Reinkaos, a despedida de Jon Nodveidt e do Dissection


Desde a sua fundação, em 1989, o Dissection sempre chamou a atenção tanto da crítica quanto dos fãs. O som era único, um black/death cheio de melodia e que cativou adeptos imediatos. Os problema extramusicais que levaram seu líder e principal compositor, o vocalista e guitarrista Jon Nodveidt, a passar sete anos (1997 a 2004) na prisão pelo assassinato de um homossexual pareciam superados quando Nodveidt deixou o cárcere e, consequentemente, a banda retomou as atividades.

Uma nova formação foi efetivada, shows foram realizados, o grupo sentiu novamente o contato com público e colocou o DVD Rebirth of Dissection nas lojas em 2006 e, ainda naquele ano, finalmente lançou o seu terceiro álbum, Reinkaos, sucessor do clássico Storm the Light’s Bane (1995) e do debut The Somberlain (1993).

Tudo parecia tranquilo quando, sem aviso, os fãs e a mídia foram surpreendidos com a notícia do suicídio de Jon Nodveidt, ocorrido em agosto de 2006. O impacto da morte de Nodveidt teve como consequência direta o fim do Dissection e a transformação do guitarrista em um símbolo da MLO – Misanthropic Luciferian Order, crença/culto que conheceu na prisão e que Jon propagou em praticamente todas as entrevistas que deu até a sua morte. Além disso, todas as letras de Reinkaos falam sobre os princípios da MLO, com o álbum eternizando e divulgando ainda mais o discurso da crença.

A atitude de Jon Nodveidt em relação à sua própria vida transformou Reinkaos, simultaneamente, em seu testamento musical e no manifesto maior daquilo que ele acreditava. Envolto em todas essas circunstâncias, o álbum foi cultuado desde o seu lançamento. Liricamente, as letras levam as crenças de Nodveidt até os fãs, com as músicas servindo como ferramentas de propaganda da MLO. Mas, musicalmente, o que chama a atenção é um Dissection soando totalmente diferente dos álbuns anteriores. O que ouvimos é um death metal melódico similar ao de nomes como Arch Enemy, só que carregado por uma aura sombria presente tanto nas vocalizações quanto nas melodias.

Não há em Reinkaos nenhum blast beat, por exemplo. As canções são mais lentas, o que evidencia a melodia, ingrediente que sempre esteve presente na música do Dissection. Várias faixas possuem refrãos grudentos e acessíveis, que agradam de imediato, como é o caso de “Black Dragon”, “Dark Mother Divine” e, notadamente, “Xepe-I-Set” e “Starless Aeon”. É uma receita similar a que seria usada pelas bandas de occult rock poucos anos depois, com canções que não assustam amaciando letras perturbadoras e com temas muito mais pesados do que a música que as emoldura. Outros destaques são “Beyond the Horizon”, “Reinkaos” e “Maha-Kali”, mas o disco todo possui uma grande força, com as canções encaixando-se perfeitamente e funcionando muito bem em conjunto.

O suicídio de Jon Nodveidt encerrou não só a sua vida, mas também a trajetória do Dissection. Reinkaos possuía força para colocar a banda em outro nível, mas com tudo que ocorreu o álbum adquiriu o status de uma obra mítica, como o último manifesto artístico de um dos músicos mais controversos que o metal conheceu.

Reinkaos foi lançado no Brasil em 2006 pela Somber Music em CD slipcase e tendo como bônus o clipe de “Starless Aeon”, além de encarte de doze páginas com todas as letras.


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