Review: Scorpions – Lovedrive (1979)


Lovedrive
marcou o início da segunda fase da carreira do Scorpions, com a banda  adotando um som mais acessível após a saída do guitarrista Uli Jon Roth. Lançado em 25 de fevereiro de 1979, o sexto álbum dos alemães chegou às lojas cerca de um ano após o “Hendrix alemão” deixar o quinteto. Para o lugar de Roth a banda chamou Matthias Jabs, dando início à formação que é considerada a mais clássica de sua história: Klaus Meine, Rudolf Schenker, Matthias Jabs, Francis Buchholz e Herman Rarebell.

Há um ingrediente a mais em Lovedrive, no entanto. Michael Schenker, irmão de Rudolf e então recém desligado do UFO, participou do álbum em uma situação não muito bem resolvida, flutuando entre convidado e integrante definitivo. Michael tocou em cinco das oito faixas, com a sua guitarra sendo ouvida em “Another Piece of Meat, “Coast to Coast”, “Holiday”, “Loving You Sunday Morning” e na música título. O resultado foi tão bom que a banda chegou a pensar em seguir com Michael e romper a então nascente relação com Jabs, mas a pressão de Matthias por uma decisão definitiva e o famoso temperamento imprevisível do Schenker mais facilitaram a decisão, com a participação ficando restrita ao disco e Matthias Jabs sendo efetivado na função.

Os fãs do Scorpions costumam se dividir entre aqueles que preferem o período com Uli Jon Roth e os que gostam mais da fase que veio a partir de sua saída, porém uma coisa é indiscutível: Lovedrive é um dos melhores trabalhos da banda alemã. Há uma enorme mudança na abordagem musical, com o grupo focando em um som mais acessível e com profusão de melodias, o que contrasta com o hard dos tempos de Roth, bastante influenciado por nomes lendários do gênero e com uma presença constante de elementos psicodélicos. Foi em Lovedrive que o mundo foi apresentado ao lado mais universal da música do Scorpions, que abriu mão dos devaneios brilhantes de Roth em favor de uma sonoridade mais fácil de ser assimilada por um público muito maior, porém não necessariamente menos interessante e criativa.

A mudança de rota se provou acertada através dos números de venda do disco, que chegou na posição 55 da Billboard, melhor performance comercial dos alemães até aquele momento. Foram mais de um milhão de cópias vendidas nos Estados Unidos, preparando o terreno para a popularidade crescente que a banda conquistaria nos álbuns seguintes.


Lovedrive
é lembrado também por uma característica marcante, recorrente e não necessariamente positiva do Scorpions: as capas com gosto duvidoso. A capa do disco mostra um homem e uma mulher sentados no banco traseiro de um carro, com o homem puxando um chiclete colado em um dos seios da modelo. Na contracapa, a mesma imagem evolui, agora com o seio totalmente desnudo. O conceito foi criado por Storm Thorgerson, do estúdio Hipgnosis, famoso por seu trabalho com bandas como Pink Floyd e Led Zeppelin. Isso causou um problema nos Estados Unidos, com as edições americanas saindo com a capa alterada mostrando apenas um grande escorpião e o logo do grupo. A arte original só foi retomada nos EUA anos mais tarde.

As oito faixas de Lovedrive formam um dos tracklists mais coesos da discografia do Scorpions. O álbum é fortíssimo, com clássicos que entraram para a história do grupo como “Loving You Sunday Morning”, as violentas “Another Piece of Meat” e “Can’t Get Enough”, a instrumental “Coast to Coast” e a balada “Holiday”. A banda ainda brinca com o reggae na ótima “Is There Anybody There?”, embarca em um hard rock classudo na faixa título e entrega outra balada lindíssima, “Always Somewhere”, essa aproximando-se perigosamente de plagiar a clássica “Simple Man”, do Lynyrd Skynyrd.

Lovedrive foi o ponto inicial da uma nova fase do Scorpions que renderia álbuns como Blackout (1982) e Love At First Sting (1984), responsáveis por transformar a banda alemã em um dos nomes mais populares do hard rock da década de 1980 ao refinar uma fórmula que equilibrou com precisão canções pesadas e baladas cativantes.


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