Hellnoir é uma minissérie publicada entre outubro de 2015 e janeiro de 2016 na Itália pela Sergio Bonelli Editore, lançada no Brasil em um único volume pela Editora 85, trazendo a história completa. A trama gira em torno de um detetive particular que vive na cidade que intitula a série, local esse cheio de particularidades bem interessantes.
Escrita por Pasquale Ruju (Cassidy, Dampyr, Dylan Dog) e ilustrada por Giovanni Freguieri (Dylan Dog, Martin Mystère), Hellnoir apresenta ao leitor um mundo sombrio e demoníaco. A cidade que dá nome ao quadrinho é o local para onde vão as pessoas que perderam a vida de forma violenta, uma dimensão onde elas, mesmo mortas, ganham uma espécie de nova vida que é espelhada em suas experiências anteriores. O personagem principal, o detetive particular Melvin Soul, exemplifica isso: assassinado por um matador de aluguel na frente da filha pequena, carrega consigo as dores de partir de forma abrupta enquanto enfrenta dia após dia no mesmo papel que exerceu enquanto estava no mundo, digamos, normal.
A atmosfera é, como o título sugere, inspirada na estética noir. Luzes, sombras e personagens que se equilibram entre construções misteriosas e caricatas, com direito à presença dos estereótipos costumeiros desse tipo de narrativa como o detetive perturbado, a femme fatale sedutora, vilões com planos mirabolantes e uma tensão sexual onipresente. Ruju assume seu apego às fórmulas como uma homenagem aos filmes noir, e, ao admitir isso, ganha a simpatia do leitor mesmo não entregando o mais original dos roteiros.
Melvin é o narrador da história, e junto com ele somos apresentados ao universo de Hellnoir. Uma espécie de inferno abandonado pelo próprio diabo, onde demônios das mais diversas castas se organizaram e construíram uma sociedade muito próxima da que vivemos, mas com doses muito maiores de sordidez, violência e personagens sombrios. A história se passa em duas frentes, fazendo a ligação entre o inferno de Melvin e a realidade, unidos pela investigação conjunta de um crime chocante que se revela, no decorrer das páginas, algo muito maior do que parecia em um primeiro momento.
A narrativa de Ruju traz a competência habitual, ainda que fique abaixo do que ele apresentou em Cassidy. Já a arte de Freghieri é sólida em todas as páginas, com um estilo clássico que enche os olhos e insere pequenas diferenças de traço e ambientação ao variar entre a atmosfera pesada e soturna desta filial do inferno e o clima mais leve, mas não menos tenso, da realidade.
A Editora 85 publicou Hellnoir em uma edição de 388 páginas no formato italiano, com capa brochura, orelhas e artes nas guardas, além de textos introdutórios para cada um dos quatro capítulos escritos pelo próprio Pasquale Ruju, e que nos ajudam a entender melhor a história e os conceitos por trás dela. A tradução de Júlio Schneider, profissional habituado com o universo Bonelli e uma verdadeira lenda entre os leitores brasileiros, apresenta a competência habitual e atesta o pedigree da obra.
Hellnoir é uma história policial com elementos de terror e fantasia, que proporciona uma leitura agradável ao explorar conceitos interessantes e equilibrá-los com os clichês já conhecidos da linguagem noir. Um título interessante e que mostra o quão amplo é o universo da lendária editora italiana.
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