Lindsey Buckingham, um artesão do pop rock


Quando Stevie Nicks e Lindsey Buckingham chegaram ao Fleetwood Mac, no início de 1975, o então casal tinha apenas um disco no currículo, Buckingham Nicks (1973). Mas foi o suficiente para impressionar Mick Fleetwood, que imediatamente chamou Lindsey para assumir o posto de Bob Welch, que deixou o grupo em dezembro de 1974. O guitarrista, no entanto, bateu o pé e impôs uma condição: só aceitaria o convite se Stevie fosse junto. 

O resto todo mundo sabe: com a chegada da dupla, o Fleetwood Mac mudou o seu som, empilhou hits e se transformou em uma das maiores bandas do rock, com direito a um dos álbuns mais vendidos de todos os tempos no caminho – Rumours, lançado em fevereiro de 1977. O guitarrista logo se transformou não apenas em um dos grandes compositores do quinteto, como também realizou um trabalho meticuloso no estúdio, trabalhando de maneira quase obsessiva em arranjos e harmonias vocais, alcançando um resultado que foi fundamental para o sucesso alcançado pelo Fleetwood Mac.

Lindsey e Stevie se separaram durante as gravações de Rumours, e desde então viveram uma relação marcada por aproximações e momentos de absoluto conflito. O ponto final foi dado em janeiro de 2018, quando diferenças inconciliáveis levaram Stevie Nicks a dar um ultimato: ou o Fleetwood Mac ficava com ela ou com Lindsey. Buckingham então retomou a sua carreira solo e seguiu em frente.

A compilação Solo Anthology: The Best of Lindsey Buckingham é fruto do fim da relação com o Fleetwood Mac e chegou às lojas em outubro de 2018. O material cobre todos os seis discos solo do vocalista e guitarrista, além de trazer canções ao vivo e faixas presentes em trilhas sonoras. O material foi lançado em uma edição tripla em CD trazendo 53 faixas, e uma edição simples com 21 canções. A que possuo em minha coleção é a segunda.

O fato é que Lindsey Buckingham é um dos maiores compositores da história do rock e um gênio da música pop. Seu preciosismo se traduz em canções com tudo no lugar certo, sem exageros ou partes necessárias. E, mais importante: sempre acessíveis, porém com arranjos criativos e um trabalho vocal de primeira. O maior exemplo disso é “Trouble”, música presente em Law and Order (1981), seu primeiro álbum solo, e que também foi o seu primeiro single. “Trouble” apresenta o preciosismo característico de Lindsey Buckingham, com direito a um brilhante solo de violão – sim, ainda por cima ele é um guitarrista incrível -, e poderia figurar com destaque tanto em Mirage (1982) quanto em Tango in the Night (1987), os álbuns da fase oitentista do Fleetwood Mac e que acentuaram ainda mais a sonoridade pop rock do quinteto.

O tracklist de Solo Anthology entrega outras canções incríveis além de “Trouble”, é claro. Pérolas pop como “Don’t Look Down”, “Rock Away Blind”, “Doing What I Can”, “Slow Dancing”, “In Our Own Time” e “Illumination” mostram a qualidade de uma obra que vai muito além do Fleetwood Mac. E, ainda que a escolha das faixas presentes na compilação, feita pelo próprio Buckingham, seja um tanto desigual – Law and Order conta apenas com “Trouble”, enquanto Out of the Cradle, lançado em 1992, tem seis canções incluídas no tracklist -, o resultado final é extremamente positivo.

Dono de um talento proporcional ao seu temperamento, Lindsey Buckingham é um dos músicos mais influentes do século XX, e sua marca está em canções imortais como “Monday Morning”, “I’m So Afraid”, “Go Your Own Way”, “The Chain”, “Big Love” e inúmeros outros clássicos do Fleetwood Mac. Sua carreira solo mostra que ele nunca deixou de produzir música de qualidade, e, ainda que elas não tenham sido disparadas pelo canhão de longo alcance da banda que o tornou conhecido em todo o mundo, são canções que trazem muita qualidade e agradarão facilmente os fãs do grupo.

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