Quadrinhos: Mulher-Maravilha – Hiketeia, de Greg Rucka e J.G. Jones (2023, Panini)


Dever ou honra: qual seguir? Esse é o dilema principal de Mulher-Maravilha Hiketeia, HQ com roteiro de Greg Rucka e arte de J.G. Jones, publicada originalmente em 2002 pela DC Comics e em 2003 no Brasil pela Panini, logo após a editora italiana assumir os títulos tanto da Marvel quando da DC em nosso país. Vinte anos depois, o material está de volta em uma edição de luxo.

Hiketeia é uma história muito interessante porque discute pontos relevantes não só do universo de super-heróis mas sobretudo da vida real e que, mesmo duas décadas depois, seguem sendo chocantes. O que o roteiro de Rucka apresenta é a história de vingança de uma garota que luta para fazer justiça com as próprias mãos e vingar a sua irmã, que saiu de uma cidade do interior dos Estados Unidos em busca do sonho de ser atriz em Los Angeles, mas encontrou desafios terríveis pelo caminho. A "hiketeia" do título faz referência a uma tradição milenar onde qualquer cidadão comum pode solicitar a ajuda dos deuses caso siga um ritual pré-definido, e esse deus precisa cumprir o seu papel sob pena de também ser punido se não o fizer.

É isso que a Mulher-Maravilha vive ao conhecer a jovem Danielle Wellys, que está sendo perseguida pelo Batman devido aos crimes que cometeu em Gotham. É aqui que retomamos ao dilema apresentado no começo deste texto: dever ou honra, qual caminho seguir? O Batman está certo ao querer levar Wellys à justiça pelos crimes que ela cometeu, e a Mulher-Maravilha também está correta não apenas por seguir a tradição em que foi colocada, mas sobretudo por se solidarizar com os acontecimentos que levaram Danielle a fazer o que fez. É uma discussão que permeia a própria justiça ao longo dos séculos: julgar o ato ou o que levou a ele?




O roteiro de Greg Rucka é muito bem escrito, mostrando tanto a Mulher-Maravilha quanto o Batman como defensores ferrenhos de seus pontos de vista. Já a arte de J.G. Jones oscila entre momentos marcantes como a icônica capa e as cenas de ação, mas escorrega em quadros onde as ilustrações deixam a desejar, notadamente em algumas expressões faciais e corporais de Diana. Apesar disso, o resultado final é acima da média, muito pelas discussões propostas pelo roteiro.

A nova edição da Panini vem em capa dura, formato 18,5x27,5 e traz 128 páginas, incluindo uma galeria de capas de Jones. A tradução é de Carol Pimentel, ex-editora dos títulos Marvel na Panini, e o quadrinho traz dois pequenos erros de revisão, um deles em um balão de diálogo e outro na bio de J.G. Jones presente no final da HQ.

Mulher-Maravilha: Hiketeia é considerada uma das melhores histórias da maior personagem feminina da DC Comics, e com justiça. O relançamento da Panini vale demais a pena e certamente apresentará a HQ para uma grande parcela de leitores que ainda não haviam tido contato com o quadrinho.


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