Conhecida pela publicação de biografias de artistas e bandas, a Estética Torta também possui projetos próprios e que vão além de trazer para o Brasil obras de autores estrangeiros. Um dos principais títulos do catálogo da editora, inclusive, é um destes exemplos, e trata-se de Andre Matos – O Maestro do Heavy Metal, livro escrito por Eliel Vieira e Luis Aizcorbe, uma obra excelente e merecedora de todos os elogios.
Outra das inciativas de produzir material próprio também aborda o vocalista do Viper, Angra e Shaman, e é Andre Matos – A Obra, da dupla Clovis Roman e Gustavo Maiato. O propósito aqui é analisar todas as letras escritas por Andre nas bandas e projetos pelos quais passou e também em seus álbuns solo, revelando contextos, curiosidades e significados através da interpretação dos autores, que se debruçaram sobre 94 composições presentes em 13 discos – Soldiers of Sunrise e Theatre of Fate do Viper; Angels Cry, Holy Land e Fireworks do Angra; Ritual e Reason do Shaman; o único álbum do Virgo, projeto de Andre com o guitarrista e produtor Sasha Paeth; Time to Be Free, Mentalize e The Turn of the Lights, seus álbuns solo; e In Paradisum, único disco do Symfonia, com o guitarrista do Stratovarius, Timo Tolkki.
Andre Matos – A Obra monta um panorama muito interessante e singular sobre toda a produção lírica de um dos maiores músicos que o Brasil já ouviu. É raro encontrar uma obra com proposta semelhante, e isso por si só já é motivo de aplausos. A leitura proporciona um entendimento muito maior a respeito das visões de mundo de Andre, com um mergulho em sua filosofia de vida e nos temas que o fascinavam. Cada canção possui um texto contendo curiosidades e bastidores sobre o processo de composição, material vindo de entrevistas concedidas pelo vocalista ao longo da vida, além de seus parceiros e companheiros de banda. Esses textos incluem também as interpretações de Roman e Maiato. A letra traduzida de cada canção vem na sequência, para que o leitor possa ter contato com o discurso de Andre e chegar às suas próprias interpretações. No entanto, senti falta de o livro trazer também as letras originais em inglês, pois me parece que a obra ficaria mais completa se assim o fizesse.
Apesar do mérito em abordar a obra lírica de Andre Matos de forma tão abrangente, algumas lacunas me chamaram a atenção. As análises das letras, em diversos momentos, parecem superficiais e apressadas, o que contrasta com a promessa de uma análise minuciosa. A ausência de um aprofundamento nos aspectos musicais das canções também é sentida, uma vez que música e letra são elementos indissociáveis. Além disso, algumas letras de Andre Matos carregam significados mais profundos e pessoais, que poderiam ter sido explorados com maior profundidade, enriquecendo a compreensão da obra como um todo.
Mesmo com os pontos criticados, Andre Matos – A Obra tem um resultado final positivo e é indicado para toda pessoa com curiosidade de saber mais sobre a obra de um dos maiores músicos do metal brasileiro. Ainda que, pelas questões apontadas, não seja um livro do mesmo nível que Andre Matos – O Maestro do Heavy Metal, funciona como leitura complementar à biografia do vocalista.
Andre Matos – A Obra foi publicado em edições com capa dura e brochura, ambas com 528 páginas e com uma bela foto de Claudia Ehrdhardt na capa. O livro contém um prefácio escrito por Felipe Machado, guitarrista do Viper, e um posfácio de Hugo Mariutti, guitarrista do Shaman e que acompanhou Andre em seus álbuns solo.
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