Quadrinhos: Sangue Real, de Alejandro Jodorowsky e Dongzi Liu (2023, Comix Zone)


O mercado brasileiro de quadrinhos passa por períodos em que um autor parece virar uma mania entre os leitores e editoras, tendo uma infinidade de títulos lançados por aqui e, dessa forma, não apenas apresentando a sua obra para potenciais novos fãs mas também preenchendo lacunas existentes no cenário nacional. Os dois fenômenos mais recentes respondem pelo nome de Junjo Ito e Alejandro Jodorowsky. Enquanto o mangaká japonês teve praticamente todo o seu catálogo lançado no Brasil nos últimos anos, o roteirista chileno vive o seu momento de descoberta com muitas HQs sendo publicadas pelas mais variadas editoras.

Sangue Real foi o meu primeiro contato com a obra de Jodorowsky, autor de clássicos como Incal, Bórgia e Juan Solo. Escrita entre 2010 e 2020 e publicada no final de 2023 em uma edição integral pela editora Comix Zone, Sangue Real é uma espécie de Game of Thrones de Jodorowsky. O roteiro conta a história de um rei traído que faz tudo para retomar o seu trono, e até chegar ao seu objetivo se vê em um emaranhado de intrigas, violência e perversão. As páginas não economizam na brutalidade, com o primeiro quadro da HQ já mostrando um crânio sendo cortado ao meio por um machado em meio a uma batalha sangrenta. Também não há limites para perversões sexuais, com cenas que mostram desde o sexo mais convencional até tabus como incesto e zoofilia.

A publicação original de Sangue Real, que levou uma década na França, se deu através de quatro álbuns, todos reunidos na edição brasileira. Ao começar a leitura, o primeiro volume me transmitiu a sensação de ser uma história convencional, daquelas em que a gente já consegue prever o desenrolar antes do final. No entanto, os dois próximos números viraram tudo de cabeça pra baixo, me surpreendendo a cada página com ideias e reviravoltas totalmente imprevisíveis. E a conclusão, para alguns apressada, me deixou um sabor agridoce.


O roteiro entrega um ritmo alucinante, tornando a leitura uma experiência muito interessante. O ponto alto, no entanto, apesar da avalanche de ideias de Jodorowsky, é a arte do ilustrador chinês Dongzi Liu. As páginas são belíssimas, e várias delas parecem obras refinadíssimas que poderiam ser expostas com destaque em mostras de arte. Há uma veracidade nas cenas, e o trabalho de Liu não economiza nos detalhes. Vale a pena, após a leitura, passar novamente pelas páginas e analisar com calma cada ilustração.

Com 232 páginas, capa dura, formato grande 21x28,5 e tradução de Thiago Ferreira, Sangue Real é uma bela entrada para o universo de Alejandro Jodorowski e mostra tanto a sua capacidade de criar conceitos quanto a avalanche de tabus que ele não abre mão de abordar em seus trabalhos. 

Se você é fã de Game of Thrones e histórias de fantasia, vai adorar Sangue Real.


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