Quadrinhos: O Perfume do Invisível, de Milo Manara (2024, Comix Zone)


O italiano Milo Manara, hoje beirando os oitenta anos, é um dos grandes ilustradores da história dos quadrinhos. Sua obra é extensa e possui colaborações com os mais variados escritores, indo de Hugo Pratt (o criador de Corto Maltese) a Federico Fellini (um dos mais lendários cineastas de todos os tempos), de Neil Gaiman (o criador de Sandman e um dos roteiristas mais celebrados dos quadrinhos) a Alejandro Jodorowsky (o prolífico roteirista chileno que escreveu diversos clássicos das HQs como Bouncer, Juan Solo e Incal). A obra de Manara é marcada por um forte apelo sexual e erótico, e ainda que ele tenha desenvolvido trabalhos que fujam disso, seu nome é lembrado principalmente por essas características.

O Perfume do Invisível foi publicado originalmente em 1986 na Itália e não é inédito no Brasil. O título teve a sua primeira parte publicada por aqui em 1987 pela Martins Fontes, enquanto a segunda saiu em 1996 pela L&PM. Em 2011, a editora Conrad reuniu os dois volumes em uma única edição. Treze anos depois, e com direito a uma tentativa frustrada de publicação via financiamento coletivo pela Mythos em 2018, O Perfume do Invisível volta ao Brasil pela Comix Zone em uma edição em formato europeu 21x28,5, capa dura e 112 páginas, com direito a introdução escrita pelo próprio Mila Manara. A tradução é de Fernando Paz, e a edição apresenta o excelente nível gráfico pelo qual a editora é conhecida.

O que Manara faz em O Perfume do Invisível é uma adaptação do clássico O Homem Invisível, de H.G. Wells, obra do escritor britânico publicada originalmente em 1897 e que foi responsável por eternizar em suas páginas as fantasias e medos que sentimos em relação a alguém que não podemos ver. Manara traduz a ideia de Wells sob o ponto de vista do erotismo, campo que domina como poucos, inserindo assim a questão sexual na equação original.


A obra é dividida em duas histórias, que se unem por um personagem em comum. A primeira parte é muito superior, um conto bem desenvolvido por Manara, que entrega páginas belíssimas como de costume e com um fortíssimo apelo sexual. O italiano brinca com o que não podemos ver, e, ao fazer isso, coloca a imaginação do leitor como parte essencial da experiência. O resultado é um trabalho excelente e que faz jus ao status que possui, já que O Perfume do Invisível é citado diversas vezes como uma das grandes histórias da vasta bibliografia do ilustrador – e aqui também roteirista – italiano. Já a segunda parte é claramente inferior, com uma trama um tanto confusa e que tenta inserir aspectos políticos em uma história que, convenhamos, não pede essa abordagem. Passa longe de ser ruim e tem a arte sempre magnífica de Manara, mas, em comparação com a primeira, percebe-se claramente que o resultado final é inferior.

O Perfume do Invisível é uma HQ para o público adulto, com diversos momentos de sexo em suas páginas, incluindo ilustrações explícitas. Manara faz tudo com um grande apelo erótico, e, ao colocar a imaginação do leitor como parte vital da narrativa, acerta em cheio. Ainda que exista uma queda na segunda parte da trama, isso não compromete o resultado final e pode ser, convenhamos, apenas uma opinião pessoal de quem assina essa resenha.

Pra tirar a dúvida, nada melhor do que ler e chegar à sua própria conclusão.

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