Review: The Black Crowes – Happiness Bastards (2024)


O The Black Crowes foi uma das maiores bandas dos anos 1990 e 2000, e, principalmente durante a década de noventa, talvez a grande responsável por manter a chama do rock clássico viva e forte em uma época dominada pela energia e juventude do grunge, pelas inovações do metal alternativo, pelo nascimento do nu metal e pelo apelo universal do Britpop. A banda dos irmãos Robinson contrastava com tudo isso ao entregar um rock and roll embebido em influências como Led Zeppelin, Allman Brothers e The Faces.

O resultado foi uma carreira marcada por grandes álbuns, notadamente o clássico The Southern Harmony and Musical Companion (1992), um clássico atemporal e que até hoje soa impressionante. Porém, as rusgas entre entre Chris e Rich Robinson fizeram a banda passar por momentos de ausência e hiatos, culminando com o encerramento das atividades em 2015. E, por mais que tanto o vocalista quanto o guitarrista tenham entregado trabalhos de qualidade em seus projetos seguintes, a lisérgica Chris Robinson Brotherhood e a classuda Magpie Salute, nada chegou nem perto da magia do The Black Crowes.

Por isso, o retorno da banda aos palcos em 2019, mesmo que em um primeiro momento com uma formação não tão azeitada, foi saudada pelos fãs, que agora ganharam também um novo álbum pra selar de vez a volta. Happiness Bastards sai quinze anos após Before the Frost ... Until the Freeze (2009), período que, nos corridos tempos atuais, soa quase como uma vida. Com o baixista Sven Pipen também de volta ao grupo, o sexteto é completado pelo excelente guitarrista argentino Nico Bereciartúa, pelo tecladista Erik Deutsh e pelo baterista Brian Giffin.

Produzido por Jay Joyce (Eric Church, Coheed and Cambria, Brothers Osborne), Happiness Bastards traz dez músicas inéditas, todas compostas por Chris e Rich, além da participação de Lainey Wilson, cantora country americana que dá um ar bem legal para “Wilted Rose”. Ainda que as autorreferências marquem presença em alguns momentos – “Wanting and Waiting” soa como uma atualização da clássica “Jealous Again”, por exemplo -, o disco irá agradar em cheio quem estava faminto por um novo álbum dos Crowes após uma década e meia sem material inédito.

Os destaques vão para “Cross Your Fingers”, a já citada “Wilted Rose” (uma balada country de levar lágrimas aos olhos), “Bleed It Dry”, “Dirty Cold Sun” e “Follow the Moon”. Chris Robinson está cantando muito bem, sua voz ficou mais marcada pelo tempo e isso imprimiu ainda mais autenticidade a interpretações que sempre primaram por serem genuinamente carregadas de feeling. Já Rich conduz a banda através dos riffs de sua guitarra, usa o slide com propriedade e encontrou em Bereciartúa uma espécie de novo Mark Ford, parceiro das seis cordas nos tempos áureos dos corvos.

Happiness Bastards é um dos grandes discos de 2024, e um retorno digno de ser saudado pelos fãs e por todo o universo do rock.

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