Review: Overkill – I Hear Black (1993)


I Hear Black, sexto álbum do Overkill, difere dos outros discos da banda norte-americana por apresentar uma sonoridade mais groovada e andamentos mais lentos em relação ao thrash metal acelerado e tradicional do grupo. Lançado no início de março de 1993, apresenta influência do cenário metálico que os Estados Unidos viviam na época, com a explosão de popularidade do Metallica proporcionada pelo sucesso global do Black Album (1991) somada à nascente cena de bandas que estavam turbinando o thrash com doses cada vez maiores de groove, como Pantera, White Zombie e Prong.

Produzido por Alex Perialas (Testament, Vio-lence, Pro Pain) e pelo próprio grupo, o álbum apresenta onze faixas e foi a estreia do quinteto na Atlantic. O próprio título, de certa maneira, sinaliza de forma nem tão sutil essa mudança de direção, já que I Hear Black parece apontar de forma direta para a influência que o disco de maior sucesso da banda de James Hetfield e Lars Ulrich teve sobre o trabalho.

Apesar da resistência dos fãs mais ortodoxos, I Hear Black envelheceu muito bem e se destaca não apenas pelos motivos citados, mas também pela qualidade de suas canções. Os temas são mais sombrios, e é possível ouvir até mesmo uma certa inspiração no Black Sabbath. O álbum abre com “Dreaming in Columbian”, faixa que não contrasta tanto com o que a banda havia feito até então. De cara fica evidente a ótima produção, com o baixo de D.D. Verni bem evidente na mixagem. Já a música título não esconde a inspiração no Black Album, vem com um andamento mais cadenciado e até mesmo trejeitos que remetem ao Metallica – na verdade, não é difícil imaginar a voz de James no lugar do timbre característico de Bobby “Blitz” Ellsworth. Uma canção que, apesar de acessível, passa longe de ser descartável. “Feed My Head” vai no mesmo caminho, inclusive com o baterista Tim Mallare tocando batidas similares as de Lars.

A banda abre espaço para algo bem diferente em “Shades of Grey”, uma canção que se assemelha a uma balada, algo que o quinteto raramente fez em sua carreira. O resultado pode dividir opiniões, mas pessoalmente confesso que gostei. Já “Spiritual Void” é bem Black Sabbath e traz um riff com o DNA de Tony Iommi, além de um andamento cadenciado e grande interpretação vocal de Bobby. Uma das melhores do disco.

O álbum se encaminha para o final com a instrumental “Ghost Dance”, que prepara o terreno para a faixa mais tradicional de I Hear Black. “Weight of the World” é um thrash poderoso e rápido que transborda energia e agrada de imediato. “Ignorance and Innocence” retoma o direcionamento predominante do trabalho, com direito a muito peso e um refrão curto e direto. A anêmica “Undying” é, provavelmente, a faixa mais fraca, e o disco acaba em grande estilo com “Just Like You”.

I Hear Black ampliou a base de fãs do Overkill e surfou na onda de popularidade que o metal vivia na época, alcançando a posição 122 no Billboard 200 e o terceiro lugar da Billboard Heatseekers. O álbum era inédito no Brasil em qualquer formato, e ganhou uma edição caprichada em CD slipcase pela Wikimetal, trazendo encarte de dezesseis páginas com as letras. Uma bela oportunidade para redescobrir o trabalho mais diferente de toda a longa discografia do Overkill.


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