Roots (1996): quando o metal se encontrou com a cultura brasileira


Lançado em 20 de fevereiro de 1996, Roots é o sexto álbum do Sepultura e um dos mais icônicos da história do metal. Ele representa uma guinada ousada na sonoridade da banda, incorporando elementos da música indígena brasileira e das culturas afro-brasileiras ao peso característico do thrash e groove metal.

Se nos discos anteriores – Arise (1991) e Chaos A.D. (1993) - o Sepultura já flertava com a experimentação e a cadência do groove metal, Roots leva essa abordagem a um nível inédito. A influência de bandas como Korn e a ascensão do nu metal no período também ajudaram a moldar a sonoridade mais arrastada e densa do álbum, marcada por guitarras afinadas em tons mais graves e uma percussão tribal marcante. Músicas como “Roots Bloody Roots” e “Attitude” demonstram essa mudança, com riffs pesados, distorções carregadas e um ritmo que foge da velocidade do thrash tradicional. Ao mesmo tempo, faixas como “Ratamahatta” exploram a percussão brasileira de maneira rica e autêntica, contando com a participação especial do percussionista Carlinhos Brown.

O grande diferencial de Roots é a fusão da agressividade do metal com a cultura brasileira. A banda viajou para o Xingu e gravou sons e rituais dos índios da tribo Xavante, incorporando esses elementos em faixas como “Itsári”. Esse aspecto torna o álbum uma celebração das raízes culturais do Brasil, algo raríssimo no metal mundial. Além disso, a temática das letras reforça esse conceito. “Roots Bloody Roots” é um hino de resistência e orgulho das origens, enquanto músicas como “Born Stubborn” e “Endangered Species” trazem críticas sociais e ambientais.


Roots
marcou o auge da popularidade do Sepultura, mas também foi o último álbum com o vocalista e guitarrista Max Cavalera. Após sua saída, a banda passou por transformações significativas, mas o impacto do álbum permaneceu. Ele influenciou o metal mundial ao mostrar que era possível misturar música pesada com ritmos regionais de forma autêntica e sem soar artificial.

Com o tempo Roots se tornou um clássico, sendo referência para diversas bandas do metal moderno. Embora alguns fãs mais puristas considerem o disco um afastamento do thrash metal tradicional da banda, ele continua sendo uma obra-prima que redefiniu os limites do gênero.

Roots é uma experiência cultural e sensorial. Ele representa uma declaração poderosa de identidade e criatividade, provando que o metal pode ser tão diversificado quanto as culturas que ele incorpora. Quase três décadas após seu lançamento, continua relevante e com uma sonoridade única, mostrando que suas raízes ainda são fortes.

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