David Coverdale e o brilho negligenciado de Into the Light


Após Slip of the Tongue (1989), David Coverdale anunciou uma pausa nas atividades do Whitesnake. O vocalista estava cansado e queria um tempo para colocar a cabeça no lugar antes de decidir quais seriam seus próximos passos. O período coincidiu com o divórcio de Tawny Kitaen, a musa que aparece nos clipes de “Is This Love”, “Here I Go Again” e “Still of the Night”, com quem David casou em 1989. Cada um dos músicos partiu por caminhos diferentes, incluindo o próprio Coverdale, que retornou apenas em 1993 com um álbum em parceria com Jimmy Page.

Mas David realmente queria dar um tempo durante os anos 1990. Seu próximo trabalho sairia apenas em 1997 com o título de Restless Heart, e a ideia original era de que fosse um álbum solo, porém a gravadora conseguiu colocar um Whitesnake em letras garrafais na capa. As novas edições, inclusive, já nem trazem o nome da David Coverdale na capa, com o disco se transformando, definitivamente, em um álbum do Whitesnake. Essa fase rendeu também o acústico Starkers in Tokyo, onde o vocalista apresenta versões acústicas de clássicos da banda ao lado do guitarrista Adrian Vandenberg, que tocou no aclamado Whitesnake (1987) e também em Slip of the Tongue e Restless Heart.

O último capítulo da tentativa de Coverdale em se descolar do Whitesnake foi Into the Light, lançado no final de setembro de 2000. Na prática, trata-se do seu terceiro álbum solo, fazendo companhia a White Snake (1977) e Northwinds (1978). Into the Light é um disco predominantemente baladeiro, com canções que, mesmo explorando esta abordagem, não escorregam para algo meloso demais, explorando influências como blues e soul que as deixam mais equilibradas e com um tom mais reflexivo e menos romântico. Coverdale se cercou de um timaço de músicos, incluindo nomes como o guitarrista Earl Slick (David Bowie, John Lennon), o baixista Marco Mendoza (Thin Lizzy, Journey e mais tarde integrante do próprio Whitesnake), Tony Franklin (David Gilmour, The Firm, Kate Bush) e o baterista Denny Carmassi (Montrose, Stevie Nicks, Sammy Hagar). O resultado foi um álbum com uma sonoridade bem característica, e que difere do que ouvimos nos discos do Whitesnake, sejam os trabalhos da fase chapéu-e-bigode ou os discos da era glam metal.

Into the Light traz doze canções, a grande maioria composta por David Coverdale ou em parceria com Slick, com direito a uma dobradinha com Vandenberg na faixa-título. Há momentos muito bons como “River Song”, a zeppeliana “She Give Me”, a linda “Love is Blind” e a poderosa “Don’t Lie to Me” ao lado de canções realmente ótimas como “Slave”, “Cry for Love” e belíssima música que batiza o disco.

Apesar de não ter sido um sucesso na época, Into the Light envelheceu maravilhosamente bem e é um álbum que teve suas qualidades acentuadas com o tempo, com uma performance vocal excelente de Coverdale, instrumental impecável e canções muito fortes, que mesmo esquecidas pelo artista e pelo próprio Whitesnake possuem força para cativar novos fãs e impressionar aqueles que, por ventura, ainda não colocaram os ouvidos nesse disco.

Comentários

  1. A última música é minha preferida. Uma linda balada.

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  2. finalmente alguém fazendo justiça com esse ótimo álbum, parabéns pelo artigo, com certeza um dos mais inspirados e o mais surpreendente disco da carreira de david coverdale, quase esquecido infelizmente, ainda mais em tempos de musica biodegradável dos streamings da vida, uma pena, inclusive aqui david escreve letras bem mais interessantes do que no restante de sua obra pois a parte lírica nunca foi seu ponto forte, vide excrecências como "spit it out" do "slide it in" (uma das maiores demonstrações de mal gosto lírico da história da musica pop).

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