Pelo menos aos meus ouvidos, os primeiros anos da carreira solo de Robert Plant não alcançaram as altas expectativas que se esperava do vocalista do Led Zeppelin. Na verdade, olhando em retrospectiva, nem Plant, nem Jimmy Page e nem John Paul Jones conseguiram, pelo menos na primeira década após o encerramento das atividades da lendária banda inglesa, gravar álbuns que atendessem o que se imaginava que eles pudessem produzir.
No caso de Plant, o jogo começou a virar com a entrada da década de 1990. Ainda que seus quatro primeiros discos solo – Pictures at Eleven (1982), The Principle of Moments (1983), Shaken 'n' Stirred (1985) e Now and Zen (1988) – tenham entregado boas canções e alcançado altas posições nas paradas, foi só com Manic Nirvana (1990) que o vocalista efetivamente conseguiu chamar a minha atenção para a sua carreira pós-Zeppelin.
Mas o ponto de virada definitivo foi Fate of Nations, sexto álbum de Plant, lançado em maio de 1993 e puxado pelo seu maior hit até hoje, “29 Palms”. Esta música tocou sem parar na época e até hoje é reconhecida já nos primeiros acordes. Fate of Nations acaba de ser relançado em CD no Brasil pela Wikimetal/Warner, e este é um ótimo motivo para falar sobre um dos melhores trabalhos solo de Plant.
Além de “29 Palms”, o álbum possui outras fortes canções como a abertura “Calling to You”, que revisita as experimentações orientais tão comuns ao Led Zeppelin e que dariam o tom da reunião de Robert com Jimmy Page no ano seguinte em No Quarter, álbum ao vivo que entregou novas versões para clássicos da banda. “Down to the Sea” antecipa os caminhos que Plant tomaria em discos futuros, ao inserir elementos de world music à mistura. Um certo exotismo hindu dá o tom de “Memory Song (Hello Hello)”, enquanto a versão para a clássica “If I Were a Carpenter”, clássico folk composto e gravado por Tim Hardin, mostra que Plant nunca perdeu a enorme classe como intérprete. O delicioso blues torto “Promissed Land” é desconcertante, enquanto “Great Spirit” é um deleite para os ouvidos com a sua mistura entre sensualidade e espiritualismo. O disco se encerra com “Network News”, que poderia ter se tornado um hit caso tivesse sido trabalhada pela gravadora. A edição da Wikimetal ainda traz cinco faixas bônus, incluindo a linda “Colours of a Shade”, antes presente apenas na versão inglesa do álbum.
Após a reunião com Jimmy Page, que renderia também o disco de inéditas Walking Into Clarksdale (1998), Robert Plant retomaria a sua carreira solo apenas em 2002 com Dreamland, mergulhando de forma progressiva em sonoridades cada vez mais exóticas ao mesmo tempo em que iniciava uma parceria extremamente frutífera com a norte-americana Alison Krauss e que rendeu ao menos uma obra-prima, o belíssimo Raising Sand, lançado em 2007. Em sua carreira solo, recebeu a aclamação devida com o magistral Band of Joy (2010) e seguiu entregando trabalhos muito bons e originais como Lullaby and the Ceaseless Roar (2014) e Carry Fire (2017), afastando-se definitivamente da enorme sombra do Led Zeppelin.
Fate of Nations é um dos melhores álbuns de uma das vozes mais icônicas do rock. Penso que já são motivos suficientes para você parar o que está fazendo e dar uma chance para o disco.
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