, Burzum, Darkthrone, Emperor e inúmeras outras, e ficou marcada por atos violentos como suicídios, assassinatos e queima de igrejas. O filme de Åkerlund foi lançado em 2018 e dividiu fãs e músicos. Um ano mais tarde, em 2019, ele dirigiu Polar (2019) para a Netflix, com Mads Mikkelsen no papel principal. Ele trabalharia mais uma vez para a plataforma de streaming na série Clark (2022), em que dirigiu todos os seis episódios e escreveu os roteiros.

O trabalho de Jonas Åkerlund o tornou um nome altamente influente no mundo dos videoclipes, com uma trajetória repleta de produções antológicas e que marcaram o mercado musical ao longos dos anos. Nada mal para quem começou tocando bateria à velocidade de luz em um pequeno estúdio sueco.



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