Quadrinhos: Saga Volume 10, de Brian K. Vaughan e Fiona Staples (2023, Devir)


Após o final chocante do encadernado anterior, Saga entrou em um hiato de três anos, período em que os autores Brian K. Vaughan e Fiona Staples desenvolveram outros projetos. O afastamento fez bem, pois o retorno foi no alto nível já conhecido.

Uma das principais características de Saga é o ritmo quase vertiginoso do roteiro, e Vaughan mantém o pé no acelerador. A história segue o hiato e também avança três anos no tempo, mostrando os personagens em um novo status. A garota Hazel, narradora da trama, já é quase uma pré-adolescente, enquanto Alana, sua mãe, luta com a nova realidade que surgiu e faz de tudo não apenas para sustentar a sua família, mas sobretudo para deixá-la segura. O texto de Vaughan está bastante inspirado, com diálogos muito bem escritos e uma construção de roteiro que leva a trama para um caminho um tanto quanto inusitado. O autor insere a música como um dos elementos centrais para o crescimento de Hazel, e as sequências onde isso acontece são muito bem feitas, transformando a leitura em um deleite. A página onde a garotinha descobre uma loja de discos gigantesca e a transformação quase mágica que o contato com a música traz para a sua vida são grandes acertos.

Já a arte de Fiona Staples, também responsável pela arte final e pelas cores, continua estupenda. Dona de um estilo elegante e muito marcante, Fiona explora algumas técnicas diferentes em alguns quadros, mas mantém a identidade singular de seu traço.

Há alguns elementos sexuais ainda mais fortes neste volume, ainda que o sexo sempre tenha sido um dos ingredientes da trama. A ação segue contagiante, com os personagens vivendo sequências de ação quase vertiginosas a cada punhado de páginas.


Como sempre, Brian K. Vaughan trabalha muito bem os ganchos a cada final de capítulo, e o encerramento deste encadernado é particularmente tocante por fazer a pequena Hazel confrontar a perda que ela parecia querer ignorar, mesmo de forma inconsciente, durante todo este décimo volume. As últimas páginas são tocantes e muito emocionantes, e tanto o texto quanto a arte conseguem transmitir toda a dor e o sentimento de vazio que a menina experimenta.

Saga continua sendo uma HQ excelente, e, na minha opinião, a melhor série de quadrinhos publicada no Brasil desde que a editora Devir lançou o primeiro volume por aqui. Como ponto negativo temos um erro de tradução infantil na quarta capa, onde o texto de recomendação do site The Week, que no original afirma que Saga é “perhaps the greatest comic epic in modern history” foi traduzido para um inacreditável “talvez o maior épico cômico da história moderna”. Risível, se não fosse trágico, já que Saga não tem nada de cômico e é sim um dos maiores épicos dos quadrinhos contemporâneos.

O volume 11 da série saiu nos Estados Unidos em dezembro de 2023, então espero que a Devir lance o novo encadernado logo por aqui.


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