Quadrinhos: A Piada Mortal (DC de Bolso), de Alan Moore e Brian Bolland (2024, Panini)


Escrita por Alan Moore e ilustrada por Brian Bolland, A Piada Mortal é uma das histórias mais aclamadas e controversas do universo do Batman. Publicada originalmente em 1988, a HQ explora a psicologia do Coringa de forma perturbadora, estabelecendo um novo patamar para a representação desse icônico vilão.

A narrativa gira em torno de um dia na vida do Coringa, no qual ele decide provar sua teoria de que qualquer pessoa pode ser levada ao limite ao viver um dia ruim. Para isso, ele escolhe como alvo o Comissário Gordon, a quem sequestra e tortura, além de levar sua filha, Barbara, a um encontro traumático. A história mergulha na mente doentia do Coringa, revelando um passado nebuloso e explorando os limites da sanidade. Moore constrói um vilão complexo e multifacetado, questionando se o Coringa é um produto de sua própria loucura ou uma vítima das circunstâncias.

A Piada Mortal se destaca por seu realismo e tom sombrio, explorando temas como loucura, violência e a fragilidade da mente humana. A história não poupa detalhes nos momentos mais cruéis, com diversas passagens chocantes e perturbadoras. A violência gráfica e explícita presente na história serve como um catalisador para a loucura, tanto do Coringa quanto de suas vítimas. A brutalidade dos atos cometidos pelo vilão desencadeia uma espiral de destruição psicológica, levando os personagens a questionar a própria sanidade. 

A HQ aprofunda a relação entre o Batman e o Coringa, mostrando a intensa conexão e o ódio mútuo entre os dois personagens. A história sugere que, sem um ao outro, ambos perderiam parte de sua identidade, pois são frequentemente vistos como dois lados da mesma moeda. O Batman é atraído pela mente doentia do Coringa, enquanto o Coringa vê no Batman uma força da ordem que ele se diverte em desafiar. A relação entre os dois é um ciclo vicioso de violência e vingança. A Piada Mortal leva essa relação a um novo patamar, explorando até onde a insanidade do Coringa pode chegar e os limites que o Batman está disposto a cruzar, gerando inclusive um debate sobre o final da HQ, ponto de discussão entre os leitores.

A Piada Mortal é uma obra controversa, com muitos críticos argumentando que ela romantiza a violência e apresenta uma visão negativa da natureza humana. No entanto, a história continua sendo um marco nos quadrinhos, gerando debates e análises até os dias de hoje. O próprio Coringa, em uma escala maior, também é suscetível a essa discussão, já que o personagem se transformou em um ícone da cultura pop sendo adorado pelos leitores e por parcelas da sociedade, mesmo com o seu histórico de violência e com milhares de assassinatos nas costas.

Não dá para falar de A Piada Mortal sem elogiar a arte de Brian Bolland, que é inclusive superior ao roteiro de Alan Moore, na minha opinião. Suas ilustrações, com um realismo visceral e um domínio técnico impressionantes, elevam a narrativa a um patamar ainda mais impactante. A sinergia entre o roteiro e a arte é perfeita, criando um universo gráfico tão perturbador e memorável quanto a própria história.

Republicada através da iniciativa DC de Bolso, A Piada Mortal está disponível novamente, agora em um formato mais econômico e com preço acessível, visto que a republicação anterior foi no formato de Edição Absoluta com o valor dez vezes maior do que a DC de Bolso. Vale mencionar que a republicação no formato econômico inclui também O Homem Que Ri, escrita por Ed Brubaker e ilustrada por Doug Mahnke, história tão violenta e perturbadora quanto e que reimagina o primeiro encontro do Batman com o Coringa.

Existem clássicos atemporais dos quadrinhos, e A Piada Mortal é, indiscutivelmente, um deles.


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