Review: Uriah Heep – Demons and Wizards (1972)


Quarto álbum do Uriah Heep, Demons and Wizards transformou a banda inglesa em um dos principais nomes do hard dos anos 1970 e é a grande referência da extensa discografia do grupo, que segue na ativa e em 2023 lançou o seu vigésimo quinto trabalho de estúdio, Chaos & Colour.

Sucessor do marcante Look At Yourself (1971), Demons and Wizards chegou às lojas em maio de 1972. A produção foi assinada por Gerry Bron, que havia trabalhado com a banda nos álbuns anteriores e seguiria com o grupo até Conquest (1980). O disco marcou a estreia do baixista Gary Thain, que passou a integrar de forma permanente o quinteto formado por David Byron (vocal), Mick Box (guitarra), Ken Hensley (teclado, guitarra e vocal) e Lee Kerslake (bateria). Mark Clarke, baixista que integrou a banda brevemente entre 1971 e 1972, toca e assina, em parceria com Hensley, a magnífica música de abertura, a clássica “The Wizard”.

Em uma comparação ligeira, o som do Uriah Heep sempre apresentou uma certa similaridade com o Deep Purple, ainda que a banda explorasse elementos mais épicos e progressivos enquanto a turma de Ritchie Blackmore foi por caminhos mais pesados e com influência de música erudita. O que liga essas sonoridades bastante distintas é o protagonismo do teclado, instrumento central tanto no Uriah Heep quanto no Deep Purple. Ken Hensley era o maestro, e conduziu o quinteto inglês por álbuns majestosos como The Magician’s Birthday (lançado também em 1972), o já citado Look At Yourself e o próprio Demons and Wizards.

O disco traz nove faixas e forma, provavelmente, o tracklist mais consistente de toda a discografia do Uriah Heep. “The Wizard” abre o trabalho com um belo dedilhado de violão que evolui para uma composição grandiosa cantada de forma magnífica por David Byron. A guitarra de Mick Box introduz “Traveller in Time” com um belo riff, e a canção, que é excelente e varia entre momentos de luz e sombra, se transformou quase que de forma instantânea em um dos maiores clássicos da banda, com solos incendiários de Box e Hensley. “Easy Livin’” é o grande hit da carreira do Uriah Heep, e em pouco mais de dois minutos e meio condensa todas as qualidades do grupo. “Poet’s Justice” é introduzida por belos arranjos vocais e pela bateria de Lee Kerslake, e evolui para uma canção que equilibra traços de hard e prog de forma cirúrgica, com direito a lindas melodias vocais e uma interação insana entre a guitarra e o teclado, mais uma vez.

“Circle of Hands” é uma das faixas mais progressivas do álbum, e seus mais de seis minutos trazem a banda transitando por diferentes dinâmicas, tudo construído por um excelente arranjo e com direito a dois lindos solos de Mick Box, além de David Byron brilhando nos vocais. O clima prog se mantém em “Rainbow Demon”, mais uma vez com o teclado de Ken Hensley funcionando como condutor, neste caso através de uma canção fortemente atmosférica e altamente viajante, na melhor tradição da década de 1970. “All My Life” é a canção “patinho feio” do álbum, funciona dentro do contexto mas não acrescenta muito no resultado final. O grande fechamento vem com a dobradinha “Paradise” e “The Spell”, que se unem em uma grande suíte de quase treze minutos em que a banda parece passear em um mundo à parte, repleto de cores e sentimentos intensos.

O álbum nunca havia sido lançado em CD no Brasil, todas as edições nacionais foram apenas em LP. Isso foi corrigido pela Wikimetal, que colocou no mercado uma edição dupla em digipack que traz o álbum completo e um CD extra com versões alternativas e até então inéditas para as canções do disco, incluindo faixas que não entraram no tracklist final como “Home Again to You”, “Why”, “Proud Words” e “Green Eye”. O material inclui também um encarte de vinte páginas com fotos e textos inéditos.

Demons and Wizards é o álbum definitivo do Uriah Heep, e a edição lançada pela Wikimetal faz jus à sua grandeza e importância.


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