Quadrinhos: O Alvo Humano, de Tom King e Greg Smallwood (2023, Panini)


Uma das maiores qualidades de Tom King é resgatar personagens pouco conhecidos e reapresentá-los ao público através de histórias muito bem escritas e que vão muito além do que estamos habituados a ler no universo tanto da DC quanto da Marvel. Exemplos disso não faltam: seu Visão foi surpreendente, seu Senhor Milagre beirou a genialidade, o Adam Strange de Estranhas Aventuras exemplificou com perfeição a realidade atual e sua passagem pelo Batman, apesar de criticada por uma parcela dos leitores, humanizou o personagem como poucas vezes havia sido feito antes, despindo-o de suas armaduras e aproximando-o dos leitores – como bônus, ainda redefiniu completamente o papel da Mulher-Gato no Batverso.

Em O Alvo Humano, King reapresenta o personagem homônimo, criado em 1972 pela dupla Len Wein e Carmine Infantino. Christopher Chance é um guarda-costas altamente treinado, mestre nos disfarces, que assume o lugar de pessoas que estão sendo ameaçadas de morte. Na trama, Chance está prestando um serviço para Lex Luthor e, na pele de um dos maiores vilões da DC, sofre um atentado e prende o responsável por isso. O problema é que, pouco depois, ele descobre que foi envenenado e que tem apenas doze dias de vida. E mais: os principais suspeitos são os integrantes da Liga da Justiça Internacional, a “liguinha cômica” do trio Keith Giffen, J.M. DeMatteis e Kevin Maguire.

A série foi publicada em dois volumes pela Panini. O primeiro encadernado traz os os seis primeiros números, e o segundo os seis últimos, além de Contos do Alvo Humano, one-shot que apresenta os encontros anteriores do personagem com alguns integrantes da Liga. No total, temos mais de 420 páginas de quadrinhos. Cada edição é dedicada a um dos dias restantes da vida de Christopher Chance, com o Alvo Humano mergulhando em uma investigação para descobrir quem o envenenou.




É aqui que entra a magia de Tom King. O texto é quase poético, muito bem escrito como sempre, levando o personagem em uma jornada que vai revelando seus segredos aos poucos ao mesmo tempo em que presenciamos uma improvável história de amor. Afinal, quem poderia imaginar que conheceria o amor de sua vida justamente quando está lutando para continuar vivo? Extremamente inspirado, Tom King constrói um roteiro inteligente, tocante, cativante e que conversa com o leitor de uma forma muito particular, entregando as doses de sentimento e lirismo sempre presentes em seus trabalhos. É bom demais ler uma história bem escrita, e Alvo Humano mostra isso de forma exemplar.

Já a arte de Greg Smallwood coloca a imaginação de Tom King em outro nível. As páginas apresentam um trabalho que poucas vezes vimos em uma revista mensal, ou até mesmo em um título da DC Comics. O traço, as paisagens, os painéis que são pura arte e o trabalho de cores belíssimo fazem dessa minissérie o auge da carreira de Smallwood. Cada página é sublime e poderia ser enquadrada e exposta como a obra-prima que é. Não há exagero algum em afirmar isso, basta folhear as edições para perceber o quanto Greg estava inspiradíssimo e o quanto ele possui um talento singular.



Apesar de ser uma publicação recente, O Alvo Humano tem tudo para se tornar um clássico dos quadrinhos. É claro que o tempo precisa maturar essa percepção, mas o nível tanto do roteiro de Tom King quanto da arte da Greg Smallwood é tão alto que não há como avaliar essa história de outra maneira.

Espetacular, incrível, belíssima e emocionante: todos adjetivos que se aplicam aquela que é, na minha opinião, a melhor HQ de 2023.


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