Após o Bon Jovi se transformar em uma das maiores bandas do planeta com a dobradinha Slippery When Wet (1986) e New Jersey (1988), os músicos precisavam respirar novos ares. Jon Bon Jovi mergulhou em influências country e fez a trilha do filme Young Guns II (Jovens Demais Para Morrer, no Brasil) em Blaze of Glory (1990). Já Richie Sambora explorou a fundo suas influências de blues e soltou Stranger In This Town (1991) um ano depois.
A guitarra de Sambora soa muito mais elegante em sua estreia solo, distante do hard rock festivo do Bon Jovi, abraçando o blues através de sutilizas e uma enorme dose de feeling. Com exceção de “Rosie”, que não por acaso é uma parceria com Jon Bon Jovi na composição, nenhuma das nove faixas restantes soa próxima de sua banda principal. Outro ponto de destaque é a voz de Richie, que sempre foi considerado um dos melhores backing vocals do rock e aqui mostra o motivo dessa afirmação. Seu timbre é forte e mais grave do que o de Jon, e casa de forma perfeita com a pegada blueseira do álbum.
Os destaques são vários. “Church of Desire” é um hard blues classudo e com uma bela melodia vocal, onde a guitarra e a voz se combinam de forma alquímica. A música que batiza o disco é uma balada poderosa, que se tivesse sido gravada pelo Bon Jovi certamente seria um sucesso global. “Ballad of Youth” abre com Sambora fazendo escalas em sua guitarra, entregando um belo timbre limpo que logo evolui para uma pegada bem estradeira. Eric Clapton participa de “Mr. Bluesman”, que traz uma das grandes interpretações vocais de Sambora no trabalho. A já citada “Rosie” é um hard rock com ótimo astral, mas sem cair na pieguice que muitas vezes acometeu as canções gravadas pelo Bon Jovi. Um belo fraseado de guitarra introduz “River of Love”, com forte pegada de blues, enquanto “Father Time” traz um certo tempero progressivo e é um dos pontos altos do disco.
É importante mencionar a enorme contribuição do tecladista David Bryan e do baterista Tico Torres, colegas de banda de Sambora e que tocam no disco, com Bryan assinando a composição da maioria das músicas do lado do guitarrista. O baixo ficou a cargo do fenomenal Tony Levin, lenda do instrumento com passagens pelo King Crimson e pela banda de Peter Gabriel. Já a excelente produção foi assinada por Neil Dorfsman (Dire Straits, Paul McCartney, Sting) junto com Richie.
A pausa e os novos ares respirados por Sambora e Jon fizeram bem ao Bon Jovi, que retornou em 1992 com Keep the Faith, um dos seus discos mais celebrados, e na sequência lançou o subestimado These Days (1995), com uma pegada mais séria e que apresenta elementos que estão presentes em Stranger in This Town.
Richie Sambora possui ainda mais dois álbuns solo, Undiscovered Soul (1998) e Aftermath of the Lockdown (2012), além de um disco lançado em 2018 com a vocalista e guitarrista Orianthi, sua então parceira na vida pessoal, intitulado Radio Free America e creditado ao RSO, como foi batizado o projeto da dupla.
Stranger in This Town é uma das pérolas do rock da década de 1990. Um álbum cultuado, com razão, por todos que já tiveram contato com o trabalho, e que mostra que o talento de Richie Sambora vai muito além de ser o guitarrista de uma das mais conhecidas bandas de hard rock de todos os tempos.
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