Review: Charlie XCX – Brat (2024)


Para se destacar no mercado musical é preciso criar uma identidade. E essa é uma verdade ainda mais forte na música pop, tradicionalmente habitada por fenômenos efêmeros e caracterizada pela ferocidade com que abraça novidades e o apetite com que as empurra pra baixo do tapete assim que um novo fenômeno toma o lugar do anterior. Nessa selva, conseguir construir uma carreira é um feito para poucos.

Charlie XCX é uma artista inglesa que está na estrada desde 2008. Brat, seu novo disco, é o sexto trabalho da britânica. Lançado no início de junho, traz um pop dançante com características vindas diretas dos clubes noturnos, o que se traduz em canções que, em sua maioria, foram concebidas para balançar o corpo. De modo geral, dá pra colocar Brat dentro do hyperpop, gênero relativamente recente e utilizado para definir artistas que integram o pop a elementos inovadores de avant-garde, dance music e eletrônica. Ainda que passe longe da criatividade desconcertante de Björk ou até mesmo das imaginativas canções de Melaine Martinez, Charlie XCX entrega algo claramente diferente de sua conterrânea Dua Lipa, por exemplo, que se coloca como sucessora natural de grandes artistas femininas do pop que descendem de forma direta da rainha de todas, a imortal Madonna. O lance de Charlie é outro, e ouvir Brat é um exercício interessante neste sentido.

Há colagens, batidas irresistíveis, refrãos fortes e soluções muitas vezes não convencionais, o que imprime um certo ar de exotismo às canções. Porém, isso é feito de forma sutil para não afastar o grande público e na medida certa para não classificar a inglesa como uma artista exótica. O resultado, no fim das contas, é um pop com identidade e força para se destacar na realidade descrita no primeiro parágrafo deste review. Entre as músicas, destaque para a abertura com “360”, o pop puro de “Talk Talk” e “I Think About It All the Time”, o clima rave de “Von Dutch”, a bela performance vocal da igualmente bonita “So I”, os ecos de Kylie Minogue em “Apple”, a força de “Mean Girls” e o encerramento com a poderosa “365”.

Se Brat resistirá ao teste do tempo, só o tempo poderá dizer. Mas que o álbum se destaca do pop sem sal e genérico que floresce como praga ano após ano, disso não há dúvida.



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