The Satanist (2014): a evolução filosófica e musical do Behemoth


The Satanist
, lançado em 2014, é um marco na carreira do Behemoth e um dos álbuns mais aclamados dentro do black metal. A banda, que já era renomada por sua sonoridade agressiva e temas provocativos, alcança com esse álbum uma profundidade musical e lírica que marca sua evolução artística.

O álbum foi lançado em um momento crucial para o Behemoth, após o vocalista e guitarrista Nergal ter enfrentado uma batalha contra a leucemia, o que o levou a uma introspecção profunda e à reavaliação de sua vida e crenças. Isso se reflete claramente nas letras de The Satanist, que exploram temas de liberdade, autossuficiência, e um confronto com as doutrinas religiosas, especialmente o cristianismo. A obra pode ser vista como uma celebração do satanismo enquanto filosofia de vida, com uma ênfase no simbolismo da autossuficiência e a rejeição das estruturas de poder que se baseiam na opressão religiosa.

O disco, no entanto, não se limita a ser uma mera proclamação de rebeldia; ele tem um tom filosófico e reflexivo, focando na busca pela verdade e na luta interna. O conceito de "satanismo" aqui é mais ligado à ideia de um caminho de autoempoderamento do que uma adoração literal ao diabo.


Musicalmente, The Satanist é uma fusão poderosa de black metal, death metal e elementos de metal progressivo. A produção é incrivelmente refinada, mais limpa e detalhada do que os trabalhos anteriores da banda, sem perder a intensidade que caracteriza seu som. Nergal e os outros membros criaram uma atmosfera densa e sombria, com riffs imponentes, baterias rápidas e variações de tempo que mantêm a energia sempre elevada, alternando momentos de caos com passagens melódicas e quase cerimoniais.

A bateria de Inferno, que já é uma das características mais marcantes da banda, se destaca aqui, com uma técnica impressionante e uma dinâmica que vai da agressividade pura a passagens mais lentas e meditativas, refletindo o contraste entre a destruição e a reflexão presentes nas letras. As guitarras de Nergal e Seth, e o baixo de Orion, são afiadíssimos, criando um clima de tensão constante, enquanto a vocalização de Nergal transita entre o grito gutural e passagens mais limpas e emotivas, que agregam uma camada de complexidade à interpretação das letras.

Faixas como “Blow Your Trumpets Gabriel” e “Ora Pro Nobis Lucifer” exemplificam a grandiosidade do álbum. A primeira mistura o black metal tradicional com influências orquestrais, enquanto a segunda apresenta uma estrutura que se aproxima do doom metal, criando uma sensação de pesar e imersão. Em “The Satanist”, a faixa-título, há uma combinação de melodia e agressividade que simboliza o conflito interno e a busca por uma verdade mais profunda. O álbum também apresenta uma poderosa experimentação sonora, "Messe Noire", que contém elementos de música litúrgica, criando um ambiente ritualístico, como se a música fosse um ato de adoração à liberdade, um tema central na obra.

The Satanist é, sem dúvida, um dos álbuns mais importantes do Behemoth e da cena metal contemporânea. Ele não apenas reafirma a habilidade técnica e criativa da banda, mas também apresenta um nível de introspecção que a torna mais do que uma obra de protesto. Em vez disso, é uma meditação sobre a luta pela autenticidade, pela liberdade individual e pela busca de uma verdade pessoal, com um som que é ao mesmo tempo visceral e esteticamente refinado.


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