Quadrinhos: A Cegueira Iminente de Billie Scott, de Zoe Thorogood (2023, Conrad)


Em A Cegueira Iminente de Billie Scott conhecemos a história de uma jovem e promissora artista plástica que tem a sua nascente carreira comprometida quando, após um evento traumático, recebe o diagnóstico de que perderá a visão em apenas duas semanas. Querendo deixar um legado, Billie começa então uma produção frenética para produzir suas obras derradeiras. A HQ é o trabalho de estreia da quadrinista inglesa Zoe Thorogood e foi publicada em 2020 na Europa e Estados Unidos, com a edição brasileira saindo em 2023 pela Conrad Editora no formato 21x28, 160 páginas e com tradução de Andressa Lelli.

A arte de Billie, inicialmente baseada na visão, se transforma em um canal de expressão mais íntimo e profundo. O diagnóstico a força a explorar outras dimensões da criação artística, principalmente a sua memória. A obra nos mostra como a arte pode ser uma ferramenta poderosa para dar sentido ao mundo, independentemente das limitações físicas.  

A cegueira, além de um fato biológico, pode ser interpretada como uma metáfora para diversas situações da vida. Zoe explora essas possibilidades explorando temas como a perda de um sonho, o medo do desconhecido e a busca por um novo significado, aspectos que são aprofundados ao longo do quadrinho.

O roteiro possui muitos elementos autobiográficos, como admitido pela própria Zoe em É Solitário no Centro da Terra, seu segundo trabalho autoral, também publicado pela Conrad. O isolamento de Billie, a fobia social, o comportamento errático da protagonista e o próprio modo como Billie vê o seu papel no mundo, sempre acompanhada por características da síndrome do impostor, são elementos comuns com a própria autora, que além do incrível talento tem marcado a sua carreira por uma transparência poucas vezes vista ao admitir seus problemas, sonhos e medos. Billie é Zoe, Zoe é Billie, e as duas são personagens complexas e cativantes.




Zoe Thorogood mostra uma arte cheia de personalidade em A Cegueira Iminente de Billie Scott, diferente do que faria nos seus trabalhos seguintes. A paleta básica é formada por tons de cinza e laranja, como exemplificado na capa, porém com o uso pontual de tons como azul, verde e amarelo para acentuar momentos narrativos. Seu traço aqui é mais underground e não tão refinado como o que encontramos em Rain e É Solitário no Centro da Terra, e este aspecto acaba contribuindo para transmitir uma autenticidade maior para a obra.

A história de Billie Scott é um testemunho da força do espírito humano. A protagonista demonstra uma resiliência incrível, superando obstáculos e reinventando a si mesma. A obra nos inspira a acreditar que é possível encontrar a felicidade e a realização, mesmo diante das maiores adversidades. O papel da arte na vida das pessoas, seja ela a protagonista, os personagens que a cercam ou o próprio leitor, é o foco principal da HQ, o que faz de A Cegueira Iminente de Billie Scott uma obra rica em nuances e significados, que nos convida a refletir sobre a vida, a superação e a importância das relações humanas.


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