O Fugitivos da FEMA foi formado em 1995 na periferia da São Paulo e trazia o futuro escritor Ferréz nos vocais ao lado do guitarrista Celson, do baixista BL e do baterista J.K.B. executando um punk rock repleto de raiva e com letras com forte teor político e social, característica que Ferréz aprofundaria ainda mais nos livros que publicaria nos anos seguintes.
O FEMA presente no nome da banda faz alusão a uma teoria da conspiração que acredita que a Federal Emergency Management Agency (Agência Federal de Gestão de Emergências), agência do governo norte-americano subordinada ao Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos, espalhou um número considerável de caixas plásticas especiais semelhantes a caixões por diversas regiões dos EUA, como uma medida de precaução em caso de grandes desastres que poderiam gerar um número enorme de vítimas civis.
A banda lançou apenas uma fita-cassete trazendo um ensaio, e acabou se separando. Passados mais de vinte e cinco anos, Ferréz, hoje um dos escritos mais cultuados do Brasil, decidiu reativar o Fugitivos da FEMA e convidou o guitarrista Lúcio Maia (Nação Zumbi, Soulfly), o baixista Formigão (Planet Hemp) e ao baterista Boka (Ratos de Porão) para a nova encarnação do grupo. O quarteto gravou duas músicas, “Vou Cancelar Minha Fé” e “É Nojo Mesmo”, reunidas em um compacto lançado em 2021. O material vem em capa dupla, LP de 7 polegadas na cor vermelha e encarte com as letras, além de um acabamento gráfico impecável. O lançamento é da Unleashed Noise Records, e ambas as faixas estão disponíveis também no canal do projeto no YouTube.
Ambas as faixas seguem o passado punk do projeto. “Vou Cancelar Minha Fé” conta com participação de Fernando Badauí, vocalista do CPM 22, que divide os vocais com Ferréz no refrão e tem o seu momento solo mais à frente. Chama a atenção a forma como Ferréz canta a faixa, de forma mais declamada, e também o solo de Lúcio Maia. Uma pedrada! Já “É Nojo Mesmo” é uma espécie de rap com base super pesada, com letra com forte apelo político e um discurso anti-bolsonarismo, com o ex-presidente sendo definido de forma precisa como um “psicopata cultural”, entre outros adjetivos.
O resultado de ambas as canções é ótimo, e seria interessante se o Fugitivos da FEMA gerasse mais frutos além deste compacto. Os músicos envolvidos são experientes e a química do quarteto flui naturalmente. Claro que todos possuem as suas bandas principais e prioridades, assim como Ferréz, que além de escritor é um dos editores e proprietários da Comix Zone, uma das melhores editoras de quadrinhos em atividade no Brasil.
Mas que fica um gostinho de quero mais ao final da audição, isso fica.
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