Quadrinhos: Dylan Dog & Dampyr, de Roberto Recchioni e Mauro Boselli (2024, Mythos)


Publicado originalmente pela Bonelli na Itália em agosto de 2018, o crossover entre Dylan Dog e Dampyr finalmente chegou ao Brasil. A história reúne os dois personagens do universo mais sombrio e assustador da editora italiana, o investigador do pesadelo Dylan Dog e o caçador de vampiros Dampyr, em uma trama que foi aclamada pelos fãs desde o primeiro momento.

Lançada originalmente em dois volumes, nas edições 371 da revista de Dylan Dog e no número 209 de Dampyr – ambas inéditas no Brasil -, a história é escrita por dois roteiristas que dominam como poucos os personagens: Roberto Recchioni (editor de DyD, aqui com a colaboração de Giulio Antonio Gualtieri) e Mauro Boselli (criador de Dampyr). É interessante perceber as diferenças não só entre as personalidades dos personagens, mas também na forma como os universos de ambos foram desenvolvidos. Enquanto Dylan se desenvolveu através de edições cativantes mas que pouco se apegam à cronologia, Dampyr possui uma abordagem mais rígida e entrega um universo cheio de regras onde os personagens sofrem as consequências de seus atos. Em ambos os casos, o trabalho foi e continua sendo feito com o alto nível que é padrão nos títulos da Bonelli, mostra que não existe um jeito certo de desenvolver um personagem e que o mais importante sempre será o talento e a criatividade dos autores.

O que lemos neste crossover é uma história iniciada a partir do encontro de Dylan com a bela Lagertha, serva do super poderoso arquivampiro Lodbrok, que procura o investigador do pesadelo para impedir que seu mestre cometa um ato que pode destruí-lo. Ao mesmo tempo, Dampyr e seus parceiros Tesla e Kurjak estão caçando Lagertha, o que provoca um inevitável confronto. É impossível não citar a inspiração na série Vikings, tanto de Lagertha como de Lodbrok (na série, chamado de Lothbrok), não só nos nomes como também na composição visual, além da presença de coadjuvantes que são reencarnações dos lendários guerreiros escandinavos. Vale citar que essa é uma característica recorrente na Bonelli, e tanto Dylan Dog quanto Dampyr não são exceção – o primeiro teve suas feições baseadas no ator Rupert Everett, e o segundo no também ator Ralph Fiennes.


Correta e até certo ponto inevitável, a escolha por colocar vampiros como o centro da trama faz com que a história, em certos momentos, pareça um roteiro de uma edição da revista do caçador de vampiros com participação especial do investigador do pesadelo. Isso não chega a ser um problema, e com exceção de uma pequena citação a confrontos passados entre Dampyr e um dos personagens citados, também não demanda um conhecimento prévio a respeito dos dois protagonistas. A trama é cheia de ação e com um ritmo constante, prendendo o leitor até o final.

É preciso destacar a arte de Daniele Bigliardo na primeira história, sempre com o belíssimo preto e branco que estamos acostumados no universo da Bonelli, aqui enriquecido com um trabalho de sombreamento e pelo uso exemplar dos tons de cinza, o que imprime mais profundidade e dramaticidade ao traço. Na segunda história os desenhos são de Bruno Brindisi e também são muito bonitos, mas seguem o padrão mais clássico da editora.


Como cereja do bolo, a relação entre os coadjuvantes Groucho, Tesla e Kurjak proporciona diversos momentos divertidos, com o falastrão e piadista assistente de Dylan contrastando com a figura séria e durona de Kurjak e encantando com a misteriosa Tesla, vampira repleta de nuances que é um dos destaques de Dampyr.

A edição publicada pela Mythos vem no formato italiano 15x21 em capa brochura, traz artes nas guardas e orelhas com textos complementares, tem 212 páginas e inclui uma ótima entrevista com Recchioni e Bonelli que nos ajuda a entender como este aguardado encontro foi desenvolvido e quais foram as motivações dos autores.

Dylan Dog & Dampyr é uma leitura altamente recomendada para quem gosta de histórias de ação com elementos sobrenaturais e de terror, e funciona também como porta de entrada para os universos de seus dois protagonistas.

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