O KoRn pode não ser para todos os ouvidos, mas essa compilação é


Principal nome do chamado nu metal, o KoRn sempre despertou sentimentos antagônicos. Os fãs reverenciam os novos caminhos que o grupo sempre buscou com a sua música, enquanto quem não simpatiza com o som da banda os classifica como repetitivos, monótonos, sem graça e outros adjetivos elogiosos. Neste sentido, a coletânea Greatest Hits Vol. 1 é uma boa pedida. Ouvindo-a de cabo a rabo fica evidente que o KoRn, ainda que tenha dado algumas bolas fora em sua carreira, acertou em vários momentos.

O disco abre com a melodiosa "Word Up!", música para cima que destoa da maioria das músicas (para não dizer de todas) que o grupo gravou em sua carreira. Com um ar festivo que lembra um pouco a Los Angeles dos anos 1980, avisa logo o ouvinte que, por mais que ele ouça guitarras pesadas durante o CD, é bom ele manter os ouvidos e a cabeça abertos para o que está por vir. Uma versão para "Another Brick In The Wall" do Pink Floyd dá sequência ao álbum. O andamento marcado, aliado aos vocais agressivos de Jonathan Davis, atualiza um dos maiores hinos do rock para uma nova geração de ouvintes. Ainda que pareça desnecessária, é uma releitura interessante, executada com competência pela banda.

As experiências com outros estilos, notoriamente com o rap, estão presentes em "Y'all Want A Single", e nesta música especialmente fica claro que, por mais que a riqueza e o conceito central da música do KoRn estejam na mistura de novos elementos com o metal e o hard rock, em alguns momentos é preciso aparar algumas arestas. Em "Y'all Want A Single" essa colagem de estilos não funciona, e a canção soa desconexa e estranha aos ouvidos. Já "Right Now", destoa completamente de "Y'all Want A Single". Nela vemos que, quando o KoRn acerta a mão, o resultado é arrebatador. Independente do gosto pessoal de cada um, é inegável o poder de "Right Now", com um andamento baseado no baixo funkeado e um refrão agressivo, quase gutural. Um ótimo cartão de visitas para quem não conhece a banda.

Outros momentos altos de Greatest Hits Vol. 1 são as músicas "Did My Time" (um dos maiores hits do grupo), a atmosférica "Alone I Break", a pesada "Here To Stay", "Somebody Someone" e "Falling Away From Me". O Korn experimental marca presença em faixas como "Freak On A Leash", com todos aqueles elementos apontados por seus críticos na hora de falar mal do som da banda. A música do grupo realmente não é de fácil assimilação para quem está acostumado a ouvir as abordagens mais tradicionais do rock e do metal, e soa estranha aos ouvidos menos avisados. O baixo sempre na cara e os andamentos marcados funcionam na maioria das vezes, e dão uma característica única ao som. Já os vocais rapeados de Jonathan Davis, quando surgem, passam longe do agradável, e puxam o som do grupo para baixo. Isso fica bem claro na já citada "Freak On A Leash" e na chatíssima "Twist".

Como as músicas vão sendo apresentadas em ordem cronológica inversa no CD, chegando ao seu final entramos em contato com um KoRn dos primeiros anos, que soa bem mais cru. A união de influências que gerou "Right Now", talvez a melhor música e o melhor exemplo do som do KoRn, ainda estava sendo testada em músicas como "A.D.I.D.A.S." e "Blind".


Sem dúvida o grupo ouviu muito o álbum Angel Dust, lançado pelo Faith No More em 1992, já que é claríssima a influência da banda de Mike Patton no som do KoRn até hoje. As mais claras, como o baixo funkeado, e as não tão óbvias assim, como o desejo de subverter a estrutura padrão das canções, saindo da fórmula verso-ponte-refrão. A escolha pelos caminhos mais difíceis gera estranheza e uma certa má vontade em qualquer ouvinte, porque a música do grupo, principalmente no início de carreira, não é, na maioria das vezes, agradável de se ouvir. Mas a experiência na estrada fez bem à banda, e a pretensão que era palpável nos primeiros álbuns se transformou em um estilo próprio.

Há quem goste, e há quem não suporte ouvir, como acontece com qualquer banda, mas a audição deste Greatest Hits Vol. 1 nos leva à conclusão inegável de que o KoRn, dentro de seus erros e acertos, construiu uma carreira de respeito e, mais do que isso, uma sonoridade que influenciou gerações, dentro e fora do metal. Despindo-se dos pré-conceitos, ficam claras as qualidades da banda, e só não percebe isso quem constrói a sua opinião baseado em uma visão focada no conservadorismo e na desconfiança a qualquer coisa que soe como novo. E, convenhamos, ter uma opinião baseada nestes dois conceitos vivendo na realidade em que vivemos é, no mínimo, um contrassenso.

Greatest Hits Vol. 1 foi lançada em outubro de 2004 e é a primeira compilação da carreira da banda norte-americana. Em 2006 sairia Chopped, Screwed, Live and Unglued, material com 2 CDs e 1 DVD que acompanhou uma edição especial do álbum See You on the Other Side (2005) e traz remixes das canções do disco e versões ao vivo para clássicos do quinteto. No entanto, como cartão de visitas ou como o único item do KoRn em uma coleção, Greatest Hits Vol. 1 ainda é a melhor pedida, principalmente na versão especial limitada que vem com um DVD com um show gravado no lendário CBGB, em Nova York, e que foi lançada inclusive no Brasil pela Epic/Immortal Records.

O som do KoRn pode não ser para todos os ouvidos ou para todas as coleções. Mas essa coletânea é muito indicada para quem quer construir um acervo que cobre todos os caminhos que o metal trilhou em todas as suas décadas de existência e evolução.


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