Quadrinhos: Cassidy Omnibus Vol. 1, de Pasquale Ruju (2022, Editora 85)


Após décadas lendo quadrinhos, finalmente dei meus primeiros passos no universo Bonelli. O mundo da editora italiana é repleto de personagens marcantes como Tex, Dylan Dog, Zagor, Mágico Vento, Dragonero, Júlia Kendall e inúmeros outros títulos que conquistaram milhões de leitores em todo o planeta. Para mim, esse primeiro contato aconteceu através da saga de Cassidy, um ladrão anti-herói que, pelo menos no meu caso, funcionou como uma porta de entrada super adequada para o universo da Bonelli.

Ray Cassidy é um ladrão experiente e que vive de seus golpes, mas que começa a sua saga sendo enganado por comparsas nada confiáveis. À beira da morte, conhece um indivíduo misterioso chamada apenas de Bluesman, que o cura milagrosamente e o presenteia com dezoito meses de vida, período que Ray deve utilizar para resolver todas as pendências de sua trajetória. A publicação original italiana, iniciada em maio de 2010, contou com dezoito edições. No Brasil, a saga está sendo publicada pela Editora 85 em três omnibus reunindo seis edições cada. O primeiro deles tem 596 páginas em preto e branco, capa brochura com orelhas, ilustrações e textos nas guardas e formato italiano (16x21). O apuro editorial salta aos olhos, com uma edição muito bem feita e que traz a introdução original do personagem escrita pelo próprio (e já falecido) Sergio Bonelli, além de excelentes textos que precedem cada um dos seis capítulos, onde Gianmaria Contro contextualiza Cassidy dentro do universo da cultura pop dos anos 1970, com citações a livros, filmes, bandas e músicas.


Criado e escrito por Pasquale Ruju (Dampyr, Dylan Dog, Tex, Martin Mystère), Cassidy é, na prática, um grande filme de ação que cativa desde a primeira página. O roteiro é muito bem feito, e a arte, assinada por um artista diferente a cada edição, é excelente (nesse primeiro omnibus, o único artista que me decepcionou foi Andrea Borgioli, que assina a edição número 5). Tudo é muito cinematográfico, seja pelo ritmo da trama, pelos enquadramentos muito bem pensados, pela caracterização dos personagens ou pela narrativa, que não perde tempo com enrolações desnecessárias e leva a história sempre para frente. Como bem apontado nos textos introdutórios de cada capítulo, há uma semelhança com clássicos do cinema setentista como Operação França (1971) e Um Dia de Cão (1975), e também com o estilo dos filmes de Quentin Tarantino – não por acaso, o diretor norte-americano bebe na mesma fonte de inspiração.

Cassidy é um personagem fascinante. Ex-militar, é metódico no planejamento de seus crimes. Dono de uma ética particular, evita ao máximo matar alguém, ainda que os corpos se acumulem durante a trama. Cheio de estilo e dono de um charme próprio, coleciona conquistas ao longo da história. E é preciso citar o quanto a música está presente no texto de Pasquale, com dezenas de citações a clássicos do rock e outros gêneros, o que faz com que o quadrinho possua uma espécie de trilha sonora própria.

Dei os meus primeiros passos pelo universo Bonelli, e gostei muito do que li. A próxima leitura será o segundo omnibus de Cassidy, e não vejo a hora de colocar as mãos no terceiro e último volume da série. Uma história ótima, cheia de reviravoltas e focada no público adulto, com excelente ação e um roteiro que teima em prender os olhos a cada página.

É, acho que a Bonelli converteu mais um leitor ...


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